Ruínas
de várias casas após um terremoto na cidade de Varzaqan
(Crédito da
foto: AP/Mehr News Agency, Hamed Nazari)
Encontrada em http://www.timesofisrael.com/us-offers-tehran-aid-after-earthquake-leaves-hundreds-dead/
O Google construiu um império baseando-se em hyperlinks. Pode isso vir a salvar a Web/Internet e o jornalismo sério?
No
último mês de Novembro, saí de uma prisão Iraniana após seis anos. A
notícia que mais me chocou após isso? Não foi a conquista do Presidente
Barack Obama em reconhecer o direito do Irã a tecnologia nuclear
pacífica, nem a morte do líder do partido NDP, tampouco o abrupto
desaparecimento da embaixada Canadense em Teerã. Foi a morte da Web como
eu a conheci.
Em
meados de 2000, imigrei para o Canadá, e de um pequeno apartamento
alugado em Toronto, democratizei a escrita em minha terra-natal
introduzindo, facilitando e promovendo os blogs.
Após
o trágico ataque terrorista de 11 de Setembro de 2001, me peguei lendo
diários online para entender o significado daquilo para americanos. Eu
era um jornalista tecnológico no Irã e os blogs me ajudaram a me
reconectar com os leitores de minha coluna diária em um jornal
reformista Iraniano. Comecei meu próprio blog e ajudei muitos leitores
do Irã a começarem o mesmo.
Um
ano após esses acontecimentos, blogar ficou tão na moda no Irã, quanto
hoje em dia são os hipsters e suas barbas; Me nomearam blogfather (um
pai dos blogs). Até mesmo a mídia estatal nutriu isso.
Voltando
para Tehran em Dezembro de 2008, fui escoltado em um carro. Isso foi um
mês após minha prisão, resumidamente, por minhas atividades na
Internet. No rádio do carro, eu ouvi sobre um concurso de blogs chamado
“The Scent of Apple” para comemorar o Imã Hussein, o neto do Profeta
Mohammed e a figura central do Islã Shia. Eu sorri, orgulho por aquele
momento de blogfather.
Seis
anos depois, em Novembro de 2014, fui perdoado pelo Aiatolá Khamenei e
liberto da prisão de Evin. Desde então, vim a perceber que aquilo a que
dediquei muitos anos de minha juventude se foi: Muitos Blogueiros se
moveram para redes sociais, transformando a blogosfera Iraniana em um
cemitério.
O
pior é que Mark Zuckerberg provou não ser um fã de links, ou hyperlinks.
Com o Facebook, ele não encoraja que você crie links. No Instagram, ele
simplesmente os proibiu. Ele está espremendo o hyperlink, portanto,
matando a rede de textos externos interconectada e descentralizada
conhecida por World Wide Web.
O
Facebook gosta que você permaneça nele. Os vídeos já são embutidos no
Facebook, em breve, artigos externos também serão embutidos também, com o
projeto de “Instant Articles” (Artigos Instantâneos). A visão do Sr.
Zuckerberg é a de um espaço insular que consuma toda sua atenção — para
que ele a venda para os anunciantes.
Agora,
com aproximadamente 1.5 bilhões de usuários ativos mensalmente e um
crescimento particular em lugares menos desenvolvidos, o Facebook é a
Internet para muitos — 58% dos Indianos e 55% dos Brasileiros acreditam
que o Facebook É a Internet, de acordo com uma pesquisa publicada pelo
Quartz.
Para
mim, um Rip Van Winkle de 2015, esse espaço linear, centralizado,
passivo e de pro entretenimento, não é a Internet/Web que eu conheci. É
algo muito mais próximo à Televisão.
As consequências disso são graves.
Mais
e mais leitores de mídias digitais estão migrando para o Facebook e
cada vez menos pessoas visitam as páginas da Internet diretamente. Dessa
forma a mídia digital e autores independentes perderam a renda
proveniente de propagandas, e ainda assim, são coagidas a pagar para
“Impulsionar” seus artigos no Facebook para que possam alcançar a sua
real audiência.
A mídia digital foi forçada a gerar histórias tolas e “virais” para sobreviver, causando um golpe severo no jornalismo sério.
E
talvez mais importante, como resultado dessa competição de
popularidade, visões minoritárias cada vez engajam menos pessoas. Isso é
particularmente alarmante em um mundo enfrentando a séria ameaça de
grupos religiosos e nacionalistas radicais. O algoritmo secreto do
Facebook tende a nos abastecer com mais do que já gostamos, reforçando
nossos pontos de vista enquanto reduz nossa exposição a ideias
desafiadoras e divergentes.
A
recente reestruturação corporativa do Google, para se focar em seus
serviços de Internet é uma boa notícia para qualquer um que espere que a
Internet seja qualquer coisa diferente da televisão. O Google construiu
um império intelectual, mesmo que comercial, baseado no poder do
hipertexto. Mesmo com sua busca pelo monopólio e desrespeito pela
privacidade, ele ainda respeita os hyperlinks, uma lei básica da
Internet. E ele tem a capacidade de por fim a essa perigosa tirania do
“popular”.
Ainda
não ouvi de Tim Berners-Lee, que inventou o World Wide Web (A Internet)
para saber quão desapontado ele deve estar. Mas visitei o site do
concurso “Scent of Apple” e descobri que agora eles apenas aceitam
publicações do Instagram ou do Facebook — não mais blogs. É muita
tristeza para este blogfather em Tehran.
Por
mais que eu esteja feliz com o fim da guerra econômica injusta contra o
Irã, após seus acordos nucleares com os poderes mundiais, me parte o
coração a negação da Internet/Web, um dos produtos mais promissores da
inteligência humana de para nossos tempos conturbados.
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Hassein Derakhshan escreve sobre a nova mídia e o Irã em hoder.com e está trabalhando no ‘Link-age’ um projeto da ‘New Media Society’ em Tehran.
Artigo originalmente publicado em www.theglobeandmail.com, compartilhado no ‘Medium’, traduzido e adaptado para o Português aqui, por mim, um escritor tão preocupado quanto o autor desse texto com a “idiotização” que tem moldado a Internet atual.
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