Rodrigo Constantino*
Li todos os livros de Eduardo Giannetti
da Fonseca menos um, que tenho na estante, mas não consegui ainda
concluir. Admiro o pensador, respeito o economista, encontro mais
convergência do que divergência entre nós. Mas a cada novo livro ou
entrevista, principalmente desde que aceitou ser uma espécie de guru
econômico de Marina Silva, sinto que se afasta do liberalismo clássico e
se aproxima do esquerdismo utópico. Infelizmente, Marina parece ter lhe
influenciado mais do que o contrário.
Não li seu novo livro ainda, Trópicos Utópicos,
o que pretendo fazer em breve. Portanto, comento apenas com base na
entrevista às páginas amarelas da VEJA desta semana. Parece que
Giannetti da Fonseca quer criar um modelo todo original e especial com
base em nossa cultura, que não seria exatamente a ocidental, mas uma
diferente, “tropicalista”. Quem assinou o texto de contracapa? Sim,
Caetano Veloso, ou apenas “Caetano”. Creio que isso já diz muito da
guinada que o autor vem dando. Diz ele:
Descobri-me um “mimético”, mas admiro
muitos insights de Gilberto Freire, por exemplo, um leitor que a própria
esquerda deveria ler mais. Acho, com Eugênio Gudin e tantos outros, que
essa mania do brasileiro de querer reinventar a roda tem nos custado
caro demais. Até porque queremos inventar uma roda quadrada! O que
existe de melhor em termos culturais, sociais e econômicos nós podemos
observar por aí e copiar. É melhor do que insistir na “originalidade”
quando ela leva a resultados lamentáveis.
Giannetti parece concordar com o italiano Domenico Di Masi, autor de O ócio criativo,
que tem tecido inúmeros elogios ao modelo brasileiro de ser. Claro, ele
não vive numa favela carioca, e sim na Itália. Será que o Brasil tem
tanto assim mesmo para ensinar ao mundo? Será que são os americanos
“consumistas” e os europeus que deveriam olhar para nós para aprender
alguma coisa sobre como viver?
Os antiliberais sempre tentaram atacar o
liberalismo ocidental que, para eles, não funcionavam abaixo da linha
do Equador. É como se a natureza humana fosse tão diferente assim com
base na geografia. Giannetti reconhece se afastar do liberalismo, e até o
coloca em pé de igualdade com o marxismo, ambos ocidentalizados demais e
desprezando as demais culturas:
Essa coisa de “admiro muita coisa no
liberalismo, assim como no marxismo” é típica do “isentão”. É como
alguém dizer que “gosta muito de sorvete, mas também não despreza um
bolo de fezes”. O que o marxismo tem de interessante, cara pálida? Em
que o marxismo foi útil, acertou? O que ele trouxe de positivo para a
humanidade? Essa postura “equidistante” entre liberalismo e marxismo é
simplesmente absurda, coisa de esquerdista que pretende salvar, de
alguma forma, o marxismo. Mas Giannetti não é de direita nem de
esquerda, muito pelo contrário:
Eu até concordo em parte com
ele, mas o que minha experiência diz é que quando alguém começa com esse
papo de “nem esquerda, nem direita”, ou “vamos fugir dos rótulos”, o
que ele quer é defender o esquerdismo. E o fato de Giannetti estar tão
próximo de Marina Silva, ex-petista até “ontem”, com suas bandeiras
ambientalistas que mais parecem ecoterrorismo de “melancia” (verde por
fora, vermelho por dentro), demonstra que se trata de uma conversão ao
esquerdismo dele mesmo. Marina e sua Rede, não vamos esquecer,
representam o PT embalado a clorofila, e são extremamente perigosos.
Uma pena. Era um pensador liberal
parrudo, com bagagem cultural, um economista que não focava apenas em
números, mas falava de filosofia. Seu livro O valor do amanhã é
excelente, e tem claro viés “austríaco” ao tratar do fenômeno juro com
uma visão natural, inclusive com analogias ao mundo animal. Alguns de
seus livros entraram como resenhas em minha coletânea Uma luz na escuridão, que, de 75 autores analisados, teve apenas 5 brasileiros.
Mas Giannetti, pelo visto, se deixou
levar por uma visão de mundo mais romântica, “tropicalista”,
“caetaneando” demais da conta. Confesso que fico decepcionado. Minha
verdadeira resposta vem também em forma de livro, pois meu Brasileiro é Otário? – O alto custo da nossa malandragem, que será lançado agora em julho, é
justamente um contraponto, uma análise alternativa, mostrando como essa
“originalidade” toda tupiniquim, na terra de Macunaíma, o herói sem
caráter, do Zé Carioca malandro, do jeitinho, foi um tiro que saiu pela
culatra.
Tropicalismo utópico? Estou fora! Prefiro o liberalismo ocidental, aquele que tem sólidos resultados para mostrar.
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* Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários
anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o
best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”.
Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo.
Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.
Fonte: http://rodrigoconstantino.com/artigos/tropicalismo-utopico-guinada-profetica-de-eduardo-giannetti/?utm_medium=feed&utm_source=feedpress.me&utm_campaign=Feed%3A+rconstantino
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