Oscar Bessi*
Esta
semana estive batendo papo com estudantes de três escolas diferentes:
Colégio Santa Inês, em Porto Alegre, Adelaide Sá Brito, em Montenegro, e
Visconde do Rio Branco, em Santo Antônio da Patrulha. Gosto da
linguagem dos adolescentes, da curiosidade que trazem consigo e da
inquietude barulhenta. A gente ri muito, junto. E se fala muito sério.
Quando falamos sério, seja sobre os motivos que me levaram a escrever
este ou aquele livro, ou sobre a realidade do submundo das drogas e da
violência, ouço o silêncio pasmo das descobertas. O espanto que arregala
os olhos. A indignação perante verdades ocultas que são mais banais do
que se possa imaginar. Mas tento fazê-los jamais esquecer que tudo
começa e termina numa palavra simples: respeito. Por si e pelos outros.
Presente nas mínimas atitudes e opções, nos jeitos de enfrentar as
adversidades, nas possibilidades de encarar o que surge com cara de
impossível ou imutável. Porque eles, jovens, são as vítimas e os alvos
preferenciais do que há de mais inescrupuloso ao nosso redor. Basta
espiar os noticiários.
“Pensamos
em bater nela. Que ela iria correr e nós íamos enterrá-la. Só que aí não
deu certo porque somos frouxas”. Essas frases, ditas por uma menina de
14 anos ao confessar que, junto com amigas, espancou, torturou e
esfaqueou uma colega adolescente, com intenção de matá-la, me provocaram
náuseas. Li a matéria no Correio do Povo de quinta e me pus a pesquisar
mais sobre o caso de Goiás. Tudo nasceu de ciúmes do ex-namorado de uma
das garotas, que estava ajudando a vítima a organizar sua festa de 15
anos. Um motivo bobo, fútil, um nada que quase destruiu uma família.
Havia cova pronta no pátio da casa para enterrar o cadáver. Nenhuma
delas se mostrou arrependida do que fez. Era ódio, ódio puro, ódio sem
qualquer explicação, apenas ódio. E uma das meninas solta essa: não
mataram porque foram “frouxas”.
Se a gente
sabe tudo o que compõe da vida desses jovens, das inquietações aos
apelos de consumo, aos apelos sexuais, aos apelos de comportamento, e se
a gente sabe o quanto eles estão abertos às influências, por que os
braços se cruzam há tanto tempo? Sim, porque a violência como grife não
nasceu hoje. É resultado de muitos anos de descaso e inversão de valores
básicos, como o respeito ao outro e à vida. É o resultado da falência
educacional total deste país. Quando não matar é ser frouxo, e isso é
dito por uma quase criança, por favor! Que reforma educacional
precisamos, mesmo? E não, não é um caso isolado. A violência brasileira é
cultural e extermina centenas de jovens, todos os dias, igual a
qualquer guerra dessas que geram protestos mundo afora. Dá para deixar
assim?
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* Jornalista. Cronista do Correio do Povo
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/Blogs/oscarbessi/2016/10/1845/a-frouxa-humanidade/
Imagem da Internet
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