Gustado Detter -
Reprodução do Facebook
Após
menino se enforcar até morrer, especialistas alertam: pais devem vigiar os
filhos
São
Vicente, SP, e Rio A morte de um menino de 13 anos, que se enforcou durante a
chamada “brincadeira do desmaio”, no sábado à noite, causou comoção não apenas
na pequena São Vicente, no litoral de São Paulo, onde o caso aconteceu, mas em
todo o país. Policiais estão investigando, mas, ao que tudo indica, o estudante
Gustavo Riveiros Detter enrolou uma corda no pescoço enquanto jogava on-line com
colegas e, diante do computador, se asfixiou até perder a consciência. Quando
parentes o encontraram, tentaram reanimá-lo e levaram o garoto para o hospital,
mas ele faleceu 24 horas depois. O episódio é um alerta para famílias com
crianças e adolescentes dentro de casa. Segundo especialistas ouvidos pelo
GLOBO, os pais devem monitorar de perto as atividades dos filhos para evitar
tragédias como esta.
—
O adolescente acha que pode fazer o que quiser e que nada vai acontecer. Ele
entra em competições sem pensar nos riscos porque seu cérebro ainda está em
desenvolvimento. Mas esse ato pode causar lesões graves ao cérebro e
irreversíveis, além de morte — analisa o psiquiatra Fábio Barbirato,
especialista em transtornos na infância e adolescência da Santa Casa de
Misericórdia do Rio.
Só
este ano, Barbirato atendeu em média dois casos da “brincadeira do desmaio” por
mês, muitos encaminhados por hospitais.
—
Não existe respeitar a privacidade em nenhum tipo de rede social para um
adolescente porque ele é responsabilidade dos pais até completar 18 anos, mesmo
que ele se ache muito esperto. Isso não é uma questão de invasão, mas sim uma
forma de cuidado e carinho — frisa o psiquiatra.
GAROTO
NORMAL, FÃ DE QUADRINHOS
Aparentemente
outros adolescentes assistiram à cena pela webcam. Um deles avisou a prima do
garoto, que estava no quarto ao lado. Ele teria dito que, pela câmera, viu que
Gustavo “aparentava estar desfalecido”, segundo o que foi descrito à polícia.
Ao analisar as últimas conversas de um aplicativo de troca de mensagens do
sobrinho, Marco Antônio Riveiros, de 38 anos, notou que um dos colegas de
Gustavo sugeriu aos demais participantes da conversa que essa não era a
primeira vez que ele praticava um autoestrangulamento: “Acho que o Detter foi
brincar de se enforcar de novo”, dizia a mensagem.
—
Brincar de novo de se enforcar? Isso aconteceu antes e não deu certo? Quantas
tentativas dessa são feitas? Quantas vezes isso está acontecendo nas escolas,
nas casas e pela internet? — pergunta-se Riveiros. — Meu sobrinho era um garoto
inteligente, caseiro, um amor. Ele não viu esse risco — afirmou o tio de garoto
à TV Tribuna, afiliada da TV Globo em São Paulo.
Fã
de quadrinhos, desenhos animados japoneses e de jogos on-line de computador,
como “League of Legends”, que jogava minutos antes de morrer, Gustavo estudava
no 8º ano de um colégio particular em São Vicente, perto da casa da mãe, na
beira da praia. A morte do garoto deixou em choque alunos e professores da
escola, que evitavam comentar o assunto ontem à tarde. Colegas o descreveram
como um garoto normal, nem bagunceiro nem quieto demais. Segundo uma menina da
sua sala, ele parecia estar sempre disposto a alegrar os colegas quando estavam
tristes.
—
Hoje foi um dia muito difícil para todos nós. Temos que lidar pessoalmente com
a perda dele, mas não podemos deixar de tratar desse assunto com os outros
estudantes. É muito grave o que aconteceu — disse um professor.
Amigos
e familiares de Gustavo compareceram ao enterro, no Memorial Necrópole
Ecumênica, um cemitério vertical particular de Santos, cidade vizinha, e
prestaram suas últimas homenagens ao garoto sem a presença da imprensa.
A
polícia pediu à família de Gustavo o celular do garoto e a troca de mensagens
que antecedeu o enforcamento para tentar reconstruir seus últimos minutos.
Segundo investigadores, todos os envolvidos na conversa são menores de idade.
Responsável por investigar o caso, o delegado Carlos Topfer Schneider, do 1º DP
de São Vicente, fez um apelo para familiares e educadores terem “vigilância
extrema” em relação ao que os adolescentes estão fazendo na internet.
Jogos
como a “brincadeira do desmaio” estão ficando tão frequentes que, no início do
mês, foi realizado no Ceará o 2º Colóquio Internacional sobre Brincadeiras
Perigosas, organizado pelo Instituto DimiCuida. Gestora do instituto, a
psicóloga Fabiana Vasconcelos destaca que a “brincadeira do desmaio” é a mais
arriscada, mas lembra que há ainda pelo menos duas práticas perigosas atraindo
muitos adeptos: o “desafio do desodorante aerossol” (pelo qual a região
atingida pode ser congelada até sofrer ferimentos e mutilações) e o “desafio da
canela em pó” (que pode desencadear ataque de asma e outras complicações por
substâncias químicas).
—
Em um minuto sem receber oxigênio, o cérebro entra em envenenamento por gás
carbônico; em três, o corpo entra em colapso; cinco minutos já é morte
cerebral, por isso a indução do desmaio é uma prática de altíssimo risco. Mesmo
quando não há morte, deixa sequelas — alerta.
De
acordo com pesquisas feitas no Brasil, de mil crianças, cerca de 450 estariam
praticando ou teriam feito pelo menos uma fez o desafio do desmaio. A faixa
etária, nesses casos, é de 9 a 17 anos. A motivação destes jovens, segundo
Fabiana, não tem aspectos suicidas, mas sim de aceitação em grupos.
—
A internet é grande disseminadora e fortalecedora desses casos. Em 2010, foram
identificados 500 vídeos da brincadeira do desmaio. Nesse ano, 16.300, no país.
Sabemos que muitos praticam os desafios lançados nas redes sociais como forma
de socialização — diz Fabiana, que aponta alguns sinais do praticante desses
jogos: marcas estranhas no pescoço e olhos irritados, ou a presença sem motivo
no quarto de coleiras ou cordas de pular.
Para
a neuropsicóloga Adriana Fóz, o diálogo é uma boa forma de monitorar as ações
dos filhos, mas há outras estratégias:
—
O ideal é colocar o computador na sala, onde todos possam passar e ver o que
está acontecendo. Ou negociar o tempo que o adolescente terá para ficar sozinho
no computador, e até participar dos jogos com ele. Cada família vai identificar
a melhor forma de aproximação.
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Reportagem por
Jessica Lauritzen / Tiago dantas
18/10/2016 4: Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/nao-existe-respeitar-privacidade-de-um-adolescente-diz-psiquiatra-20305799#ixzz4NQg8Vrh
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