quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Reflexões sobre o estilo Temer

Juremir Machado da Silva* 
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Um homem precisa ter estilo. É verdade que, em certo sentido, todos temos estilo. Para bem ou para mal. O que conta, no entanto, é o estilo que se impõe como uma marca bem-sucedida. Alain Delon (minhas velhinhas suspiram ao ler este nome desconhecido das mais jovens) tinha estilo. Marlon Brando também. Foram os homens mais bonitos que vi no cinema. Entrevistei Alain Delon, em Berlim, quando ele já era apenas um estilo decadente. Mesmo assim, vi os rastros do seu passado. A beleza havia dado lugar a uma nostalgia incontida.

Michel Temer tem seu estilo. Nada a ver com o que foi o estilo de Delon e Brando. Os mais antigos usam o termo classe. Diz-se que as classes sociais não existem mais. Só a classe social. Hoje, Temer se manterá impávido, como gosta de se mostrar, à espera de uma vitória na votação da PEC 241, a medida que limitará por 20 anos os gastos da máquina pública, salvo se tudo der certo, ou errado, e for preciso mudar de rumo em 2018. Uma fonte das entranhas do governo me descreveu o estilo Temer nos bastidores na busca pelos votos necessários para aprovação do seu projeto considerado decisivo. Um estilo paradoxal. Estilo para sábado de manhã com ar descontraído.

Segundo minha fonte, cujo nome não divulgarei para dar ao texto um ar de mistério, Temer apareceu de surpresa no bunker da operação PEC 241. Estava acompanhado por apenas um ministro. Vestia calça jeans e camisa polo. Esbanjava jovialidade. Sentou-se, discutiu, deu palpites e, longe da sua formalidade habitual para consumo externo, comportou-se como um parceiro de luta. Recebeu uma lista com nomes de deputados e seus respectivos números de telefone. Retirou-se para um cantinho e ligou ele mesmo para cada um dos alvos da sua campanha.

Um presidente da República que digita números de telefone no celular representa alguma coisa. O quê? Duas hipóteses: Temer ainda não se acostumou totalmente com a liturgia do cargo; ou pretende impor justamente um estilo mais direto ao seu governo. Um amigo me contou que fez uma viagem com Lula. Dois assessores se revezavam digitando números de telefone e passando as ligações para o ex-presidente. Será a maneira de usar o telefone que separa Lula e Temer? Minha fonte é muita lúcida. Falando sobre os escândalos que abalaram o Brasil, resumiu: “Fui um conluio de partidos, um conluio da má política com o capitalismo”. Na veia. Nem todos pensam assim.

O grande pensador Gaston Bachelard dizia o que “inconsciente não se civiliza”. Eu, do alto da minha filosofia pedestre, digo que o inconsciente é um território sem mapa. Digo mais: o a corrupção, na política, é um inconsciente que não se civiliza, mas que tem cartografia. É só seguir o dinheiro, como diz Garganta Profunda, no filme Todos os homens do presidente, sobre o caso Watergate, que derrubou Richard Nixon do poder. A geografia da grana acaba com reputações. Leva de hotéis de luxo no exterior a colchonetes em Curitiba. A vida dá muitas voltas.
Algumas deles são sem volta.
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* Escritor. Sociólogo. 
Fonte:  http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2016/10/9194/reflexoes-sobre-o-estilo-temer/
Imagem da Internet

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