Juremir Machado da Silva*
Um homem precisa ter estilo. É verdade que, em certo sentido, todos
temos estilo. Para bem ou para mal. O que conta, no entanto, é o estilo
que se impõe como uma marca bem-sucedida. Alain Delon (minhas velhinhas
suspiram ao ler este nome desconhecido das mais jovens) tinha estilo.
Marlon Brando também. Foram os homens mais bonitos que vi no cinema.
Entrevistei Alain Delon, em Berlim, quando ele já era apenas um estilo
decadente. Mesmo assim, vi os rastros do seu passado. A beleza havia
dado lugar a uma nostalgia incontida.
Michel Temer tem seu estilo. Nada a ver com o que foi o estilo de
Delon e Brando. Os mais antigos usam o termo classe. Diz-se que as
classes sociais não existem mais. Só a classe social. Hoje, Temer se
manterá impávido, como gosta de se mostrar, à espera de uma vitória na
votação da PEC 241, a medida que limitará por 20 anos os gastos da
máquina pública, salvo se tudo der certo, ou errado, e for preciso mudar
de rumo em 2018. Uma fonte das entranhas do governo me descreveu o
estilo Temer nos bastidores na busca pelos votos necessários para
aprovação do seu projeto considerado decisivo. Um estilo paradoxal.
Estilo para sábado de manhã com ar descontraído.
Segundo minha fonte, cujo nome não divulgarei para dar ao texto um ar
de mistério, Temer apareceu de surpresa no bunker da operação PEC 241.
Estava acompanhado por apenas um ministro. Vestia calça jeans e camisa
polo. Esbanjava jovialidade. Sentou-se, discutiu, deu palpites e, longe
da sua formalidade habitual para consumo externo, comportou-se como um
parceiro de luta. Recebeu uma lista com nomes de deputados e seus
respectivos números de telefone. Retirou-se para um cantinho e ligou ele
mesmo para cada um dos alvos da sua campanha.
Um presidente da República que digita números de telefone no celular
representa alguma coisa. O quê? Duas hipóteses: Temer ainda não se
acostumou totalmente com a liturgia do cargo; ou pretende impor
justamente um estilo mais direto ao seu governo. Um amigo me contou que
fez uma viagem com Lula. Dois assessores se revezavam digitando números
de telefone e passando as ligações para o ex-presidente. Será a maneira
de usar o telefone que separa Lula e Temer? Minha fonte é muita lúcida.
Falando sobre os escândalos que abalaram o Brasil, resumiu: “Fui um
conluio de partidos, um conluio da má política com o capitalismo”. Na
veia. Nem todos pensam assim.
O grande pensador Gaston Bachelard dizia o que “inconsciente não se
civiliza”. Eu, do alto da minha filosofia pedestre, digo que o
inconsciente é um território sem mapa. Digo mais: o a corrupção, na
política, é um inconsciente que não se civiliza, mas que tem
cartografia. É só seguir o dinheiro, como diz Garganta Profunda, no
filme Todos os homens do presidente, sobre o caso Watergate,
que derrubou Richard Nixon do poder. A geografia da grana acaba com
reputações. Leva de hotéis de luxo no exterior a colchonetes em
Curitiba. A vida dá muitas voltas.
Algumas deles são sem volta.
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* Escritor. Sociólogo.
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2016/10/9194/reflexoes-sobre-o-estilo-temer/
Imagem da Internet
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