Lya Luft*
Sim, em algumas coisas sou repetitiva: quando me
empolgam ou causam ansiedade. Educação é um desses meus temas. Sou de
uma família de professores: meu pai, diretor de uma Faculdade de
Direito, onde foi professor. O pai de meus filhos, grande mestre. Por
breves anos, lecionei linguística num curso de Letras. Meu filho mais
moço é professor de filosofia na PUC. E todos os meus sete netos
estudam, nos mais variados níveis. Educação me interessa muito – e me
assusta.
Será ela o primeiro assunto em qualquer governo, ou será segurança? – indagamos nessas conversas de temas hipotéticos. Quando não andamos seguros nem até a esquina, certamente segurança é primordial, para que pais, alunos e professores ao menos possam ir às escolas. Mas, fora dessa circunstância tão anormal em que vivemos, ponho acima de tudo a educação, que nos ajudará a termos saúde, segurança, trabalho e o resto. Educação: informação, para não sermos ignorantes, e valores para a nossa moralidade (não moralismo, cuidado!). Nossa educação anda pertinho do fundo do poço. Até na faculdade recebemos alunos que não conseguem escrever pois não sabem coordenar pensamentos, não aprenderam a observar, a argumentar, coisa que implicaria até filosofia na escola, sim: não é preciso ensinar Platão a meninos de 10 anos, mas fazê-los usarem sua inteligência.
Autoridade faz parte de educar, conceito que tem sido rejeitado, ridicularizado. Certa vez, numa conversa com jornalistas antes de iniciar uma palestra, perguntaram o título da minha fala, e respondi: “Educação e autoridade”. Um dos rapazes arregalou os olhos: “Autoridade?”. Pois é: aquilo que ensina que algumas coisas pode, outras não pode; que existem o sim e o não, e consequências dos nossos atos. Autoridade (começando em casa) não é chicote, puxão de orelhas, castigo no quarto escuro, mas orientação sem forçamento de barra ou de emoções, dando alguma forma ao mundo – que para crianças ainda é uma massa informe, confusa, às vezes bonita, outras assustadora. A vida com algum rumo não fica sem graça: é menos angustiante.
Rigor no ensino é outro fantasma detestado. “Rigor” não quer dizer campo de concentração, mas exigências segundo a possibilidade de cada um. Quando lecionava, e não fui boa nisso, muitas vezes disse sinceramente a meus alunos: “Vocês são muito melhores e mais inteligentes do que a universidade, a sociedade, a família e vocês mesmos pensam ser”. Isto é, mais capazes de esforço, aprendizado, crescimento pessoal. Podia soar estranho num ensino no qual é preciso caprichar para ser reprovado, e a mera ideia de reprovação causa horror.
“Respeito” começa por respeito a si mesmo: falta de educação não ajuda, bater grandes papos, usar celular para falar ou jogar em aula, ironizar ou insultar um professor (ou bater nele...) – são mau gosto e vulgaridade. Uma certa harmonia e respeito mútuo seriam grandes vantagens para os alunos, mas isso vem de casa.
Os currículos devem ser mudados? Sim!!!! Desde que não seja para tornar tudo ainda mais superficial ou fácil. Mas acabou o espaço desta coluna: que alívio. O assunto me dá calafrios.
Será ela o primeiro assunto em qualquer governo, ou será segurança? – indagamos nessas conversas de temas hipotéticos. Quando não andamos seguros nem até a esquina, certamente segurança é primordial, para que pais, alunos e professores ao menos possam ir às escolas. Mas, fora dessa circunstância tão anormal em que vivemos, ponho acima de tudo a educação, que nos ajudará a termos saúde, segurança, trabalho e o resto. Educação: informação, para não sermos ignorantes, e valores para a nossa moralidade (não moralismo, cuidado!). Nossa educação anda pertinho do fundo do poço. Até na faculdade recebemos alunos que não conseguem escrever pois não sabem coordenar pensamentos, não aprenderam a observar, a argumentar, coisa que implicaria até filosofia na escola, sim: não é preciso ensinar Platão a meninos de 10 anos, mas fazê-los usarem sua inteligência.
Autoridade faz parte de educar, conceito que tem sido rejeitado, ridicularizado. Certa vez, numa conversa com jornalistas antes de iniciar uma palestra, perguntaram o título da minha fala, e respondi: “Educação e autoridade”. Um dos rapazes arregalou os olhos: “Autoridade?”. Pois é: aquilo que ensina que algumas coisas pode, outras não pode; que existem o sim e o não, e consequências dos nossos atos. Autoridade (começando em casa) não é chicote, puxão de orelhas, castigo no quarto escuro, mas orientação sem forçamento de barra ou de emoções, dando alguma forma ao mundo – que para crianças ainda é uma massa informe, confusa, às vezes bonita, outras assustadora. A vida com algum rumo não fica sem graça: é menos angustiante.
Rigor no ensino é outro fantasma detestado. “Rigor” não quer dizer campo de concentração, mas exigências segundo a possibilidade de cada um. Quando lecionava, e não fui boa nisso, muitas vezes disse sinceramente a meus alunos: “Vocês são muito melhores e mais inteligentes do que a universidade, a sociedade, a família e vocês mesmos pensam ser”. Isto é, mais capazes de esforço, aprendizado, crescimento pessoal. Podia soar estranho num ensino no qual é preciso caprichar para ser reprovado, e a mera ideia de reprovação causa horror.
“Respeito” começa por respeito a si mesmo: falta de educação não ajuda, bater grandes papos, usar celular para falar ou jogar em aula, ironizar ou insultar um professor (ou bater nele...) – são mau gosto e vulgaridade. Uma certa harmonia e respeito mútuo seriam grandes vantagens para os alunos, mas isso vem de casa.
Os currículos devem ser mudados? Sim!!!! Desde que não seja para tornar tudo ainda mais superficial ou fácil. Mas acabou o espaço desta coluna: que alívio. O assunto me dá calafrios.
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* Escritora.
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a7625107.xml&template=3916.dwt&edition=29813§ion=70
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