Hélio Schwartsman*
Em tempos de politicamente correto, em que o
etarismo desponta como a próxima bola da vez, é arriscado sugerir que a
velhice seja algo deplorável. David Sinclair,
porém, não apenas não enaltece a “melhor idade” como ainda a classifica
como uma moléstia que precisa ser extirpada. O que separa Sinclair de
um genocida ordinário é que ele não pretende eliminar os velhos, mas sim
os processos biológicos que dão causa à senescência.
Sinclair,
como o leitor já deve ter intuído, é um cientista. Na verdade, é um dos
mais reputados especialistas em envelhecimento, comandando laboratórios
de genética em Harvard e na Austrália. Seu mais recente livro,
“Lifespan”, é uma daquelas obras em que o otimismo é tão denso que dá
para tocá-lo.
Para o autor, estamos muito perto de fabricar uma pílula que nos
permitirá viver bem além dos cem anos e com muita saúde, isto é, sem as
moléstias que hoje vêm com a idade, como cânceres e demências. Quem não
quiser esperar já pode recorrer a mudanças de hábitos, que incluem
passar fome e frio, e ao uso “off-label” de alguns medicamentos que já
estão no mercado.
O ponto fulcral é que a senescência é mais o resultado de um acaso
estatístico do que de uma fatalidade biológica. Em tese, dá para
controlar e até reverter o processo com poucas intervenções
relativamente simples. Em modelos animais, já há resultados palpáveis.
Na primeira metade de “Lifespan”, Sinclair explica a ciência por trás do envelhecimento, com destaque para o papel das sirtuínas descobertas em seu laboratório, e, na segunda parte, faz considerações éticas e sociais sobre o que significará o rápido e iminente aumento de longevidade.
Quem viver verá —literalmente.
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* Filósofo. Colunista da Folha
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2020/02/o-fim-da-velhice.shtml
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