segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

O materialismo histórico de Jesus

Luiz Felipe Pondé
 Resultado de imagem para materialismo histórico de Marx

 O ganho da esquerda cultural é criar shopping em que a diversidade seja a regra


Já que hoje é segunda-feira de Carnaval, essa festa autoritária e invasiva, falemos de algo bem distante de festa: falemos do materialismo histórico, uma teoria que julgo bastante elegante e consistente na sua dimensão analítica e não profética.

A partir de Maio de 1968 (como marco simbólico), a esquerda perdeu seu objeto e se fez fetiche de jovens burgueses entediados com pitadinhas de guerra cultural porque os comunistas tinham delirado com a dimensão profética da teoria marxista (sempre inacabada), em vez de se aterem a sua dimensão analítica da história e da sociedade (como se diz em filosofia profissional, a hermenêutica materialista de Marx).

Já que, com a derrocada moral da União Soviética e da China, os comunistas não tinham mais pão, resolveram se refestelar de bolo (ou brioche, como querem os puristas das traduções) e fazer noites de cinema, queijos e vinhos regados a um Trótski bonzinho que nunca existiu.

Vejamos um trecho de Marx: “Uma certa pessoa, certa feita, colocou na cabeça que as pessoas se afogam na água porque são obcecadas pela ideia de peso. Ele pensou que, se pelo menos as pessoas pudessem se livrar dessa ideia, chamando-a de superstição ou religião, elas estariam salvas de todo o perigo de afogamento”.

A citação acima é do texto “A Ideologia Alemã”, escrito em parceria com Friedrich Engels em 1846, publicado pela primeira vez em 1932, citado por Isaiah Berlin no seu “Karl Marx”, de 1939. 

Marx nunca sistematizou o método do materialismo histórico numa obra específica. Trata dele de forma assistemática ao longo de muitas obras, sendo nesta (“A Ideologia Alemã”) que ele mais explicitou suas ideias hermenêuticas. Aliás, para um hegeliano vocacionado, Marx era um discípulo relapso no item sistematização. Se tivesse escapado do feitiço sistemático hegeliano, talvez tivesse percebido que profetas só funcionam na literatura bíblica, corânica ou zoroastrista.
 
* Escritor e ensaísta, autor de “Dez Mandamentos” e “Marketing Existencial”. É doutor em filosofia pela USP. 
Fonte:  https://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2020/02/o-materialismo-historico-de-jesus.shtml
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