Luiz Felipe Pondé
O ganho da esquerda cultural é criar shopping em que a diversidade seja a regra
Já que hoje é segunda-feira de Carnaval,
essa festa autoritária e invasiva, falemos de algo bem distante de
festa: falemos do materialismo histórico, uma teoria que julgo bastante
elegante e consistente na sua dimensão analítica e não profética.
A partir de Maio de 1968 (como marco simbólico), a esquerda perdeu
seu objeto e se fez fetiche de jovens burgueses entediados com
pitadinhas de guerra cultural porque os comunistas tinham delirado com a
dimensão profética da teoria marxista (sempre inacabada), em vez de se
aterem a sua dimensão analítica da história e da sociedade (como se diz
em filosofia profissional, a hermenêutica materialista de Marx).
Já que, com a derrocada moral da União Soviética e da China, os
comunistas não tinham mais pão, resolveram se refestelar de bolo (ou
brioche, como querem os puristas das traduções) e fazer noites de
cinema, queijos e vinhos regados a um Trótski bonzinho que nunca existiu.
Vejamos um trecho de Marx: “Uma certa pessoa, certa feita, colocou na
cabeça que as pessoas se afogam na água porque são obcecadas pela ideia
de peso. Ele pensou que, se pelo menos as pessoas pudessem se livrar
dessa ideia, chamando-a de superstição ou religião, elas estariam salvas
de todo o perigo de afogamento”.
A citação acima é do texto “A Ideologia Alemã”, escrito em parceria
com Friedrich Engels em 1846, publicado pela primeira vez em 1932,
citado por Isaiah Berlin no seu “Karl Marx”, de 1939.
Marx nunca sistematizou o método do materialismo histórico numa obra
específica. Trata dele de forma assistemática ao longo de muitas obras,
sendo nesta (“A Ideologia Alemã”)
que ele mais explicitou suas ideias hermenêuticas. Aliás, para um
hegeliano vocacionado, Marx era um discípulo relapso no item
sistematização. Se tivesse escapado do feitiço sistemático hegeliano,
talvez tivesse percebido que profetas só funcionam na literatura
bíblica, corânica ou zoroastrista.
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