Anselmo
Borges*
Na experiência do Sagrado,
fonte de sentido último, salvação e felicidade, o Homem está sempre em presença
de algo outro e superior, “o tremendo e fascinante”, o Absoluto, inabarcável,
Como ficou dito em crónicas
anteriores, o Sagrado é o referente último de todas as religiões, o mistério da
realidade na sua ultimidade. É o Sagrado ou o Mistério pura e simplesmente. É o
Inominável, pois transcende sempre tudo quanto se possa pensar ou dizer dele.
Nenhuma religião o possui nem mesmo as religiões todas juntas.
Na experiência do Sagrado,
fonte de sentido último, salvação e felicidade, o Homem está sempre em presença
de algo outro e superior, “o tremendo e fascinante”, o Absoluto, inabarcável,
inacessível e inefável.
Esta superioridade do
Sagrado manifesta-se em níveis diferentes: o ontológico – infinita riqueza de
ser –, o axiológico – realidade sumamente valiosa. Assim, comporta “uma ruptura
de nível que aponta para a plenitude de ser e realidade por excelência” (J.
Sahagún Lucas).
Sendo o Inominável,
procurou-se, ao longo da História, nomeá-lo. Numa obra recente, Después de
Dios..., o teólogo José Ignacio González Faus apresentou várias tentativas, com
muitos nomes. Os Upanishades referem-se a ele como “O Incondicionado”; as
filosofias mais racionalistas designam-no como “O Absoluto”; Santo Tomás de
Aquino disse que o seu melhor nome é precisamente “O Inominável”; Tierno
Galván, “a partir do seu agnosticismo despreocupado pelo tema”, designa-o por
vezes como “O Fundamento”;
Karl Rahner, o maior teólogo católico do século XX, fala dele precisamente como “O Mistério”; Rudolf Otto, autor da obra famosa “Das Heilige”, fala dele precisamente como “O Santo”, “O Sagrado”; Platão referia-se a ele como “a ideia do Bem”, mas é necessário notar que Platão chama ideia à verdadeira realidade, contraposta às sombras, sendo assim o Sagrado o Sumo Bem; Aristóteles designou-o como “O Motor Imóvel”, com o sentido de que, no meio de todas as mudanças, é necessário algum “ponto de referência firme”; mesmo o famoso tetragrama hebraico YHVH, letras impronunciáveis, não é um nome próprio, mas “uma resposta evasiva a Moisés”: “sou o que serei”: confia e irás vendo; o Novo Testamento conclui, que “Deus é Amor”, que não é uma definição, pois não diz “Deus é O Amor”. O místico João da Cruz referiu-se-lhe como “a música calada que enamora”.
Que concluir? Deus é “esse
Mistério indizível que nos envolve. Neste sentido, à pessoa que se sente ou se
julga ‘muito religiosa’ é preciso pedir-lhe que renuncie um pouco a Deus, não
para negá-lo, mas para deixar Deus ser Deus. Frequentemente, os que mais falam
de Deus são os que de modo pior acreditam nEle.” É também neste contexto que
deve entender-se o que uma vez ouvi a Jacques Lacan: “Os teólogos não acreditam
em Deus, porque falam dele.” Talvez mais decisivo do que falar de Deus seja falar
com Deus.
De qualquer forma, ao longo
da História e sempre, o Sagrado, na medida em que o Homem precisa de nomeá-lo
de alguma maneira, foi sendo apresentado de múltiplas formas e em várias
configurações, desde o politeísmo ao monismo, passando pelo dualismo, o deísmo,
o monoteísmo..., como veremos em próximas crónicas.
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* Padre e professor de Filosofia
Anselmo Borges no DN
Fonte: https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/anselmo-borges/o-sagrado-e-suas-configuracoes-1-11850717.html?target=conteudo_fechado
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