José Eustáquio Diniz Alves*
- 19/12/2022
O Catar é um pequeno país árabe localizado no Golfo Pérsico, nas costas desérticas da Península Arábica. Possuí uma área de somente 11.437 km2 (duas vezes o tamanho da cidade de Brasília), mas é um país muito rico em petróleo e gás natural. Foi um protetorado britânico até ganhar a independência em 1971, se tornou um emirado absolutista que é comandado pela família Thani desde meados do século 19. Nas últimas décadas têm sido um aliado dos Estados Unidos e abriga um grande contingente militar norte-americano na região.
O Catar será a sede da Copa do Mundo de futebol, em 2022. A população catarense era de somente 25 mil pessoas em 1950. Graças à imigração chegou a um milhão de pessoas em 2006 e a quase 3 milhões em 2022. Como a maioria dos migrantes são homens de meia idade que buscam emprego no Catar, a pirâmide populacional tem uma forma bem peculiar, com uma alta razão de sexo masculinizada. Esta razão de sexo deve se manter ao longo do século, pois o excesso de homens continuará sendo uma característica do país.
O
Catar deu um salto de 1 milhão de habitantes em 2006 para 2,8
milhões em 2019 e apresentou uma ligeira redução para 2,7 milhões
em 2022, devido à pandemia da covid-19. São quase 2 milhões de
homens e 740 mil mulheres, com uma densidade demográfica de 233
habitantes por km2. Segundo a projeção média da Divisão de
População da ONU, a população do Catar deve chegar a 4,4 milhões de
habitantes em 2100 (como mostra o gráfico abaixo, do painel da
esquerda). A população de 15-59 anos aumentou em proporção ainda
maior nos últimos 20 anos e deve chegar a 3 milhões de pessoas em
2100 (conforme mostra o painel da direita). Devido ao alto número de
imigrantes em idade produtiva, a percentagem da população de
idosos vai se manter abaixo de 20% pelo restante do século.
Os
gráficos abaixo mostram a evolução da taxa de fecundidade total
(TFT) e a expectativa de vida. O Catar tinha uma taxa de
fecundidade total (TFT) acima de 6 filhos por mulher em meados do
século passado. A partir da década de 1970 a TFT caiu rapidamente e
ficou abaixo do nível de reposição na década passada e deve se
manter abaixo de 2,1 filhos por mulher até 2100 (como mostra o
gráfico abaixo, painel da esquerda).
O Catar
tinha uma expectativa de vida maior do que seus vizinhos em meados
do século passado e chegou a mais de 80 anos em 2019 (expectativa
de vida maior do que a dos EUA). Houve uma pequena queda no período da
pandemia, mas deve ultrapassar os 90 anos em 2100 (como mostra o
gráfico abaixo, painel da direita).
A
razão de dependência do Catar caiu bastante entre 1960 e 2010 e
chegou a incrível 20 pessoas dependentes para cada 100 pessoas em
idade ativa. Na última década a razão de dependência começou a
subir, mesmo assim continua baixa e, no máximo, vai ficar em 50
pessoas dependentes para cada 100 pessoas em idade ativa. Isto quer
dizer que, devido à imigração, o bônus demográfico do Catar vai
durar mais de 130 anos, favorecendo o crescimento da economia e a
geração de renda.
A
alta produção de petróleo e gás fez o Catar a economia crescer e o
Catar apresenta uma renda per capita extremamente elevada.
Evidentemente, a economia do Catar flutua de acordo com o preço dos
combustíveis fósseis. O PIB do Catar representava 0,2% do PIB
mundial em 1980, subiu para 0,3% no auge do superciclo das
commodities entre 2008 e 2012 e diminuiu para cerca de 0,25% do PIB
mundial atualmente (gráfico abaixo, do lado esquerdo).
A renda per capita também variou: passou de algo em torno de US$ 80 mil na década de 1980, ultrapassou US$ 170 mil em 2012, diminuiu para US$ 90 mil com a redução do preço do petróleo e voltou a subir depois da guerra da Ucrânia (gráfico do lado direito). O Catar é um país muito rico, mas, evidentemente, a distribuição de renda é péssima e está concentrada nas mãos de um pequeno clã familiar.
Por
ter uma alta densidade demográfica e um alto consumo de
combustíveis fósseis, o Catar tem a maior Pegada Ecológica per
capita do mundo, de 14,3 hectares globais (gha) em 2018, quase o
dobro da pegada per capita dos EUA. Mesmo com pegada elevada, o
Catar tinha um superávit ambiental em 1980, mas passou a ter um
déficit crescente nas décadas seguintes. Em 2018, o déficit per
capita foi de 13,35 gha e o déficit relativo foi de 1.451%. Se a
população mundial tivesse a mesma Pegada Ecológica do Catar, o
mundo precisaria de 9 Planetas para sustentar o consumo global.
Portanto, uma situação totalmente insustentável.
O
Catar é, portanto, um país muito rico, mas, ao mesmo tempo, muito
desigual e só se sustenta por meio da produção de
hidrocarbonetos, o que torna o país insustentável, no longo
prazo, em termos ambientais. A própria Copa do Mundo de 2022 se
tornou o torneio mais controverso da história da Fifa, com mudança
do calendário e questionamentos sobre como o Catar conquistou o
direito de sediar a Copa. O péssimo tratamento aos trabalhadores
que construíram os estádios e a falta de democracia colocam em
dúvida se o país é um local adequado para este tipo de evento.
José Eustáquio Diniz Alves é economista e doutor em demografia.
Fonte: EcoDebate.
Fonte: https://correiocidadania.com.br/2-uncategorised/15313-a-populacao-do-catar-de-1950-a-2100
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