Martha Medeiros
Já recebi puxões de orelhas por algumas distrações cometidas, até que passei a me concentrar na questão
A atriz Lilia Cabral arranca elogios por onde passa, mas quase nunca dão a mesma atenção à grafia de seu nome. A cada 10 citações, nove a nominam como Lilian, com este “n” intrometido no fim. Lilia não é novata, está em evidência há anos, qual a dificuldade de escrever seu nome corretamente?
É a armadilha da livre associação. Se a grande atriz Lilian Lemmertz tinha o “n” finalizando seu nome, por que a Cabral não teria? Lilian Pacce, Lilian Celiberti, Leno e Lilian. Por dedução, não existe Lilia e vamos em frente que há assuntos mais sérios a tratar.
Sempre há assunto mais sério a tratar, mas errar a grafia de um nome soa como desprezo, um “não estou nem aí” que ofende o ego, sempre tão sensível. Já recebi puxões de orelhas por algumas distrações cometidas, até que passei a me concentrar na questão.
Fila de autógrafos. Qual o seu nome? Stephany. É como eu escreveria, mas pode ser Stefane, Stefany, Esttephani, assim como Tatiane pode ser Thatyane, Tatheani, Tathianne e Nícolas pode ser Nichollas, Níquolas, Nikollas. Fazer o quê? Chutar?
Não é a solução mais simpática, melhor pedir gentilmente para que o leitor soletre. Está aí a explicação para as sessões de autógrafos se arrastarem por horas quando não há o papelzinho com o nome do leitor dentro do livro. E você achando que era por causa da popularidade do autor.
Ninguém gosta de ver seu nome adulterado, mesmo que seja por um acento sobrando ou faltando. Ou por um pronome que muda seu gênero. Sra. Nadir ou Sr. Nadir? Recomendo checar antes de subscrever o envelope.
O nome é parte fundamental da nossa identidade, a primeira informação que recebemos sobre nós mesmos e a primeira que fornecemos a estranhos, a fim de sermos introduzidos ao fabuloso mundo da socialização. Hoje somos 8 bilhões no planeta e não há nomes exclusivos para todos, somos obrigados a compartilhar nossa marca pessoal com outros tantos.
Por isso, entendo que papi e mami nos registrem com algum detalhe “charmoso” para nos diferenciar — o diabo é que só complicam. Poucas pessoas conseguem dar seu nome sem adicionar a observação: Elizza com dois “z”.
Thalles com “h” e dois “l”. Walkyrya com “w”, “k” e dois “y”. Não é preciosismo, são os detalhes tão pequenos de nós todos. No meu caso, “Martha com th” virou praticamente um nome composto.
Se o Brasil tivesse ganhado a Copa, os berçários teriam recebido inúmeros Richarlison (um único “s”), Antony (sem “th”), Alisson (um “l” só), Rodrygo (com “y”) e Raphinha (com “ph”). No que concluo: não custa a gente se informar antes de escrever um nome próprio. Até uma Maria pode ser Mharia, até um João pode ser Juão.
*Jornalista. Escritora.
Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/donna/colunistas/martha-medeiros/noticia/2023/01/errar-a-grafia-de-um-nome-soa-como-desprezo-clckguvta001q01824d2z8gcw.html
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