MÁRIO CORSO*
A posse transcorreu dentro da normalidade. Havia apreensão depois da descoberta de uma bomba presa a um caminhão de combustível. Apesar de o atentado ter sido frustrado e o modus operandi ser à la Organizações Tabajara, não apaga seu caráter terrorista.
Hannah Arendt dizia que quando uma força política se desconecta da legitimidade, ou é impotente para outra manifestação, ou ainda não encontra respaldo social para suas ideias, ela apela ao terror. Criar uma comoção para mostrar força.
Algumas pessoas ficaram confusas ao classificar o evento, afinal, atentados a bomba não seriam tradicionalmente atos da esquerda? Ora, neste caso, trata-se de um apoiador do ex-presidente, da ala radical.
O fato é que o terrorismo e o terror de Estado não têm lado. O erro é pensar em um só plano, como se política tivesse apenas um eixo, o confronto entre conservadores e progressistas. Como se pudéssemos classificar tudo como sendo de direita ou de esquerda.
O que está faltando no raciocínio acima é a concepção de transformação social que está em jogo. É unanimidade que nosso mundo precisa de mudanças, mas como fazê-las? De um lado temos os revolucionários, para eles é preciso colocar tudo de ponta-cabeça, destruir para depois reconstruir. Do outro lado, a turma reformista, tentando melhorar tudo o que der aqui e acolá.
Os revolucionários acreditam em utopias - um funcionamento ideal que eles julgam que, uma vez alcançado, salvaria a humanidade. Eles têm pressa de salvar o mundo da imperfeição. Os reformistas se inspiram em experiências concretas que deram certo. Não acreditam em utopias, espelham-se no que o presente e o passado já ensinaram, são cautelosos com novidades.
A atitude revolucionária acredita que os fins justificam os meios. A outra postura diz que é dos meios escolhidos que depende o futuro.
A história mostra tanto a direita como a esquerda podendo ter uma mentalidade ora revolucionária, ora reformista.
Portanto, o terrorista preso em Brasília é um revolucionário de direita. Quer o caos para obter uma mudança. O meio, uma bomba que poderia matar inocentes, na sua cabeça se justificaria para alcançar um fim que julga nobre. Sua utopia é passadista, quer de volta o mundo de ontem.
Um conselho: é necessário pensar a política em vários planos. A política nunca é como uma pizza; por ser feita de várias camadas, pense ela como uma lasanha.
*Psicanalista, membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA).
Fonte: https://flipzh.clicrbs.com.br/jornal-digital/pub/gruporbs/acessivel/materia.jsp?cd=7a2e5a66e4e84342b6480033d903bd6b
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