Cesare Pavese*
Os que bebem não sabem falar às mulheres,
se perderam de tudo, e ninguém os aceita.
Andam lentos na rua, e as ruas e postes
não têm fim.
Alguns deles dão giros mais longos,
mas não há o que temer: amanhã eles voltam pra casa.
O que bebe imagina que está com mulheres
- como os postes à noite são sempre os mesmos, assimas mulheres são sempre as mesmas -; nenhuma o escuta.
Mas o bêbado tenta, e as mulheres não o querem.
As mulheres, que riem, conhecem de cor suas palavras.
Por que riem assim as mulheres ou gritam, se choram?
O homem bêbado quer e deseja uma bêbada
que o ouvisse calada. Mas elas o atiçam:
"Para ter esse filho, é preciso contar com a gente."
O homem bêbado abraça-se ao bêbado amigo
que esta noite é seu filho, nascido sem elas.
Como pode uma zinha que chora e que grita
dar-lhe um filho amigo? Se aquele é um bêbado,
não recorda as mulheres no andar inseguro,
e esses dois perambulam em paz. O filhinho que conta
não nasceu de mulher - pois seria mulher
também ele. Caminha com o pai e conversa:
toda a noite iluminam-lhe os passos os postes.
* Um dos principais poetas italianos.Poema cortado pelo autor na edição final -Do Estadão, 15/03/2009.
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