quarta-feira, 25 de março de 2009

Espiritualidade, empresas e pessoas

Patrícia Bispo

Quando o assunto espiritualidade surge no mundo organizacional, muitos gestores ainda acreditam que esse tema esteja relacionado diretamente a práticas religiosas e que, caso o estimulem, poderão surgir sérios conflitos no ambiente de trabalho. No entanto, a prática da espiritualidade nas empresas assume um papel diferenciado: estimular a harmonia entre as pessoas. Para falar sobre o assunto, o RH.com.br conversou com o consultor e escritor Cesar Romão, que tem se destacado por desenvolver um trabalho voltado para o desenvolvimento humano, onde defende que as empresas e as pessoas não devem ser vistas apenas como fonte de lucro. Em uma de suas obras "Sonhando e Realizando", ele apresenta uma visão futurista de conceitos empresariais. Confira!

RH - Existe um conceito para espiritualidade no ambiente de trabalho?
Cesar Romão - Espiritualidade no ambiente de trabalho consiste num processo de aprendizado constante mediante as adversidades e as diferenças entre as pessoas, assim como sempre visa o benefício de todos os envolvidos no processo organizacional. Não é a lei do ganha, é a lei do dividir para somar.

RH - A espiritualidade no trabalho está relacionada à religião?
Romão - Esta é uma confusão e tanto que se faz no mercado. Muitas empresas não executam processos de espiritualidade pelo fato de acharem que estarão cultuando uma religião na organização e isso poderá criar desavenças. Religião é nossa a escolha, é a aproximação com o Deus que escolhemos dentro de nossa formação e crença. A espiritualidade é nossa conduta no caminho do bem e da prosperidade com ética, auxiliando-se uns aos outros independente de sua crença. A causa é mais valiosa, o relacionamento harmônico é o caminho.

RH - Quem poderia ser considerada uma pessoa espiritualista?
Romão - Seria aquela pessoa que não toma decisões por impulso, mas que confia em sua equipe. Não faz julgamentos, não procura quem cometeu o erro, trata de consertar logo a situação, torce pelo sucesso das pessoas, é uma barreira dizimadora de notícias ruins, confia em seus instintos e na sua própria intuição.

RH - Que contibuições as pessoas espiritualistas trazem para o ambiente organizacional?
Romão - Elas trazem principalmente a harmonia. Hoje o ambiente organizacional é repleto de disputas, de corridas pela vaidade e pelo reconhecimento. Basta apenas se entrar num conjunto de "baias" dos executivos de uma empresa e logo se pode sentir o nervosismo do andamento de trabalho. O medo parece tomar conta das pessoas. A harmonia é o principal benefício que essas pessoas trazem, pois com harmonia consegue-se transformar esforço em resultado positivo.

RH - De que forma as empresas podem estimular a espiritualidade entre os colaboradores?Romão - Infelizmente, ainda existe uma resistência grande em relação à espiritualidade no ambiente organizacional. No entanto, quando as empresas vivenciam uma experiência como essa, não mais desistem dela. A espiritualidade torna-se parte dos planos estratégicos. Dar liberdade de expressão para idéias e pensamentos, ou mesmo ter muito respeito até pelos erros, é uma boa forma de estimular a espiritualidade. O Exército Brasileiro tem um processo muito interessante com seus oficiais. Ali não há discriminação de qualquer religião, todos estão lá em função de uma causa, nossa bandeira e nossa pátria. Assim deve ser nas organizações, a causa tem de ser maior do que as diferenças.

RH - Esses processos são difíceis de serem implantados?
Romão - A visão tem que partir do alto da pirâmide organizacional e fincar alicerces nas bases envolvidas. É uma questão da aceitação da cultura, como toda organização é movida por resultados, quando esse processo resultar em benefícios, tudo tem mais chance de obter uma boa aceitação.

RH - Qual seria o papel do profissional de RH nesse contexto?
Romão - O profissional de RH tem que estar preparado com o máximo de informações possíveis sobre espiritualidade no trabalho, assim como acreditar no projeto e não apenas implantá-lo como uma nova maneira de tentar justificar verbas de treinamento ou de oferecer lucro aos acionistas. O principal é: o RH tem de dar o exemplo. A palavra convence, mas somente o exemplo arrasta e, assim, pessoas são tocadas pelos exemplos e adquirem mais respeito por ações que são justificadas.

RH - Existe alguma relação entre espiritualidade e motivação?
Romão - A espiritualidade é um processo de transformação íntima em nossas emoções, em nossa maneira de ser, de pensar e de agir dentro da ética e do bem, pois só o bem sempre encontra um caminho. Motivação é um sentimento confiante que podemos criar nas pessoas por um determinado tempo com a finalidade de conduzi-las a realizar objetivos e metas. Ninguém consegue ficar motivado durante muito tempo, pois motivação precisa de manutenção. Porém, a espiritualidade pode ser um processo para ser aplicado na sua existência em horas boas e nas adversidades.

RH - As empresas estão sabendo valorizar a espiritualidade?
Romão - Ainda não, pois muitos paradoxos ainda precisam ser vencidos. Imagine que quando faço palestra sobre espiritualidade nas empresas, antes da palestra começar, muitas pessoas vêm ao pé do palco perguntar se sou um pastor. É importante iniciar um movimento de informação sobre o assunto, pautas de discusão, divulgação de exemplos em ação sobre o assunto. É necessário despertar a consciência das pessoas sobre a possibilidade de se vencer sem uma disputa interna, alertar que para no pódio somente existe o primeiro lugar, mas um pódio onde todos cabem no primeiro lugar. Veja, por exemplo, as empresas que valorizam o funcionario do mês. Pergunto: será que só ele foi legal no mês? E os outros? Não pode haver um funcionário do mês, tem de haver uma equipe ou um time do mês, mas um time onde todos possam jogar e ganhar.

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