" O que sabemos é que a felicidade é desesperadora. Freud escreve em algum lugar, retomando uma fórmula de Goethe acho, que não há nada mais dificil a suportar de que uma sucessão ininterrupta de três lindos dias... Talvez para todos os que só sabem viver de esperança: tres lindos dias que se seguem é difícil porque não deixam mais grande coisa a esperar... É o estresse do nomalien, no ano que segue o exame de ingresso no magistério. O estudo é demorado, difícil, o estudante se dizia anos a fio: "Como serei feliz no dia em que tudo isso acabar, quando eu passar no exame!" E de repente você é professor e lhe oferecem mais um ano na École Normale, para você aproveitar a vida ou começar uma tese... O que mais esperar ou que de melhor esperar? Nada. É o momento mais fácil da vida, o mais feliz, ou que deveria sê-lo... Mas a realidade é bem diferente: é o momento em que o normalien fica deprimido e se pergunta se já não é tempo de filosofar de verdade... Alguns deles, em todo caso. (...) Então, o que sabemos é que a felicidade é desesperante; o que tento pensar é que o desespero pode ser alegre: que a felicidade seja desesperadora e o desespero, feliz! Isso quero dizer que o desespero, no sentido em que eu o tomo, não é o extremo da infelicidade ou acabrunhamento depressivo do suicida. É antes o contrário: emprego a palavra num sentido literal, queas etimológico, para designar o grau zero da esperança, a pura e simples ausência de esperança. Também podiamos chamá-lo de inesperança." (André Comte-Sponville - A felicidade, desesperadamente, Martins Fontes, 2005, pp.64-66)
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