Zygmunt Bauman
"Quando você pergunta a si mesmo se é feliz, você deixa de sê-lo... Os antigos provavelmente suspeitavam disso, razão pela qual sugeriam que, sem trabalho duro, a vida não ofereceria nada que a tornasse valiosa. Dois milênios depois, a sugestão não parece ter perdido a atualidade." Essas são as frases finais do livro do escritor e professor polonês Zygmunt Bauman que faz importantes provocações sobre temas como projeto de vida, felicidade, amor, alegria, sofrimento, ambiguidades, dilemas, etc.
Autor prolífico na linha do questionamento do que tem chamado de "mal-estar da pós-modernidade", ganha ainda mais importância diante da atual crise mundial que se alastra nos seus efeitos sobre todas as áreas e segmentos da sociedade globalizada.
Para ele - e o livro foi escrito em 2008 -, a estratégia de tornar as pessoas mais felizes, aumentando sua renda, aparentemente não funciona. Além do crescimento da violência, da criminalidade, da corrupção, do tráfico de drogas, "cresce também uma incômoda e desconfortável sensação de incerteza difícil de suportar, e com a qual é ainda mais difícil conviver de forma permanente. Uma incerteza difusa e 'ambiente', ubíqua, mas aparentemente desarraigada, indefinida e, por isso mesmo ainda mais perturbadora e exasperante".
Bauman faz uma análise das formas como a busca da felicidade têm sido substituídas, ou desviadas, ao longo do tempo. E numa das primeiras abordagens formula uma severa análise do comportamento consumista que foi criado, e estimulado, na sociedade moderna.
Segundo ele, o sonho da felicidade - representado pela visão de uma vida plena e satisfatória - foi desviado no mundo atual para o atendimento, permanente, das necessidades de consumo - ou seja, o de possuir - e transfere a insatisfação para que ela seja infinita e sempre possa ser atendida, apenas, pelo mercado e seus agentes.
"Um dos efeitos mais seminais de se igualar a felicidade à compra de mercadorias, que se espera que gerem felicidade, é afastar a probabilidade de a busca da felicidade algum dia chegar ao fim. Essa busca nunca vai terminar - seu desfecho equivaleria ao fim da felicidade como tal", conclui.
Mas, afinal o que é essa tal de felicidade? A pesquisa do autor passa por vários pensadores, filósofos, sociólogos. E ensina que, quando se trata de felicidade, não se pode ao mesmo tempo ser definitivo e consistente. Quanto mais se é definitivo, menor a chance de permanecer consistente, segundo Bauman.
O autor incita o leitor a resgatar o "faça você mesmo". Não apenas como uma forma de hobby. Mas no sentido de viver as emoções de elaborar uma gostosa refeição em vez de ir a um restaurante sofisticado, por exemplo, de cultivar amores, amizades, a introspecção, as reflexões, etc.
Referindo-se de forma constante sobre a vida como uma obra de arte, o autor reforça a necessidade de o ser humano apropriar-se do seu projeto de vida. "Vontade e escolha deixam suas marcas na forma da vida, a despeito de toda e qualquer tentativa de negar sua presença, e/ou de ocultar seu poder, atribuindo o papel causal à pressão esmagadora das forças externas que impõem um 'eu devo' onde deveria estar um 'eu quero', e assim reduzem a escala das escolhas plausíveis", escreve.
Bauman foge do estilo típico do gênero auto-ajuda e não penetra em uma seara nova, mas a leitura de sua obra é para fazer pensar e agir. Não fornece soluções. Apenas provoca. O que a torna indispensável.
" A Arte da Vida" - Zygmunt Bauman - Trad.: Carlos Alberto Medeiros. Zahar, 184 págs.
Reportagem de Renato Bernhoeft para o Valor, de São Paulo, 27/03/2009
http://www.valoronline.com.br/ValorImpresso/MateriaImpresso.aspx?dtMateria=27/3/2009%200:00:00&codMateria=5484543&codCategoria=106
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