Anderson, do Ted: conferências online organizadas por ele tiveram 1 bilhão de visitas em 2015
É difícil pensar a comunicação de ideias contemporânea sem falar do
Ted e da revolução implantada pelo americano Chris Anderson, de 59 anos,
curador de palestras de até 18 minutos no formato de vídeos digitais
oferecidas gratuitamente na rede.
As conferências tornaram-se sinônimo de troca de conhecimento
relevante de forma leve e profunda no mundo digital e, no ano passado,
alcançaram 1 bilhão de visitas. Presidente do Ted, Anderson lança agora a
edição brasileira de “Ted Talks: O Guia Oficial do Ted para Falar em Público” (Intrínseca).
Mix de manual de oratória e defesa de um renascimento do discurso oral
como forma central de transmissão de ideias, o livro tem protagonistas
como Michelle Obama, Bill Gates, Stephen Hawking, Jamie Oliver e Bono
Vox, entre muitos outros.
Desde 2001, o Ted Talks é parte da Sapling Foundation, fundação
privada sem fins lucrativos criada por Anderson em 1996. A receita vem
de patrocínio privado, propaganda inserida no site do Ted e nos vídeos,
além dos ingressos cobrados para assistir ao vivo as conferências, apoio
institucional dado à fundação, direito de licenciamento de palestras e
da publicação de livros.
Leia trechos da entrevista a seguir:
Valor: No ano passado, o Ted Talks alcançou 1 bilhão de visitas. Este
dado joga por terra o argumento de que o mundo digital é apenas um
parque de diversões para a futilidade, a banalidade e o tribalismo
gerador de ódios sociais?
Chris Anderson: Há milhares de pessoas interessadas em usar seu tempo
na rede para aprender, expandir suas mentes e não apenas ver vídeos de
gatinhos fofos. Foi a sacação mais sensacional de toda a aventura do Ted
Talks. Desse momento tirei uma das mais importantes lições de minha
vida: não tenha medo de oferecer seu produto de graça na rede, essa
decisão pode justamente ser a maneira de estabelecer sua reputação com
milhares de cidadãos mundo afora.
Valor: O universo da comunicação mudou muito desde 2007, quando o Ted
lançou o slogan “Ideias que valem à pena serem divulgadas”…
Anderson: Em 2007 , percebemos que vivíamos um renascimento
gigantesco do discurso público, impulsionado por um desenvolvimento
tecnológico inesperado que pode se revelar tão significante quanto a
prensa de tipos móveis inventada por Johannes Gutenberg [1398-1468]: o
vídeo online gratuito. Saiba falar, coloque o vídeo na rede e você tem,
sim, o potencial de mudar a cabeça dos milhares que o virem/ouvirem e
de plantar novas ideias ou combater as que você considera serem ruins.
Você tem a possibilidade de modificar a visão de mundo de indivíduos e
de mudar o comportamento deles vida afora. O potencial é ilimitado, a
escala da audiência gigantesca.
Valor: O Ted tornou-se fenômeno quando o senhor decidiu colocar os
vídeos gratuitos na rede. Chegou a dizer que “as ideias e os valores do
Ted me salvaram naquele momento, após a crise da internet na virada dos
anos 90″…
Anderson: Em 2006 decidimos, de modo experimental, colocar seis dos
Ted Talks online e de graça no site. Era o engatinhar do vídeo digital
online e, mesmo assim, em setembro, já tínhamos uma audiência única de 1
milhão de pessoas. Além de nos tornar conhecidos em um nível jamais
imaginado por nós, a reação deu muita esperança em relação ao que de
fato o mundo lá fora estava curioso por saber.
Valor: O senhor já escreveu que não há fórmula para se fazer uma
palestra Ted. Neste caso, não seria uma contradição escrever agora um
livro sobre as regras para se falar bem em público? Anderson: Não há
contradição. Um dos maiores equívocos sobre discursos públicos é que há
uma fórmula a ser prescrita para que, magicamente, se crie a “fala
perfeita”. Isso não existe. O que há, no entanto, é uma série de
ferramentas que qualquer pessoa pode usar para incrementar suas
habilidades, e é isso o que procuro dividir com os leitores.
Valor: Se tivesse de escolher cinco Ted Talks que jamais sairiam de sua prateleira, quais seriam?
Anderson: Não posso escolher. Mas posso falar de vídeos cult, não tao
vistos, mas que amo. O de Richard Turere, extraordinário: um menino
Masaii [grupo étnico presente no Sul do Quênia e Norte da Tanzânia] de
12 anos que aprendeu eletrônica por conta própria e usou seus
conhecimentos de forma original. O de Eleanor Longden, cuja história
incrível tem a capacidade de fazer você repensar a esquizofrenia. Além
do de David Deutsch, que explica o pensamento científico de forma
inventiva e profunda; o de Steven Pinker, sobre a diminuição da
violência no planeta, um Ted que gostaria que fosse mais e mais
assistido. É um antídoto contra a depressão em relação ao mundo nosso de
cada dia. E o de Don Hoffman, especialista em percepção visual, que
oferece uma maneira diferente de se pensar a consciência humana. Entre
os brasileiros, temos Juliana Machado Ferreira [bióloga], Bruno Torturra
[jornalista], Angélica Dass [fotógrafa] e Tasso Azevedo [engenheiro
florestal], entre muitos outros, que merecem a atenção do público.
Valor: Quem se sairia melhor nos 18 minutos de um Ted, Donald Trump ou Hillary Clinton?
Anderson: Você não me pega. Só vou dizer que estou curioso para saber
como dois discursos públicos, com estilos tão diversos, vão dar forma
às eleições presidenciais deste ano.
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Fonte: Eduardo Graça, Valor Econômico, Nova York, 08/07/2016
Foto: Film Magic.
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