O cientista político gaúcho Fernando Schüler, professor do Insper, em
São Paulo, curador do Fronteiras do Pensamento e ex-secretário de
Justiça e Desenvolvimento Social do Estado, fala sobre o envelhecimento
do eleitor e a baixa adesão dos adolescentes.
Caiu o número de jovens de 16 e 17 anos com título de eleitor, e muitos não pretendem votar nas próximas eleições. Qual a sua avaliação?
Vejo racionalidade. Existem muitas alternativas de engajamento. Isso inclui as redes sociais, a chamada tribalização do mundo digital, os coletivos e outras alternativas de natureza cultural e comportamental. A política não é mais sedutora como foi no passado. Na minha geração, que ingressou na política nos anos 1980, havia algo de irresistível. O Brasil saía do regime autoritário e a democracia abria novas perspectivas. Hoje, estamos em uma democracia envelhecida, em crise, e a juventude tem dificuldade para perceber as distinções entre os partidos.
A linguagem da política envelheceu?
Sim, assim como a forma de organização dos partidos, que vem do século 19. A ideologia, hoje, tem menos eco na vida das pessoas. Os jovens buscam novos tipos de engajamentos. Fazer política não é só participar de eleições. Você pode fazer política na escola, nas redes sociais, na comunidade. Não dá para esperar que o engajamento que vemos na sociedade se reflita no espaço eleitoral. Com o tempo, o instituto do voto obrigatório no Brasil tende a ser questionado.
Então a baixa adesão dos jovens não é problema?
Não. As grandes democracias convivem com elevados níveis de abstenção. Isso não é necessariamente negativo. Primeiro, é um direito das pessoas. Segundo, é uma opção racional para muitas delas. Nas democracias avançadas, onde o voto é facultativo, é comum que em torno de 50% dos eleitores compareçam às urnas. A mobilização política costuma obedecer a ciclos. Hoje, no Brasil, o universo da política vive um momento de dispersão e de fragmentação. O discurso partidário perdeu espaço. Costumo dizer que vivemos à moda flashmob. Isto foi claro nas grandes manifestações de rua, com o elemento efêmero, a organização em rede, independente das estruturas partidárias.
E o que muda com o envelhecimento do eleitor?
Se pensarmos no espaço de duas ou três décadas, temos agora um eleitorado com mais acesso à informação, mais velho, mais urbano. A tendência é termos um eleitor mais crítico, mais pragmático e menos sujeito a alegorias ideológicas. Não podemos esquecer que o nível de escolaridade evoluiu e que esse eleitor já se iludiu e se desiludiu muitas vezes. Talvez, ele preste mais atenção no currículo e na formação dos candidatos. A consistência será um valor ao qual as pessoas vão atentar cada vez mais.
O que os candidatos precisam fazer para atrair o interesse da nova geração?
Precisam apostar em preparo. Precisam estudar e mostrar que têm conhecimento sobre gestão pública. O domínio da arte de governar passa a ser um valor mais importante hoje do que foi na geração anterior. O discurso fácil já não tem o mesmo poder de sedução. Vivemos, além disso, uma crise do populismo na América Latina. No Brasil, intuo que as pessoas estão se cansando do radicalismo “crônico”. Talvez busquem candidatos capazes de construir consensos.
juliana.bublitz@zerohora.com.br
Reportagem por JULIANA BUBLITZCaiu o número de jovens de 16 e 17 anos com título de eleitor, e muitos não pretendem votar nas próximas eleições. Qual a sua avaliação?
Vejo racionalidade. Existem muitas alternativas de engajamento. Isso inclui as redes sociais, a chamada tribalização do mundo digital, os coletivos e outras alternativas de natureza cultural e comportamental. A política não é mais sedutora como foi no passado. Na minha geração, que ingressou na política nos anos 1980, havia algo de irresistível. O Brasil saía do regime autoritário e a democracia abria novas perspectivas. Hoje, estamos em uma democracia envelhecida, em crise, e a juventude tem dificuldade para perceber as distinções entre os partidos.
A linguagem da política envelheceu?
Sim, assim como a forma de organização dos partidos, que vem do século 19. A ideologia, hoje, tem menos eco na vida das pessoas. Os jovens buscam novos tipos de engajamentos. Fazer política não é só participar de eleições. Você pode fazer política na escola, nas redes sociais, na comunidade. Não dá para esperar que o engajamento que vemos na sociedade se reflita no espaço eleitoral. Com o tempo, o instituto do voto obrigatório no Brasil tende a ser questionado.
Então a baixa adesão dos jovens não é problema?
Não. As grandes democracias convivem com elevados níveis de abstenção. Isso não é necessariamente negativo. Primeiro, é um direito das pessoas. Segundo, é uma opção racional para muitas delas. Nas democracias avançadas, onde o voto é facultativo, é comum que em torno de 50% dos eleitores compareçam às urnas. A mobilização política costuma obedecer a ciclos. Hoje, no Brasil, o universo da política vive um momento de dispersão e de fragmentação. O discurso partidário perdeu espaço. Costumo dizer que vivemos à moda flashmob. Isto foi claro nas grandes manifestações de rua, com o elemento efêmero, a organização em rede, independente das estruturas partidárias.
E o que muda com o envelhecimento do eleitor?
Se pensarmos no espaço de duas ou três décadas, temos agora um eleitorado com mais acesso à informação, mais velho, mais urbano. A tendência é termos um eleitor mais crítico, mais pragmático e menos sujeito a alegorias ideológicas. Não podemos esquecer que o nível de escolaridade evoluiu e que esse eleitor já se iludiu e se desiludiu muitas vezes. Talvez, ele preste mais atenção no currículo e na formação dos candidatos. A consistência será um valor ao qual as pessoas vão atentar cada vez mais.
O que os candidatos precisam fazer para atrair o interesse da nova geração?
Precisam apostar em preparo. Precisam estudar e mostrar que têm conhecimento sobre gestão pública. O domínio da arte de governar passa a ser um valor mais importante hoje do que foi na geração anterior. O discurso fácil já não tem o mesmo poder de sedução. Vivemos, além disso, uma crise do populismo na América Latina. No Brasil, intuo que as pessoas estão se cansando do radicalismo “crônico”. Talvez busquem candidatos capazes de construir consensos.
juliana.bublitz@zerohora.com.br
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a7296884.xml&template=3898.dwt&edition=29556§ion=4572 - Zero Impressa: 20 e 21 de agosto de 2016 - Cad. DOC, pág 11.
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