Em meio a profundas mudanças no mercado de trabalho, os
primeiros 16 anos do século XXI revelaram alguns teóricos que ganharam espaço
na mente dos profissionais interessados em entender melhor o impacto dessas
transformações nas próximas décadas. Alguns desses autores, com menos de 50
anos de idade e ainda muito chão pela frente, surgem como candidatos a ocupar o
papel que no século XX foi de Peter Drucker (1909-2005), considerado o
"pai"da administração moderna.
Se há algo em comum entre as obras que têm se destacado,
contudo, é justamente a ênfase no fato de que o mundo corporativo tal como
Drucker o conheceu está completamente modificado e o caminho obrigatório para
qualquer profissional, de pequena ou grande empresa, empregado ou dono, é
assumir as rédeas da carreira e reforçar suas características de empreendedor.
A julgar pelo sucesso que seu novo livro vem fazendo, o nome do
momento é Joshua Cooper Ramo, 47 anos, autor de "The Seventh Sense: Power,
Fortune, and Survival in the Age of Networks" ("O Sétimo Sentido:
Poder, Fortuna e Sobrevivência na Era das Redes"). Ele foi citado por 25%
dos altos executivos entrevistados nos Estados Unidos pela consultoria McKinsey
em uma recente enquete sobre o que estavam lendo.
O livro se propõe a ser um guia para que líderes entendam as
forças que estão movendo o mundo neste século e que são
"invisíveis"para a maioria. Ramo considera que a capacidade de
compreender fatos e situações não mais isoladamente, e sim como parte de uma
conjuntura ampla e repleta de influências que se cruzam, será o principal fator
a fazer a diferença neste novo cenário. É a essa capacidade que ele denomina
sétimo sentido ou seja, algo que vai ainda além da intuição, considerada o
sexto sentido.
Ramo descreve na obra vários exemplos práticos de como a
capacidade de relacionar informações pode dar origem a negócios promissores.
Uma das histórias mencionadas é a do Uber, ideia que se baseou em fatores já
conhecidos para gerar algo novo e revolucionário. Não era novidade que havia
muita gente insatisfeita com o preço e a qualidade dos serviços dos taxis ao
redor do mundo e também que havia uma legião de proprietários de carro
interessados em gerar renda extra. Promover o encontro de representantes de
ambos os grupos em larga escala só foi possível, contudo, a partir do
surgimento da tecnologia que permitiu desenvolver o aplicativo.
Outra estrela da nova geração é Adam Grant, 35 anos, autor de
"Originals", obra que frequentou ao longo deste ano o topo das listas
de mais vendidos na área de negócios. Grant lembra que o mundo sempre avançou
pela ação dos inconformistas, ainda que nunca tenha sido muito fácil emplacar
inovações dificuldade que persiste mesmo hoje em dia, apesar de todo o
discurso favorável à criatividade e ao pensamento "fora da caixa".
"O livro demonstra que novas ideias costumam ser vistas com
ceticismo e dá insights de como desenvolver a capacidade de convencimento para
que a resistência seja superada", diz a consultora Agatha Alves, líder da
área de desenvolvimento e gestão da consultoria Aon Hewitt.
Se o assunto é como estruturar e vender bem uma ideia,
impossível não falar também do suíço Alexander Osterwalder, 42 anos, criador do
"Business Model Canvas", ferramenta que permite esboçar de forma
clara e sucinta as diretrizes de um negócio, já existente ou ainda em fase de
planejamento.
As novas obras falam sobre as transformações no mundo
corporativo e o do papel empreendedor dos profissionais O livro que explica a
metodologia ganhou versões em mais de 30 países, incluindo o Brasil.
"O que torna a obra inovadora é justamente a simplicidade,
que permite demonstrar a investidores de forma atraente e clara como um negócio
pode ser promissor", diz Sérgio Gomes, sócio-diretor da Ockam Consulting.
Se antes o sonho da maioria dos profissionais era subir na
hierarquia de uma grande multinacional e o sucesso podia ser medido pelo valor
do contracheque, hoje as possibilidades e os critérios de avaliação ficaram bem
mais complexos. A psicóloga Angela Duckworth, 46 anos, tem se dedicado a
desvendar como as pessoas podem chegar ao sucesso, ou a um determinado conceito
de sucesso, a partir de suas características pessoais.
A resposta, exposta no livro "Garra", é que para se
realizar profissionalmente não basta ter capacidade intelectual ou talento, mas
sim somar a esses fatores alguns outros como paixão, perseverança, propósito e
fé. "O livro mostra que pessoas de sucesso estão sempre tentando superar
seus limites, têm resiliência e muita paixão, tudo isso traduzido em dedicação
para ir atrás do que querem alcançar e acreditam que vão conseguir", diz
Andrea HuggardCaine, sóciadiretora da consultoria de Recursos Humanos
HuggardCaine.
Em um mundo repleto de distrações e com sobrecarga de
informações, a chave do sucesso talvez esteja na capacidade de manter o foco no
que realmente importa "The One Thing" ("A Única Coisa"),
como diz o título do livro de Gary Keller, 49 anos. Não se trata propriamente
de uma ideia revolucionária, tanto que o subtítulo da obra é "a
surpreendentemente simples verdade por detrás de resultados
extraordinários", mas essa linha de pensamento parece ganhar força na
medida em que o mercado de trabalho se torna cada vez mais multifacetado e o
cérebro humano menos habituado a manter a concentração.
"Gosto da mensagem do livro e vejo muitas semelhanças com
conceitos que discuto nos cursos de coaching e de liderança que conduzo:
sucesso é fruto de foco profundo em algo específico. Por isso é fundamental
antes de tudo entender o que é mais importante", diz o coach Rhandy Di
Stefano, fundador do Integrated Coaching Institute (ICI).
Manter o foco tem tudo a ver com evitar desperdícios. Esse é o
mantra de Eric Ries, 38 anos, autor de "A Startup Enxuta", livro que
condensa as bases da metodologia "Lean Startup". Ries defende a ideia
de que uma maior aproximação entre o desenvolvimento de produtos e as necessidades
reais dos clientes é essencial para reduzir os riscos de um negócio em seus
primeiros anos de existência. "Esse livro se tornou obrigatório porque sua
abordagem inovadora para criação e desenvolvimento de empresas tem impacto
decisivo sobre as estratégias de marketing e vendas", avalia Enio Klein,
consultor e professor da Business School de São Paulo.
Para o CEO do portal de contabilidade online Contador Amigo,
Vitor Maradei, o grande mérito de Ries está no didatismo. "O principal
conceito do livro, explicado com muitos exemplos práticos, é o de ConstruirMedirAprender,
processo que a empresa deve realizar continuamente para minimizar o desperdício
e maximizar o aprendizado", diz.
http://www.valor.com.br/carreira/4801875/quem-sao-os-novos-pensadores-da-gestao
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