A advogada e
professora Patrícia Laurenzo acredita que, para conter a violência contra a
mulher,
é necessário mudar a ideologia da sociedade
- Agência O Globo / Leo
Martins
Especialista
em Direito Penal, uruguaia esteve no Rio para participar de seminário
internacional sobre diferentes formas de agressão à mulher, na Emerj
por
Ana Beatriz Marin
"Tenho
62 anos, nasci em Paysandú, no Uruguai, formei-me em Direito na Argentina, mas
dou aulas na Universidade de Málaga, no Sul da Espanha, onde vivo há 25 anos.
Na Europa se pode viver dignamente como professora universitária. Por isso fui
para lá. É uma carreira muito valorizada. Na América Latina, não."
Conte
algo que não sei.
Um
estudo recente mostrou que 25% das estudantes universitárias na Espanha
afirmaram ter sofrido algum tipo de assédio sexual no âmbito estudantil. Vivo
na universidade e jamais pensei que pudesse haver um nível tão tremendo de
acosso. Fiquei gelada, porque estamos falando de um país como a Espanha, onde
acredito que já avançamos muito no tema. E, no entanto, parece que há um monte
de coisas por fazer, ainda.
Chegará
o dia em que não voltaremos a ler estudos deste tipo?
Eu
não vou ver isso acontecer. E você, provavelmente, também não. Mas esse dia
pode chegar, quando houver uma mudança estrutural. Todas as modificações legais
que estamos fazendo são muito relativas. A violência de gênero se controla
pouco. Você pode colocar muitos homens que matam ou violam mulheres na cadeia.
Mas, para que a situação acabe, é preciso modificar a mentalidade, a ideologia.
E isso requer mudança de sistema. Sou bastante otimista. Creio que chegará o
dia em que tudo isso vai explodir. Sempre houve grandes momentos na História em
que se substituiu um sistema pelo outro.
E
como se dá?
Isso
quem teria de dizer a você seriam os grandes filósofos. Porque, para mudar
isso, seria necessário mudar o mundo em seu conjunto. Creio que algo violento
vai acontecer. Não se pode mudar a estrutura do mundo sem que haja um ato
importante de violência. Vimos isso na mudança da Monarquia, na época da
Revolução Francesa. É necessária uma revolução. E ela pode se apresentar de
diversas maneiras. Sou bastante otimista.
Como
se faz uma revolução?
Adoraria
saber...
Educação,
talvez? Em novembro, foi sancionada uma lei que torna obrigatório o ensino de
noções básicas da Lei Maria da Penha nas escolas estaduais do Rio.
É
genial que as crianças comecem a ter contato com essa realidade. Que entendam
desde cedo o que é a violência de gênero e como se produz. Acho a Lei Maria da
Penha boa e muito lúcida. Pode ser um passo grande em direção a uma mudança,
mas tudo depende de como se aplicará. De qualquer forma, é mais importante do
que criar um delito de feminicídio. Temos que evitar o problema pela raiz.
Mas,
na Espanha, o governo de Mariano Rajoy tirou da grade escolar uma disciplina
que tratava do assunto.
O
governo disse que era transversal, que já se estudavam temas de direitos
humanos e de mulheres em Sociologia e História. É uma pena. A educação de
gênero não começa onde deveria. E é incrível, porque o nível de violência e
assédio cresceu entre as adolescentes espanholas.
Alguma
razão em especial?
Provavelmente,
porque há uma espécie de reação conservadora. Acho, também, que as novas tecnologias
influíram muito. O controle hoje é bem maior porque existem mais instrumentos
para isso. Muitos jovens controlam o celular das namoradas. Isso demonstra que
tudo o que já se fez em matéria penal serviu pouco, apesar de ter havido muitos
avanços na Espanha. E, é lógico, porque o Direito Penal só resolve os problemas
individuais. E a violência de gênero não é.
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Fonte: Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/patricia-laurenzo-professora-nao-se-muda-mundo-sem-um-ato-de-violencia-20563694#ixzz4RcnnuYg1
Fonte: Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/patricia-laurenzo-professora-nao-se-muda-mundo-sem-um-ato-de-violencia-20563694#ixzz4RcnnuYg1
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