Sociólogo explora os efeitos do individualismo e da sociedade de consumo nas relações humanas modernas
Aos 92 anos, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman continua firme como uma rocha. Suas mais de 50 obras e diversos artigos se dedicam a temas como o consumismo, a globalização e as transformações nas relações humanas.
Após ter servido durante a Segunda Guerra Mundial, Bauman fez parte do Partido Comunista Polaco e anos mais tarde se formou em sociologia. Como professor na Universidade de Varsóvia, teve alguns de seus livros e artigos censurados e acabou afastado em 1968.
Após
sofrer perseguições antissemitas na Polônia, partiu para a Grã-Bretanha
e trabalhou como professor titular da Universidade de Leeds. De todas
as suas contribuições, a obra Modernidade e Holocausto talvez tenha sido
a mais emblemática e lhe rendeu, em 1989, o Prêmio Europeu Amalfi de
Sociologia e Ciências Sociais. Conheça as principais conclusões de um
dos pensadores mais influentes da atualidade:
A SOCIEDADE PÓS-MODERNA SOFRE MUDANÇAS EM RITMO INTENSO
Para definir as condições da pós-modernidade e discutir as transformações do mundo moderno nos últimos tempos, o sociólogo sempre preferiu usar o termo “modernidade líquida”, por considerar “pós-modernidade” um conceito ideológico.
Bauman
escolhe o “líquido” como metáfora para ilustrar o estado dessas
mudanças: facilmente adaptáveis, fáceis de serem moldadas e capazes de
manter suas propriedades originais. As formas de vida moderna, segundo
ele, se assemelham pela vulnerabilidade e fluidez, incapazes de manter a
mesma identidade por muito tempo, o que reforça esse estado temporário
das relações sociais.
Há 100 anos, ser moderno significava buscar
um ponto de perfeição e hoje representa o progresso constante, sem um
resultado final único prestes a ser conquistado.
A ESTRUTURA FAMILIAR MUDOU DRASTICAMENTE
Em entrevista ao canal Quem Somos Nós?,
o professor Luís Mauro Sá Martino explica as transformações do conceito
de “família” segundo Bauman: “A partir do século 19 ou 20, o afeto e
amor surgem como elementos fundadores da família, mas nem sempre foi
assim e não é por acaso que nosso imaginário sempre gostou de idealizar
as histórias de amor”, observa.
“No passado, as pessoas casavam
com quem os pais mandavam, mas os laços de uma família ainda eram algo
sagrado. Hoje, por outro lado, constituímos várias “famílias”, assumindo
as diferenças disso em relação ao mundo pré-moderno, com a
independência e também as dificuldades que essa pluralidade de
relacionamentos pode trazer.”
AS CONEXÕES NO MUNDO MODERNO FORAM INDIVIDUALIZADAS
Bauman
observa que o século 20 sofreu uma passagem da sociedade de produção
para a sociedade de consumo. Com isso, também passamos pelo processo de
fragmentação da vida humana e deixamos de pensar em termos de comunidade
— a qual nação, grupos ou movimento político pertencemos. A identidade
pessoal, após essa transformação, restringiu o significado e propósito
da vida e da felicidade a tudo aquilo que acontece com cada pessoa
individualmente.
“A ideia de progresso foi transferida da ideia de
melhoria partilhada para a de sobrevivência do indivíduo”, resumiu o
sociólogo em entrevista para a Revista Cult. “O progresso é pensado não
mais a partir do contexto de um desejo de corrida para a frente, mas em
conexão com o esforço desesperado para se manter na corrida.”
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http://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2016/12/3-reflexoes-para-entender-o-pensamento-de-zygmunt-bauman.html
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