terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Veríssimo não lei AYN RAND e espanca um espantalho

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Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal

Em sua coluna de ontem, 18/12, Luis Fernando Verissimo, referindo-se à novelista Ayn Rand, comenta que, nos seus livros, aquela autora “faz a apologia do egoísmo criativo e endeusa empreendedores com mais audácia do que escrúpulos.” Segundo LFV, “Rand (…) tornou-se uma espécie de santa padroeira do neoliberalismo, proporcionando ao capitalismo desenfreado uma absolvição filosófica.”  Não por acaso, segundo ele, a maioria dos novos ministros indicados por Trump para compor o gabinete são fãs de Ayn Rand.

De fato, Rand é uma defensora empedernida do modelo capitalista de livre mercado, mas Veríssimo erra de forma bisonha – provavelmente porque nunca leu a autora que critica – ao descrever os heróis randianos como empresários com poucos escrúpulos.  Nada poderia estar mais longe da verdade.  Ao contrário, esses personagens, em sua totalidade, são seres cuja consciência é dotada de amplo sentido moral, além de caráter extremamente íntegro.

Ayn Rand fugiu da Rússia para os Estados Unidos no início dos anos vinte, deixando para trás a coletivização e os horrores do bolchevismo. Apesar de não ter o inglês como língua pátria, tornou-se uma conceituada roteirista da indústria cinematográfica de Hollywood, além de uma novelista de fama mundial. Embora seja uma recordista de vendas nos EUA e em outros países, no Brasil sua obra – como de resto a grande maioria dos temas que não são agradáveis à intelligentsia tupiniquim – ainda é muito pouco divulgada, tendo sido traduzidos e publicados somente os seus dois mais famosos romances: “Atlas Shrugged”, cujo título em português é “Quem é John Galt?” e “The Fountainhead” (A Nascente).

Sua filosofia, o Objetivismo, parte da convicção de que os indivíduos só podem alcançar a verdade de forma objetiva através da razão. Tal qual Adam Smith, Rand acreditava no indivíduo, na sua vontade e no interesse próprio como motores do desenvolvimento. Para ela, o autointeresse não é um pecado, como preconizado por Platão e muitos de seus seguidores, mas uma característica intrínseca do ser humano. Em resumo, “ajudar a nós mesmos é a melhor maneira de cooperar com os demais."

Em seu mais famoso romance, “Atlas Shrugged”, Rand faz uma enérgica defesa dos valores morais do livre mercado. O capitalismo, sustenta ela, é o único sistema que, reconhecendo a natureza racional do ser humano, e, portanto, a liberdade como exigência desta, se fundamenta na relação existente entre a razão, a liberdade e a sobrevivência do homem. As sociedades capitalistas só alcançaram altos níveis de prosperidade e bem estar porque nelas os homens gozam de liberdade para pensar, discernir e criar. Foi esta liberdade que permitiu ao capitalismo superar, com folga, todos os sistemas econômicos anteriores.

Segundo Rand, somente numa sociedade onde todas as relações são voluntárias, e onde se reconhecem e protegem os direitos fundamentais do homem à vida, à liberdade e à propriedade haverá prosperidade. Para ela, o capitalismo é o único sistema baseado no reconhecimento desses direitos, e longe de ser um mero sistema econômico, é um sistema de organização social e moral, em que o governo tem participação importante, porém restrita, para evitar o uso da força física de uns contra os outros e para dirimir questões oriundas das relações entre os indivíduos.

O principal fundamento moral do capitalismo, para Rand, está no fato de que este é o único modelo que baseia as relações humanas em atos contratuais e voluntários, em intercâmbios de direitos de propriedade, onde os homens são livres para cooperar uns com os outros ou não, de acordo com os ditames de seus próprios interesses e mútuos benefícios.

Assim, não se sustenta, no sistema capitalista, a idéia, por exemplo, de bem comum, uma grande falácia socialista utilizada amiúde por gente como LFV como justificativa para a tirania de uma minoria, que impõe aos demais seus próprios interesses, seus gostos e suas opiniões, evitando, acima de tudo, que os indivíduos pensem por si mesmos.

Pode-se não concordar com as idéias de Ayn Rand, mas que pelo menos as críticas sejam dirigidas à sua obra, e não a espantalhos, como faz Verissimo.
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 Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal
Fonte:  http://rodrigoconstantino.com/artigos/verissimo-nao-leu-ayn-rand-e-espanca-um-espantalho/?utm_medium=feed&utm_source=feedpress.me&utm_campaign=Feed%3A+rconstantino 19/12/2016

DO BLOG; Texto do Veríssimo para conferir:


19 de dezembro de 2016 | N° 18718

L.F. VERISSIMO

  • Desmoralização

    Injustiça dizer que Donald Trump é contra as minorias. Seu gabinete, além de um número sem precedentes de generais, inclui muitos membros da menor minoria de todas, a dos multimilionários. Um jornalista americano pesquisou e descobriu que os ricos escolhidos por Trump têm em comum não apenas muito dinheiro, mas o fato de serem todos leitores e admiradores da Ayn Rand, a americana nascida na Rússia que, nos seus livros, faz a apologia do egoísmo criativo e endeusa empreendedores com mais audácia do que escrúpulos. Rand morreu em 1982 e tornou-se uma espécie de santa padroeira do neoliberalismo, proporcionando ao capitalismo desenfreado uma absolvição filosófica. O jornalista duvida que o próprio Trump seja leitor da Ayn Rand – talvez esteja esperando seus livros saírem em quadrinhos –, mas conclui que nunca um gabinete americano teve tal coesão de princípios, com todos se imaginando heróis de uma das ficções de Rand.

    Outro jornalista americano, Paul Krugman, escreveu um artigo sobre Trump com o título “O candidato da Sibéria”. A alusão é ao filme O candidato da Manchúria (em português, Sob o domínio do Mal), em que um soldado americano capturado por comunistas chineses é condicionado a agir como assassino segundo ordens subliminares que receberá ao voltar para os Estados Unidos. Sua missão, quando receber o comando, é eliminar um candidato à presidência para favorecer o candidato que os comunistas querem. Ou coisa parecida. A CIA descobriu que os russos deram uma mão aos republicanos na recente eleição presidencial americana, hackeando e intervindo nas comunicações dos democratas. A única prova de que Trump não é uma marionete dos russos, apoiado por eles para desmoralizar para sempre a democracia, é que Trump não esconde sua admiração pelo Putin. Se fosse uma “topeira” – na linguagem da espionagem, um agente infiltrado num país inimigo esperando, às vezes durante anos, a hora de ser acionado –, Trump esconderia sua admiração. De qualquer maneira, é fascinante imaginar Trump, uma personificação do capitalismo sem freios, como agente russo. O fato é que, de propósito ou por acidente, a democracia foi desmoralizada.

    FEIO NÃO

    Dizem que os apelidos dados pela Polícia Federal e procuradores a políticos sendo investigados estão revoltando os apelidados mais do que a revelação das suas falcatruas. “Corrupto” tudo bem, mas “Feio” não! Não se sabe como são escolhidos os apelidos. Haveria só um dando codinome aos delatados ou isto seria trabalho de uma equipe, que discutiria as sugestões?

    – O que vocês acham de “Angorá” para o Moreira Franco?

    – Perfeito!
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    Fonte:  http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a8815454.xml&template=3916.dwt&edition=30299&section=70

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