PRÓXIMOS - Adam (com corvo empalhado): particularidades
da espécie em xeque ./Arquivo pessoal
O geneticista inglês é autor de 'O Livro dos Humanos — A História de Como Nos Tornamos Quem Somos', que chega às livrarias do país
O senhor frisa em sua obra que somos os únicos
animais que sabem cozinhar, que possuem uma linguagem desenvolvida e
que expressam a violência de forma contundente. Isso não basta para nos
distinguir de outros seres? Não gosto de distinguir o homem de
outros animais. Há muitos fatores que nos unem, desde coisas básicas,
como a capacidade de enxergar, por exemplo, até a homossexualidade, o
uso de ferramentas, enfim, várias características que compartilhamos com
outras espécies.
O senhor acredita que essa aproximação nos incomoda? As
pessoas gostam de narrativas. Somos uma espécie que conta histórias.
Mas a história humana não tem um começo, e nós desconhecemos o final.
Estamos sempre no meio. Responder o que nos difere dos outros animais
não é do domínio da ciência. Nela, o mais importante é justamente
perguntar. O que a ciência oferece é o caminho para a resposta. E ela,
às vezes, nos incomoda.
Qual a importância da linguagem para a humanidade? A
nossa linguagem é muito mais sofisticada do que qualquer outra. Essa
revolução cognitiva possibilita que passemos ideias complexas uns aos
outros, o que nos permitiu evoluir. Falar, como estamos falando agora, é
considerado mundano, no entanto também é uma conquista da evolução.
Deveríamos celebrar isso.
Nos últimos anos, muitos livros têm se debruçado sobre a história da humanidade. Um exemplo é Sapiens, de Yuval Noah Harari. Houve um aumento do interesse do público pelo tema? Tivemos
um extraordinário avanço nos estudos sobre o assunto, com a introdução
da genética nessa área. Outro ponto fundamental é a marcha rumo ao
progresso, que nos faz pensar sobre o que nos torna humanos. Será que
existe algo em específico que nos faz ser o que somos? A vontade de
responder a essa pergunta é cada vez maior.
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O senhor afirma que 97% das espécies que já existiram foram extintas. Seremos os próximos a desaparecer? Parece
que estamos nos esforçando para tornar a Terra inabitável. Há quem diga
que nos encontramos na sexta extinção em massa da história. Não
testemunhamos nenhuma das anteriores, então não sabemos a que o homem
poderá sobreviver. Entretanto, somos uma espécie muito criativa, e acho
que essa será nossa saída de novo. A Terra continuará girando, porém o
ser humano poderá não viver mais nela.
Publicado em VEJA de 4 de março de 2020, edição nº 2676
Fonte: https://veja.abril.com.br/ciencia/nao-gosto-de-distinguir-o-homem-de-outros-animais-diz-adam-rutherford/
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