Por Moisés Mendes*
Os mais importantes fatos jornalísticos depois da eleição, com o aparente fim dos bloqueios de estradas, são as aglomerações de gente de verde e amarelo diante de quartéis e QGs do Exército.
Mas os fatos, disseminados pelo país, são ignorados pela grande imprensa. E só a grande imprensa poderia tentar cobri-los, já que essa é uma tarefa improvável para veículos progressistas.
Por que os grandes jornais, inclusive os gaúchos, não vão até as aglomerações para ouvir as pessoas que estão ali afrontando a Constituição e a democracia?
Sem essa cobertura, os jornais abrem mão de uma obrigação da imprensa. Precisamos saber quem são e o que pensam os que se aglomeram.
É simplório achar que uma cobertura daria voz a golpistas e que por isso não deve ser feita.
Se fosse assim, o jornalismo ficaria em casa, porque a ilegalidade é a marca de fatos presentes no dia a dia dos repórteres no mundo todo.
Jornalistas não lidam só com gente de bom senso ou com personagens de gestos altruístas e humanistas. Não mesmo.
Mas é razoável pensar que também a grande imprensa não cubra as aglomerações por medo das reações.
Os próprios jornais sabem que as aglomerações são resultado da postura histórica da grande imprensa, principalmente desde 2016. O jornalismo golpista ajudou a fomentar as ações desse pessoal.
A não-cobertura das aglomerações representa o fracasso do jornalismo das corporações e uma rendição das empresas à imposição do golpismo.
A impossibilidade da cobertura, que pode ser alegada pelos jornais, é a prova de que os ajuntamentos são ameaçadores e põem em risco o cotidiano da democracia, mesmo sem golpe
*Jornalista em Porto Alegre. Escreve também para os jornais Extra Classe, DCM e Brasil 247. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim). Foi colunista e editor especial de Zero Hora.
Fonte: https://desacato.info/as-aglomeracoes-nos-quarteis-desafiam-o-jornalismo-por-moises-mendes/#more-297201
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