Fabrício Carpinejar*
Toda menção negativa ao nome do mercado o irrita, toda promessa o desestabiliza, toda frustração lhe provoca cólera.
13/11/2022
Eu sou
poeta e sensível. Mas não chego nem perto da vulnerabilidade do mercado
financeiro.
O mercado é chorão, fica magoado por qualquer discurso. A gasolina dispara, ações
caem, empresas fecham. Ele quebra a casa inteira na hora em que está nervoso.
Sofre por aquilo que não aconteceu, por antecedência, vive com a cabeça e os
números voltados para o futuro, não saboreia o presente, padecendo de um
estágio elevado e incurável de ansiedade.
Toda menção negativa ao seu nome o irrita, toda promessa o desestabiliza, toda
frustração lhe provoca cólera. Ele vive googlando o seu nome nas redes sociais,
procurando desafetos.
O
presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo conhecendo a
paranoia do mercado financeiro após dois mandatos, comprou uma briga
desnecessária.
Em pronunciamento a parlamentares na última quinta-feira (10), criticou o teto
de gastos e questionou o fato de o país ter uma meta de inflação, não de
crescimento.
Esqueceu que a tal estabilidade fiscal é a mãe do mercado financeiro. Então,
Lula ofendeu descaradamente a mãe do mercado.
Para quê? Em defesa da honra familiar, o mercado entrou em pânico,
choramingando pelos corredores das bolsas, fazendo cena na porta dos bancos.
O dólar subiu 4,1%, a maior alta diária desde março de 2020, e encerrou o
pregão a R$ 5,39. No mercado de ações, o Ibovespa caiu 3,35% aos 119.775
pontos, a queda mais acentuada desde novembro de 2021.
Lula não mediu suas palavras e errou o foco. Ele desejava defender que
investimentos na área social não são gastos, mas gerou uma insegurança
monstruosa para possíveis negócios no Brasil no próximo ano. Deu a entender que
não cortaria despesas e tampouco prezaria o equilíbrio fiscal. Justamente o que
o empresariado teme ouvir.
O bloqueio nas estradas pelos caminhoneiros foram cócegas perto do terremoto do
discurso de Lula, que ainda não apresentou o nome para o Ministério da Fazenda
e tampouco detalhou qual será o seu projeto na área econômica.
Tudo está enevoado, facilitando o surgimento de boatos e bichos-papões como a
tarifação do Pix, por exemplo.
O mercado financeiro abomina indiretas; é afeiçoado a uma linguagem clara e
objetiva, sem incitar revoluções e transformações radicais.
O economista Ricardo Amorim combateu a leviandade do petista de modo
categórico: “O incrível poder de um futuro presidente de empobrecer, em um dia,
a população de seu país, ainda antes de tomar posse, só expressando ignorância
econômica: após falas de Lula contra estabilidade fiscal, a bolsa brasileira
perdeu cerca de R$ 100 bilhões de valor de mercado hoje”.
O grande inimigo de Lula são suas metáforas, não a intervenção militar, não as
passeatas e mobilizações de milhares dos apoiadores de Bolsonaro, atual
presidente e candidato derrotado nas últimas eleições.
A questão controvertida que não quer calar: são apenas metáforas?
* Poeta, cronista e jornalista brasileiro
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