quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Pablo e Erasmo, dois monstros

Pablo e Erasmo, dois monstros 

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Pablo Milanés era a América Latina como imaginário e vontade. Erasmo Carlos, uma lenda cheia de generosidade por trás da “fama de mau”. 
Quando eu era jovem, ouvia caras falando mal de Erasmo. Ficava perplexo. O Tremendão sempre foi um gênero, um estilo, espírito de um tempo, vanguarda, ousadia, talento e imaginação. Onde eu ouvia esses caras todos que começam a partir? Na Rádio Cultura de Santana do Livramento. 
 
O primeiro toca-discos chegou lá em casa quando eu já tinha 16 anos. Erasmo, Raul Seixas e tantos outros monstros da rebeldia rodavam entre outros sucessos da época, alguns muito bregas, mas que também deixaram saudade; outros, como Chico Buarque, Caetano, Gal, Bethânia, Gil, Roberto e Erasmo, exuberantes.
 
A morte de Erasmo, roqueiro premiado aos 81 anos com um Grammy latino, tira o Brasil do prumo. Quem não se sacudiu algum dia com seus hits? Quem não imitou seus trejeitos? Que não cantou alguma composição dele? Erasmo era o roqueiro de estimação de todo mundo que ama a arte nas suas mais variadas formas, sem exclusivismos nem monocultura. 
 
A gente fica com uma sensação incômoda: quem será o próximo? Cada semana morre um pedaço do que fomos, do que somos, do que sonhamos, do que cantamos, do que quisemos ser, do que sempre seremos. Que geração essa que vai se apagando sem que vá se apagar, pois as obras eternizam os criadores e fazem com que eles nos acompanhem para sempre, ainda mais os irreverentes como o velho Erasmo, que cantou tudo. Esse era irmão, camarada de todo mundo, de milhões de nostálgicos como eu que aprenderam a gostar dele sem ter feito qualquer escolha; simplesmente ligando a única rádio da cidade. 
 
Eu me lembro com saudade, claro, dessa adolescência ao ritmo de artistas cuja grandeza eu não sabia calcular, mas de quem gostava instintivamente. Publicidade Pablo e Erasmo, vocês foram campeões do mundo. Camisas dez de seleções que parecem impossíveis de reinventar. Este é meu primeiro texto escrito inteiramente no Whats enquanto me recupero da covid bis, que acelerou meu coração e abalou outra vez minhas emoções.
 
Se, na brincadeira, dizemos que ver a Argentina perder não tem preço, saber da morte de dois gigantes não tem palavras que paguem por tudo o que fizeram.
 
* Jornalista. Escritor.
 
Fonte:  https://www.matinaljornalismo.com.br/matinal/colunistas-matinal/juremir-machado/pablo-e-erasmo-dois-monstros/

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