Quando eu era jovem, ouvia caras falando mal de Erasmo. Ficava perplexo.
O Tremendão sempre foi um gênero, um estilo, espírito de um tempo,
vanguarda, ousadia, talento e imaginação. Onde eu ouvia esses caras
todos que começam a partir? Na Rádio Cultura de Santana do Livramento.
O
primeiro toca-discos chegou lá em casa quando eu já tinha 16 anos.
Erasmo, Raul Seixas e tantos outros monstros da rebeldia rodavam entre
outros sucessos da época, alguns muito bregas, mas que também deixaram
saudade; outros, como Chico Buarque, Caetano, Gal, Bethânia, Gil,
Roberto e Erasmo, exuberantes.
A morte de Erasmo, roqueiro premiado aos
81 anos com um Grammy latino, tira o Brasil do prumo. Quem não se
sacudiu algum dia com seus hits? Quem não imitou seus trejeitos? Que não
cantou alguma composição dele? Erasmo era o roqueiro de estimação de
todo mundo que ama a arte nas suas mais variadas formas, sem
exclusivismos nem monocultura.
A gente fica com uma sensação incômoda:
quem será o próximo? Cada semana morre um pedaço do que fomos, do que
somos, do que sonhamos, do que cantamos, do que quisemos ser, do que
sempre seremos. Que geração essa que vai se apagando sem que vá se
apagar, pois as obras eternizam os criadores e fazem com que eles nos
acompanhem para sempre, ainda mais os irreverentes como o velho Erasmo,
que cantou tudo. Esse era irmão, camarada de todo mundo, de milhões de
nostálgicos como eu que aprenderam a gostar dele sem ter feito qualquer
escolha; simplesmente ligando a única rádio da cidade.
Eu me lembro com
saudade, claro, dessa adolescência ao ritmo de artistas cuja grandeza eu
não sabia calcular, mas de quem gostava instintivamente. Publicidade
Pablo e Erasmo, vocês foram campeões do mundo. Camisas dez de seleções
que parecem impossíveis de reinventar. Este é meu primeiro texto escrito
inteiramente no Whats enquanto me recupero da covid bis, que acelerou
meu coração e abalou outra vez minhas emoções.
Se, na brincadeira,
dizemos que ver a Argentina perder não tem preço, saber da morte de dois
gigantes não tem palavras que paguem por tudo o que fizeram.
* Jornalista. Escritor.
Fonte: https://www.matinaljornalismo.com.br/matinal/colunistas-matinal/juremir-machado/pablo-e-erasmo-dois-monstros/
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