terça-feira, 12 de abril de 2011

Ansiedade

SUZANA HERCULANO-HOUZEL*
Imagem da Internet - Edvard Munch (pintura: o silêncio)
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O cérebro organiza no corpo um estado
de alta disponibilidade de energia:
você está pronto para agir

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ROBERT SAPOLSKY, neurocientista especialista em estresse, gosta de dizer que o cérebro humano é tão capaz que consegue enxergar problema onde ainda não tem.
Essa é uma definição bem simples, e prática, da ansiedade: nossa capacidade de reagirmos desde já, física e mentalmente, a um estresse que ainda não existe fora de nossas cabeças, mas que antecipamos para algum lugar do futuro.
A resposta à mera expectativa do estresse tem tudo para ser boa. Do lado do cérebro, nos deixa desde já mais alertas, atentos, lembrando repetidamente do problema, do que sabemos sobre ele e, sobretudo, de resolvê-lo.
O hipocampo, que representa memórias recentes, trata de manter ativa na mente a sua lista de tarefas a fazer e de problemas a solucionar, e ainda aciona o locus coeruleus, o "lugar azul" do cérebro, que deixa você mais alerta e, assim, serve como um alarme interno, que não deixa você esquecer do assunto a resolver.
Daí, provavelmente, a sensação de tensão mental: seu cérebro antecipa que terá um problema com o qual lidar, e isso é o primeiro passo para começar a se preparar desde já, o que aumenta bastante as chances de resolver o problema, se e quando ele se materializar.
Do lado do corpo, o cérebro organiza nele um estado de alta disponibilidade de energia, deixando também seus músculos mais tensos e prontos para a ação.
Um dos primeiros a se tensionar e ficar assim é o trapézio, que liga seus ombros à nuca -exatamente aquele que você sente ficar rígido e dolorido quando está muito ansioso.
A má notícia sobre a ansiedade é que, como o problema antecipado ainda está somente dentro da sua cabeça, ele tem o tamanho que seu cérebro quiser -e a ansiedade pode fugir ao controle, tomar proporções exageradas e se tornar um problema por si só.
A boa notícia, contudo, é justamente que a ansiedade tem o tamanho que seu cérebro quiser -e está ao seu alcance mantê-la em cheque.
Informações sobre o problema ajudam o cérebro a ser realista a seu respeito. Manter seu kit de habilidades cognitivas atualizado e afiado lhe proporciona uma sensação de capacidade intelectual e controle da situação.
Ajuda, também, fazer exercícios físicos (que mantêm o hipocampo sob controle), contar com carinho e apoio moral de pessoas queridas e, se chegar a esse ponto, não hesitar em procurar apoio médico.
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* SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com
Fonte: Folha online, 12/04/2011

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