domingo, 10 de abril de 2011

Mercado é de Marte; Dilma, de Vênus

VINICIUS TORRES FREIRE*
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Apesar de choro e ranger de dentes de economistas "ortodoxos",
presidente muda a política econômica

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TALVEZ O grande público não tenha percebido que a política econômica mudou muito nas últimas semanas, obra de Dilma Rousseff e cia. Tanto que o governo agora combate a inflação com aumentos de impostos. Vivemos em outro planeta político-ideológico em termos de política macroeconômica (gasto público, juros, impostos).
De Marte, das juras de apreço pela "ortodoxia" (ou a versão brasileirinha disso), fomos para Vênus das políticas ditas alternativas. Nem tão mais alternativas, certo, pois o mundo inteiro mudou, dados o estado anormal das economias no pós-desastre de 2008 e a desmoralização do mercadismo.
Mas não faz muito tempo, talvez ainda sob Lula 1, esse tipo de exotismo provocaria passeatas de economistas "padrão". Passeatas midiáticas, explique-se, com ironia.
Decerto o grande público tem mais o que fazer além de se ocupar de controvérsias tediosas entre economistas. Da inflação terá notado que o preço da carne de boi subiu 30% no ano passado.
Que o supermercado ficou uns 10% mais caro, mais que o IPCA, em alta de uns 6,5% em 12 meses. Que um prato de comida pode custar cerca de US$ 40 em restaurantes bons de Rio e São Paulo -restaurantes, no entanto, todos lotados.
Que o preço das consultas médicas dispara, como o preço de manicure, encanador, eletricista, empregado doméstico. Que aqueles jipões de R$ 200 mil agora são carne de vaca nas ruas de Rio e São Paulo.
Quando ficamos tão ricos? Ficamos? Os preços são londrinos, mas a renda média do Brasil ainda fica lá pelo meião do ranking mundial, pelo 70º lugar num listão de 150 países. Além do mais, o Brasil ainda tem sinais evidentes de Belíndia, de Bélgica e Índia, desigualdade e pobreza, apesar dessa falação de "nova classe média".
O que tem a ver a "nova política econômica" de Dilma Rousseff e cia. com a "riqueza brasileira"?
Parece que estamos vivendo acima de nossos meios. Há inflação crescente, no rumo dos 7% ao ano, sinal claro de excesso de consumo.
Compramos cada vez mais importados. O crédito para consumo pessoal (afora imóveis) cresce rápido demais. O gasto do governo cresce rápido demais. O investimento cresce devagar. Enfim, somos um país ainda pobrinho demais para US$ 1 custar apenas R$ 1,50.
O governo não quer dar uma paulada nos juros e, assim, abater o "espírito animal" do empresário. Não quer frear investimentos. Não quer um real ainda mais forte, coisa que aconteceria com juros ainda mais altos (embora o governo esteja jogando a toalha no que diz respeito a evitar a valorização da moeda).
Assim, o governo abandonou a linha de política econômica que mal e mal foi seguida (ou pregada) de, digamos, 1994 a 2008.
Quer conter o crédito via imobilização do dinheiro dos bancos, barreiras ao financiamento externo, imposto sobre crédito (sobre consumo, pois) etc. Quer regular ainda mais os preços de combustíveis. Desistiu da contenção firme da despesa pública. De quebra, vale-se desses impostos corretivos, como o IOF, para fazer caixa, superavit e ainda cortar um tico do consumo.
Se vai dar certo, isso é assunto para o futuro e para economistas. Mas seria bom prestar atenção: estamos em outro planeta econômico.
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*Colunista da Folha, onde está desde 1991. Foi Secretário de Redação do jornal, editor de Dinheiro, editor de Opinião, correspondente em Paris, editor de Ciência e editor de Educação
Fonte: Folha online, 10/04/2011

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