MIRIAN GOLDENBERG*
Imagem da Internet
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Ele não quer ser só um amante virtual,
mas ela não quer vê-lo no mundo real
e colocar em risco o casamento
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ESTÁ CASADA há 23 anos e tem dois filhos adolescentes.
Trabalha como gerente de uma loja, das 10h às 18h. Faz ginástica todos os dias.
O marido é advogado, tem um bom salário. Ele gosta de ficar em casa vendo futebol ou dormindo. Às quintas, sai com os amigos para beber cerveja.
Quando ela completou 40 anos, entrou em crise. Buscou um analista, tomou remédios e encontrou na internet um parque de diversões. Tem milhares de amigos no Orkut, MSN, Facebook.
Passou a dormir muito tarde e, muitas vezes, acorda no meio da noite só para ver se tem recado no FB.
No ano passado, conheceu um americano pelo FB, e o que era um vício divertido virou um drama complicado.
A primeira fase foi de troca de mensagens no FB. Depois, começaram a conversar pelo Skype. Em seguida, ligaram a câmera do Skype.
As conversas ficaram mais românticas. Até que ele disse que precisava encontrá-la e descobrir o que sentem de verdade. Decidiu vir para o Brasil.
Ela disse não.
Ele enviou uma passagem para ela ir para os EUA.
Ela devolveu.
Ele desapareceu por dois meses.
Ela sofreu como nunca sofreu por outro homem.
Mandou inúmeras mensagens, e ele a ignorou.
Ela telefonou e implorou para que ele voltasse.
Ele não quer ser apenas um amante virtual.
Ela está dividida entre a vida com o marido e os filhos e o risco de viver uma paixão com alguém que, até agora, só existe no seu computador.
Não precisa encontrá-lo, pois ele lhe dá tudo o que quer no mundo virtual.
Tem medo de perder o marido, os filhos e tudo o que construiu.
Mas também não quer perder o homem que sabe escutar seus problemas, que valoriza os pequenos detalhes do seu cotidiano, que diz que ela é a mulher mais linda e sexy do mundo. Não quer perder o homem que a faz se sentir tão especial.
Divide o seu mundo em dois: com o marido, mostra o seu pior lado. É intolerante, mal-humorada, insatisfeita.
Com o amante virtual, mostra só o que tem de melhor. É agradável, compreensiva, interessante.
Não consegue responder a uma pergunta que a angustia nos últimos meses: "É possível ter tanta intimidade e amar tão profundamente um homem que nunca encontrei, nunca toquei, nunca beijei?
Qual desses dois mundos é o mais verdadeiro e importante para minha felicidade?".
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*MIRIAN GOLDENBERG, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "Por Que Homens e Mulheres Traem?"(Ed. BestBolso) miriangoldenberg@uol.com.br
Fonte: Folha online, 12/04/2011
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