VIVER E MORRER NO ORKUT:
os paradoxos da rematerialização
do ciberespaço
Imagem da Internet
ALBUQUERQUE, Afonso deDoutor pela UFRJ
afonsoal@uol.com.br
RESUMO
O artigo se propõe a discutir aspectos relativos à experiência da morte, tal como ela se apresenta no Orkut, site de relacionamentos que se tornou tremendamente popular entre os usuários brasileiros. O que a morte revela sobre a vida no ciberespaço? De que maneira o processo de luto se constrói em um ambiente em que o perfil sobrevive ao usuário? Em que medida a morte dos outros se constitui como uma ocasião para refletir sobre o próprio sentido da vida?
Palavras-chave: Orkut. Morte. Comunicação mediada por Computador. Luto.
Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar ao mundo que eu morri,
Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada à própria Eternidade,
A minha sombra há de ficar aqui!
(Augusto dos Anjos)
1 INTRODUÇÃO
O que é a vida no ciberespaço? Quais são as características que a definem de modo fundamental? O nosso texto se propõe a enfrentar essas questões a partir de um ângulo pouco usual – aquele que se apresenta a partir da experiência da morte –, tendo em vista, em particular, o modo como a questão da morte se apresenta no Orkut, um site de relacionamentos que se tornou extremamente popular entre os usuários brasileiros. Nada é tão certo quanto a morte, e nada é tão incerto também. Temos consciência da nossa mortalidade, mas o que é a morte, afinal? Poucos problemas são tão universais quanto aqueles que a morte apresenta. Qual o seu sentido, sua razão de ser? O que acontece quando morremos? Como devemos lidar com ela? Não obstante o problema seja essencialmente o mesmo em toda parte, as maneiras de responder a ele variam enormemente de sociedade para sociedade. Assim, a morte pode ser uma passagem para um plano superior (ou inferior), a ocasião de um reencontro com os que se foram antes de nós, a oportunidade de uma nova vida ou, simplesmente, o fim. Na diversidade de formas como é compreendida e enfrentada, a morte se apresenta como um importante revelador acerca dos modos como a própria vida é definida em um dado ambiente social. Neste artigo, estamos interessados em investigar o que a morte tem a nos ensinar sobre a vida no ciberespaço.
Sugerimos, aqui, que o Orkut apresenta algumas características que parecem apontar na direção de uma corporalização do ciberespaço. Por muito tempo, foi comum a idéia de que o ciberespaço se fazia habitar fundamentalmente por um tipo de sujeito “virtual”, descorporificado. No limite, essa visão deu lugar a perspectivas acentuadamente idealistas, como aquela propagada por Pierre Lévy. Para este autor, a superação dos limites comunicativos do corpo físico e socialmente situado parece ser a condição sine qua non para o advento do estado de interconexão universal que ele denomina “cibercultura” (1999). Mais do que quaisquer elementos do mundo concreto...
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Para ler o texto integral clique: http://seer.ufrgs.br/intexto/article/view/4229/4136
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