sábado, 16 de abril de 2011

Sacha Sperling - Entrevista

 "Outras gerações tiveram o rock. 
Nós temos a internet"
RECICLADOS
Sacha Sperling em sua casa em Paris. O autor de 21 anos narra as dores 
de uma juventude assombrada 
pela grandiosidade do passado
 
O francês Sacha Sperling, de 21 anos, lança no Brasil seu primeiro romance Ilusões pesadas
 
ÉPOCA - Como você conseguiu, com 19 anos, publicar seu livro?
Sacha Sperling -
Acho que era um livro bom o bastante. Sempre procurei uma maneira de me expressar, queria contar histórias. Tentei música, fiz pequenos filmes, mas escrever foi o jeito mais natural que encontrei de fazer isso. Comecei a escrever sobre a minha vida e as de outras pessoas. No fim eu tinha uma colagem que dava um livro. Procurei um editor e já consegui publicar de primeira. Era algo que eu sonhava, mas não imaginava que conseguiria tão facilmente. As coisas deram certo para mim, tive a portunidade de me tornar um escritor em tempo integral. Meu segundo livro, uma história de amor chamada Les coeurs en skai mauve sai em setembro.

ÉPOCA - No livro, você apresenta os adolescentes da sua geração como pessoas que não têm desejos, vontades. Mas você diz que sonhava em ser escritor.
Sperling -
Eles parecem mesmo desiludidos. E como eu encontrei algo que eu gosto e quero fazer, muita gente me pergunta isso. Há uma distância entre mim e o meu personagem. Há coisas parecidas comigo, esse jeito meio tedioso de viver. Mas acho que eles são personagens extremos, estão em um momento muito específico da adolescência. Não é algo de uma geração, mas de qualquer adolescente. Eu estava interessado em mostrar esse momento de transição.

ÉPOCA - Para você, o que define a sua geração e o que você quis contar sobre ela no livro?
Sperling -
Talvez o fato de sermos uma geração que teve a oportunidade de olhar muito para o passado e fazer um estilo de vida reciclando essas referências. É uma geração que vive com muita informação - do mundo todo e de todas as épocas. Estamos um pouco perdidos então misturamos o que sabemos, o que nossos pais costumavam saber. Outras gerações tiveram o rock, o rap. Nós temos a internet.
"Há uma distância entre mim e 
o meu personagem. Há coisas parecidas comigo, 
esse jeito meio tedioso de viver."

ÉPOCA - Dá para dizer que é um livro autobiográfico?
Sperling -
É semi-autobiográfico. Era algo que eu queria, para que o leitor realmente ficasse ao lado do personagem, quase como se o leitor fosse um refém do personagem. Agora eu já não seio que é real e o que é ficção. Já misturei tudo. E o livro agora é mais importante do que a realidade para mim. No livro, o personagem tem 14 anos e agora tenho 21, então já faz um tempo desde que eu escrevi o livro. A única coisa real que ficou para mim é o livro.

ÉPOCA - Foi difícil ver, aos 19 anos, essas experiências sexuais e homossexuais publicadas em um livro?
Sperling -
Para ser honesto, quando se escreve um livro, você se envolve tanto no que está fazendo que não percebe o que ele é. Quando ele foi publicado, há dois anos, eu achava que era um livro sobre vida e morte, sobre um menino tentando ser um homem, tentando ver o outro. Mas isso era o que eu pensava. Fui perceber mais tarde que o que eu tinha escrito era na verdade uma história de amor entre um garoto e seu amigo. Então eu nem pensava nisso e, agora, não me importo nem um pouco. 
"Adultos olham para os jovens
como se eles fossem zumbis, dizendo: 
“Levante-se, pare de ver televisão, 
vá fazer alguma coisa, 
saia do seu quarto”. 
Mas há um lado bacana 
de ser um zumbi."
ÉPOCA - No livro, você compara adolescentes a zumbis. São como um símbolo dessa geração?
Sperling -
Sim. Representam toda a violência que está incluída na maneira como adultos vêem essa geração. Eu gosto de zumbis, eles são divertidos. Mas é uma figura violenta. Adultos olham para os jovens como se eles fossem zumbis, dizendo: “Levante-se, pare de ver televisão, vá fazer alguma coisa, saia do seu quarto”. Mas há um lado bacana de ser um zumbi.
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REPORTAGEM POR Mariana Shirai
Fonte: Revista ÉPOCA online, 14/04/2011
 
 

Um comentário:

  1. Eu realmente gosto da forma que ele escreve! O livro é muito bom , é como um espelho do meu passado, e engraçado ele tem a mesma idade que eu..... então.... identificação total dos 14 anos do personagem com os meus 14 anos... Esse ano tbm completo 21, esse livro é realmente um retrato da geração que nasceu em 90!

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