domingo, 10 de abril de 2011

Quero um presente...

Rubens Alves*


Imagem da Internet
Eu havia me esquecido desse texto que escrevi faz muitos anos. Acho que vocês também se esqueceram porque, se não tivessem esquecido, eu não o estaria tirando de dentro do baú das velharias. Como me lembrei dele? Um e-mail que uma amiga me enviou hoje, pela mesma razão de anos atrás. Comecei contando uma coisa bonita de uma senhora que se preparava para celebrar o seu aniversário. Seria o seu 100º! Cem anos é muito tempo...
As amigas já se mexiam à procura de presente dignos daquela data memorável. Foi quando elas receberam da anciã, cujo nome eu ignoro, uma mensagem: ela não queria presente algum para si mesma. Não precisava de nada. Queria sim, que suas amigas lhe dessem mantimentos que ela enviaria ao projeto Quero-quero!
O projeto Quero-quero um projeto educacional para crianças e jovens de periferia. Estava passando por dificuldades. Falta de comida. As amigas atenderam o pedido da anciã. Ela não ganhou nada. Só alegria. Não só as amigas... Também muitos dos meus leitores. O Quero-quero saiu do sufoco, provisoriamente.
Num momento de comoção e entusiasmo - o gesto da anciã foi comovente! - tocou a generosidade das pessoas, momentaneamente. Mas instituições não vivem de entusiasmos. Como se diz lá em Minas, entusiasmo é "fogo de palha"... As instituições precisam da perseverança do miudinho, o dia a dia, porque as despesas e os pagamentos não esperam.
Numa carta que recebi da Eliana França Leme, criadora do projeto Quero-quero, ela disse o seguinte: "Veja só: são aproximadamente 100 (cem) crianças de 6 a 17 anos 11 meses. Para a implantação deste programa, cada uma delas custaria aproximadamente R$ 50,00 por mês, e com R$ 150,00 por criança, poderíamos ter o sustento do Quero-quero inteiro, incluindo aí tods as despesas com funcionários, alimentação, contas a pagar enfim... despesas gerais, sem necessitar de ajuda do município, que a retirou em parte. Com a retirada de verbas, a situação do Quero-quero ficou muito instável, desesperadora mesmo, estando a precisar de complementação e ajuda emergencial das pessoas e empresas privadas de boa vontade, que amam as crianças e adolescentes e que o admiram pela seriedade que sempre caracterizou o Quero-quero. Sempre precisaremos da Prefeitura, mas estamos precisando desesperadamente do auxílio da comunidade campineira."
Lembrei-me do filme "As Confissões de Smith", com Jack Nicholson. É a história de um executivo de sucesso que se aposenta na posição mais alta que poderia alcançar. Aí começam as tristezas: passa a ser ignorado pelos antigos subordinados de trabalho, a esposa morre, a filha se torna uma estranha... Vem a solidão... Todos os seus triunfos passados não servem para dar sentido à vida. É então que lhe chega uma carta: de um menino da África que ele sustentava embora nunca o tenha visto. O menino lhe escrevia para agradecer... A carta daquele menininho desconhecido trouxe de volta para a sua vida o sentido que lhe tinha sito tirado... Se vocês não socorrerem o Quero-quero haverá crianças abandonadas sem ter quem as proteja.
Assim, vou fazer um pedido. Não vou completar 100 anos. Mas vou completar 78 em setembro. Não tem a magia do centenário, mas 78 já é um número respeitável. Peço, de vocês, um presente: tornem-se protetores de uma criança!
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* Educador. Escritor. Teólogo.
Fonte: Correio Popular online, 10/04/2011

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