sábado, 2 de abril de 2011

Geoff Dyer - Entrevista

"Inclassificável", Dyer faz visita ao Brasil

Imagem da Internet

Escritor inglês, elogiado pela crítica por ter um estilo original, participou do lançamento da revista "Serrote"
O autor, que diz ser fã de bossa nova e da obra de Machado, lança em 2012 um livro sobre o filme russo "Stalker"

DANIEL BENEVIDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O simpático escritor inglês Geoff Dyer parece sempre acompanhado de uma enorme curiosidade.
Na curta passagem pelo Brasil, foi à praia, estádio de futebol e museus. E participou dos lançamentos da nova revista "Serrote", com palestras nos Institutos Moreira Salles do Rio e de São Paulo.
Em conversa com a Folha, falou sobre seu estilo peculiar, que fez com que fosse considerado "totalmente inclassificável" e angariasse elogios rasgados de Martin Amis, Zadie Smith, Christopher Hitchens e outros.

Folha - Como é ser "totalmente inclassificável"?
Geoff Dyer - É o natural para mim. Eu apenas escrevo de um jeito que parece funcionar. Não é para me gabar, mas seu fosse a um médico, eu diria: "Doutor: eu tenho um problema; acho sou um escritor bastante original".

E como você definiria essa originalidade?
Fui muito influenciado por Roland Barthes, Thomas Bernhard, John Berger e outros. Mas sempre que eu quis parecer com essas pessoas, acabava parecendo comigo mesmo. No jazz é a mesma coisa, você só encontra sua voz tentando imitar alguém.

No ensaio da "Serrote", "Sobre Ser Filho Único", você revela que quase não havia estímulo cultural em casa. Seus pais leem seus livros?
Não, ainda bem (risos). Mas eles têm bastante orgulho do que faço. Os únicos livros na sua casa são os meus. Eles adoram esse estranho objeto que permite que eu não precise ir ao trabalho e ainda assim ganhe dinheiro.

Você cita como mentores alguns escritores engajados politicamente, como John Berger e o marxista Raymond Williams. Como você se coloca diante da política?
Fico surpreso que meus textos sejam apolíticos. Como pessoa, me importo bastante com o desespero e a miséria no mundo. E o fato de ter nascido numa família da classe operária certamente mexe comigo. Mas como escritor é diferente. Acho que é assim que funciona a disposição literária de cada um.

Você ainda se considera um "penetra"?
Não, seria muito autoindulgente da minha parte. No momento em que publiquei o ensaio dizendo que eu era um penetra, já não era mais. Agora sou aquele que é convidado (risos).

Para o "Instante Contínuo" você se inspirou numa curiosa classificação de animais, feita por Borges.
Esse livro demandou sua própria forma de estrutura. Combina bem com a internet, em que você pode mover a página para várias direções ao mesmo tempo. É mais ou menos o que Borges dizia com seu "Aleph", em que você pode ver tudo ao mesmo tempo. Tentei juntar o sucessivo ao simultâneo.

Como você vê as fotos em que você é o retratado?
(Ri) Boa pergunta. Richard Avedon dizia: "Eu não gosto dessa foto de mim, mas não posso dizer que não sou eu". Essa é uma verdade crucial sobre a fotografia. Tenho sido fotografado várias vezes nos últimos tempos. E o que eu vejo é esse cara grisalho de meia-idade. Quando eu ando na praia, esqueço da minha aparência; mas a fotografia me lembra dessa terrível verdade (risos).

Do que você gosta no Brasil ?
Ah... bossa nova, Jorge Amado, Machado... vou perguntar algo terrível: Saramago é português ou brasileiro?
Português.
OK, foi mal (risos). Bem, Sebastião Salgado...

E o que você acha dele?
Ele tem esse coisa épica ao retratar a pobreza. Não é o tipo de fotógrafo que me atrai mais. Prefiro trabalhos mais casuais, como os de Garry Winogrand.

Próximos planos?
Meu editor me pediu um livro sobre tênis, um esporte que eu adoro. Até pensei em escrevê-lo, mas por alguma razão, que deixou meu editor louco da vida, acabei escrevendo um livro inteiro sobre o filme "Stalker", do cineasta russo Andrei Tarkovski. Sai na Inglaterra em fevereiro de 2012. É um livro totalmente insano e muito engraçado.

RAIO-X
GEOFF DYER

VIDA
Nasceu em 5/6/1958, em Cheltenham, Inglaterra. Formou-se no Corpus Christi College, em Oxford

LIVROS
Autor de "Ioga Para Quem Não Esta Nem Aí" (2003) e "Jeff Em Veneza, Morte Em Varanasi" (2009). A obra "But Beautiful: A Book About Jazz" (1991), vencedora do prêmio Somerset Maugham Award, não tem tradução no Brasil

JORNALISMO
Tem artigos publicados em jornais como "The Guardian", "The Independent", "New Statesman", "Esquire" e "The New York Times"

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Fonte: Folha online, 02/04/2011

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