Joaquim Zailton B. Motta*
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Moça solteira conheceu um cara casado, trabalhou uma semana com ele, fechados na mesma sala, imaginando que em dado momento teria que ouvir uma cantada. Como não aconteceu, chegou a pensar que ele fosse gay ou bissexual.
Pressionadas, de um lado, pela cultura machista que apresenta a cabeça do homem totalmente fixada no sexo; de outro, pela ordem moralista de que elas devem se prevenir contra os assédios masculinos, muitas mulheres vivem essa contradição tradicional.
As tradições ortodoxas radicalizam: “Não existe homem fiel”. Vêm reações indignadas de alguns cônjuges: “Ah, o meu marido é fiel, tenho certeza.”; “Nunca traí minha mulher, eu a amo.”...
Entre dúvidas e convicções, existe um oceano de nuances. Como definir a infidelidade masculina? Frequência dos encontros, situações de interação triangular, envolvimento sentimental, sexo casual, eventualidade, prostituição, distância geográfica, casos simultâneos e o nome da(s) amantes(s) – tudo deve ser ponderado?
Segundo Maryse Vaillant, educadora e psicóloga francesa, a fidelidade do homem é tão rara que a mulher deveria não mais se preocupar com isso, ir para seus relacionamentos com eles sem pensar nas traições e aventuras masculinas.
A autora de “Les Hommes, L‘amour, La fidélité”, livro ainda não traduzido no Brasil, expõe algumas ideias que abalam as convenções do sexismo e do moralismo. Duas colocações mais polêmicas: o homem costuma trair também quando ama; o homem que não trai tem problema de caráter...
Para suas conclusões, a autora fez dezenas de entrevistas, não preocupada com valores estatísticos que quantificassem infiéis ou traídas, tentando entender porque os homens têm muito mais aventuras – e o que isso tem a ver com as ligações amorosas. Desenvolveu também uma tentativa de questionar culpas que as mulheres sentem quando são traídas, como se fossem responsáveis pelo comportamento dos maridos.
Em outro livro, Amar de Olhos Abertos, os psicólogos argentinos Jorge Bucay e Silvia Alinas aproveitam as ideias do psicólogo transpessoal norte americano John Welwood: “Só muito recentemente passou-se a acreditar que amor, sexo e casamento devem ser concentrados em uma mesma pessoa. Somos os primeiros a reunir o amor romântico, a paixão sexual e o compromisso conjugal em um só acordo. Segundo Margaret Mead, essa é uma das formas de união mais difíceis que o gênero humano já criou”.
Daí, os autores acrescentam: “... o casal como o que conhecemos hoje em dia não funciona... no futuro, se aceitaria a possibilidade de encontros íntimos com várias pessoas. Aceitaremos, em última instância, o óbvio: que na verdade podemos, sim, amar várias pessoas ao mesmo tempo, ainda que nos relacionemos com elas de diferentes maneiras... Por que não começar a mudar a mentalidade e aceitar o que está acontecendo em vez de manter relacionamentos impossíveis?”.
Essa perspectiva de ajustar os casais de novas maneiras, com um alívio dos compromissos, em princípio, parece favorecer mais o gênero masculino. Sim, pois os laços afetivos se sustentariam dispensando a fidelidade.
As estatísticas apontam para uma confluência de dados. Ou seja, o índice de infidelidade feminina tem crescido e se aproxima do masculino. Mas não sabemos se isso se dá por uma inspiração da mulher, cujo desejo sexual se pulveriza como o do homem, ou se é um imperativo devido à busca da igualdade de gêneros.
O tema mobiliza muita controvérsia e será muito focalizado e debatido nos próximos anos. Na próxima semana, falo sobre a (in)fidelidade da mulher.
Por hoje, quero lembrar que existem homens heterossexuais fiéis, ainda que seja minoria. Eles seguem uma rigidez moral determinista (sei que outras me atraem mas não vou trair) ou estão em enlevos românticos excepcionais.
------------------------- *Médico psiquiatra, psicoterapeuta e sexólogo. Escritor, já publicou 07 livros, o mais recente em maio de 2007. Participou também de coletâneas e outras publicações. Palestrante e congressista de vários eventos nacionais e internacionais. Articulista, mantém há 07 anos a coluna Sexualidade do jornal Correio Popular. Professor – convidado do curso de especialização em Sexualidade Humana da Unicamp e da UniAraras. Coordenador do GEACamp (Grupo de Estudos sobre o Amor de Campinas)
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