Alçado ao Ministério da Justiça no auge da tensão entre o presidente
Michel Temer e os operadores da Lava Jato em Brasília, Torquato Jardim
não esconde a que veio. Horas após sua indicação, em entrevista à Folha,
disse que "vai avaliar" mudanças no comando da Polícia Federal.
O novo ministro também defendeu que outras associações do Ministério
Público Federal, além da ANPR (Associação Nacional de Procuradores da
República), façam listas para disputar o comando da PGR
(Procuradoria-Geral da República), hoje nas mãos de Rodrigo Janot.
Torquato falou à reportagem neste domingo (28), por telefone, de dentro
da van com a comitiva presidencial após viagem para vistoriar áreas de
enchentes em Alagoas. Prometeu ouvir Michel Temer em tudo.
Ele é ex-ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), corte que julga
daqui oito dias ação que pode levar à cassação do presidente. Em
resposta enviada por sua assessoria, disse que o julgamento "será
técnico".
*
O sr. assume o Ministério da Justiça no momento de maior tensão na relação entre Michel Temer e a PGR. Como pretende atuar?
Torquato Jardim - Primeiro eu vou ouvir o presidente, saber a
avaliação que ele faz desse quadro e descobrir qual será o papel do
ministro da Justiça. De minha parte, sempre tive uma relação muito boa
com a Procuradoria-Geral da República, um diálogo muito franco, já no
Ministério da Transparência. Tenho amigos, ex-alunos e ex-professores
lá. O diálogo é sempre o melhor caminho.
O sr. pretende mexer no comando da Polícia Federal?
Eu vou avaliar. Vou ouvir a recomendação do presidente, de outras
personalidades que conhecem o assunto, fazer o meu próprio juízo de
valor e decidir. Não vou me precipitar nem antecipar nada.
Que avaliação o sr. faz hoje do trabalho da PF?
Eu não tenho nenhuma avaliação.
Como o sr. recebe as críticas de entidades, como a associação de delegados da PF, à sua nomeação?
Não li nada, não sei.
Divulgaram nota dizendo receber as notícias de troca no ministério com preocupação.
Estou em Maceió, vim com o presidente vistoriar a área de enchentes. Não li nada. Preciso conhecer as notas para poder falar.
O sr. foi nomeado para melhorar a interlocução do governo com os tribunais superiores?
Historicamente o Ministério da Justiça sempre foi o canal de comunicação
do Executivo com o Judiciário. De modo que esse papel dentre todos os
que tenho que desempenhar é o que menos me preocupa. Tenho 40 anos de
experiência, advoguei em todos os tribunais. Fui assessor do STF,
ministro do TSE. Eu conheço a lógica da magistratura.
Mesmo em meio à essa grave crise política?
O que interessa, em primeiro lugar, é a economia. A crise não é política –a mídia transformou em crise política–, mas econômica.
Em segundo lugar, a parceria do Executivo com o Congresso está intocada.
Serão votadas todas as reformas, trabalhista, da Previdência, o
financiamento das dívidas dos municípios.
Isso passando, a agenda econômica avança. A questão é econômica e essa é uma área que está muito bem conduzida.
Há um temor de que o sr. esteja sendo nomeado para interferir na Lava Jato?
Em absoluto. Não tem nada a ver com isso.
O sr. já fez diversas críticas à operação. Sobre as prisões provisórias, por exemplo.
Lancei dúvidas clássicas de um advogado. As prisões são legais, isso é
certo. O que me preocupa é a fundamentação correta e precisa do tempo de
prisão temporária, quanto ela deve se alongar. E essa preocupação não é
só minha. É do Supremo [Tribunal Federal]. Mais de um ministro já falou
sobre isso.
Como o sr. espera que se desenrole a disputa pela sucessão de Rodrigo Janot no comando da PGR?
Temos oito colegas que se candidataram, vão fazer debates, percorrerão o
Brasil e receberão votos para compor a lista [tríplice, encaminhada ao
presidente]. Diante disso, nós vamos estudar a melhor solução. Não sei
também se outros ramos do Ministério Público não farão listas para o
comando da PGR.
O Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar? Eles
farão listas? O que se tem hoje é o processo feito por uma associação.
O sr. espera que outras entidades apresentem nomes para esse processo, é isso?
É provável. Há movimentos nesse sentido.
E isso seria bom?
Sim. Muito salutar. Quanto mais pessoas mais pessoas interessadas em participar, melhor.
O sr. não teme tratar desses assuntos em meio a uma crise tão aguda entre o governo e o Judiciário?
Eu discordo das premissas da sua pergunta. Não conheço tensão entre o Executivo e o Judiciário.
É a primeira vez que temos um presidente alvo de inquérito no STF.
Então vamos esperar a decisão do Supremo.
Como jurista, a situação de Michel Temer não o preocupa?
Não, não.
O sr. vê risco de o presidente não conseguir concluir o mandato?
De jeito nenhum. A questão é econômica, não é política. Se passam as
reformas no Congresso, nas próximas quatro ou cinco semanas, tudo será
resolvido.
O sr. foi ministro do TSE. A corte está sob forte pressão. Temer será cassado?
O julgamento no TSE será técnico. Os ministros decidirão com base no que
está nos autos. Tem a acusação e a defesa, a inicial e a contestação,
como em qualquer ação. No mais, é especulação. A inicial é referente à
2014 e o que será observado são os fatos e provas que ali estão.
Como foi o convite?
Tranquilo. Eu e o presidente nos conhecemos há mais de 30 anos. Ele
disse da necessidade de uma otimização administrativa no ministério. Em
seguida, fez o convite para que o [Osmar] Serraglio vá para a
Transparência.
Ele é mestre em direito público, professor... Tem a formação básica
[pausa]... Tem a formação clássica para ocupar o ministério. E eu recebo
essa responsabilidade com muita tranquilidade. Sei que a tarefa é
enorme, mas nada me assusta.
-
Raio-x
Nascimento
12 de dezembro de 1949
12 de dezembro de 1949
Formação
Advogado, pós-graduado na Universidade de Michigan
Advogado, pós-graduado na Universidade de Michigan
Cargos ocupados
Ministro do Tribunal Superior Eleitoral
(1988-1996), presidente
do Instituto Brasileiro
de Direito Eleitoral
(2002-2008) e ministro
da Transparência (2016-2017)
Ministro do Tribunal Superior Eleitoral
(1988-1996), presidente
do Instituto Brasileiro
de Direito Eleitoral
(2002-2008) e ministro
da Transparência (2016-2017)
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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/05/1888277-preocupacao-com-tempo-de-prisoes-temporarias-e-do-stf-diz-jardim.shtml
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