Adriana Salles Gomes
A confiança, como mostrou Francis Fukuyama em livro de 1995 (“Confiança”), é a pedra angular da sociedade moderna, o que faz com que a convivência social seja minimamente harmônica, próspera e capaz de garantir o bem-estar (não só econômico) dos que vivem sob um mesmo céu. Confiança no quê? A confiança recíproca entre os cidadãos alimenta a confiança de todos na existência de uma coletividade.”
Foi o Contardo Calligaris que escreveu isso no dia 18 de dezembro último, a propósito de uma decisão da Justiça italiana de obrigar uma clínica médica a indenizar a sociedade pela quebra de confiança que provocou ao realizar procedimentos desnecessários, e vocês podem conferir a história no blog dele. Eu acrescentaria que o filme Mary Poppins é quase tão pedagógico quanto o Fukuyama ou a Justiça italiana ao tratar do assunto, quando mostra a corrida das pessoas ao banco do sr. Banks por pura quebra de confiança.
Pior é que confiança é bicho sutil, contraditório, tão volúvel quanto mulher com TPM. No mesmo dia, 18 de dezembro, que foi divulgada pesquisa da Fiesp mostrando que 36% dos empresários estão confiantes na economia brasileira em 2009, indicador que sobe para 66% se somarmos os satisfeitos e otimistas declarados (os pessimistas eram 29%), a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) soltou pesquisa de confiança com os consumidores mostrando queda de 5% em relação ao trimestre anterior e apostas lúgubres em inflação e desemprego em 2009 (embora, registre-se, 48% dos consumidores achem que tudo vai ficar como está). Se, nas nossas relações pessoais, às vezes basta um e-mail não respondido para que o vínculo de confiança se rompa, imaginem as marés da confiança coletiva.
O que está por trás de toda essa crise global, no fundo, é a quebra de confiança. Portanto, não importam os discursos, acredito que a palavra-chave em 2009 não será crescimento, nem paz, nem educação, mas confiança –daí este post. Mas sabem qual é meu medo? Que essa falta de confiança já tenha virado predesconfiança generalizada, assim como conceitos viram preconceitos. Porque aí fica bem mais difícil de recuperar. Querem ver exemplos de predesconfiança para sentirem o drama? A predesconfiança em relação à classe política no Brasil. Ou em relação ao Gilmar Mendes (STF). Eu sei que peguei emprestada uma predesconfiança do veterinário dos meus cachorros e não consigo eliminá-la: se uma mesma pessoa não gosta nem de animais de estimação, nem de plantas, nem de crianças, não consigo confiar nela. Também percebi que não confio em quem é indiferente a música.
E vocês? Em quem vocês não confiam? Vocês estão dispostos a voltar a confiar no mundo em 2009? Tomara que sim. Feliz Ano Novo!
Fonte: Adriana Salles Gomes, Editora-executiva da HSM Management – post do blog HSM06/01/2009
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