sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Ele está indo embora. De verdade

Gail Collins
THE NEW YORK TIMES
Na noite de ontem, o presidente George W. Bush deu adeus ao povo americano. A excitação aumenta. Ele tem dito adeus há tanto tempo que lembra uma daquelas bandas de rock que estão fazendo aquela turnê de despedida desde 1982. Tivemos entrevistas a respeito da saída aos montes e uma coletiva de imprensa na segunda-feira na qual ele relembrou sua chegada em 2000. "Parece que foi ontem", disse.

Acho que falo por toda a nação quando digo que a maneira pela qual a esta transição está se arrastando, mesmo ontem não parece ontem. E a última vez em que George Bush não teve uma contribuição em nossas vidas parece ter sido em 1066.

Até agora, as aparições de Bush para dizer adeus não atraíram muitas críticas entusiasmadas (O mais impressionante talvez, tenha sido uma crítica da última coletiva de imprensa feita por Ted Anthony da Associated Press: "Tudo pareceu estranhamente íntimo e, ocasionalmente, desconfortável, como ver um encanador com a calça jeans caindo".)

Uma pesquisa do instituto Gallop descobriu que seu índice de aprovação havia subido ligeiramente desde que eles começaram, mas isso se deu provavelmente devido ao entusiasmo pela sua saída de cena.
– Às vezes vocês me submal-estimavam – disse Bush.

Esta não é a primeira vez que nosso presidente se preocupou com submal-estima, de maneira que é justo considerar isto não como um lapso verbal, mas como algo que o presidente dos EUA acha que é uma palavra. A retórica é a única parte da administração de que vamos sentir falta. Estamos para entrar em um mundo no qual nosso comandante supremo fala usando sentenças completas, e não sei o que vamos fazer para nos divertir em dias de tédio.

Durante as últimas semanas, soubemos que ele pensa que a resposta ao Katrina funcionou bem exceto por uma foto montada, e que ele considera o fato de termos invadido um outro país baseados em informações falsas uma "decepção". Desde que Bush também se referiu às decepções de seu período na Casa Branca como "um irritador menor" talvez seja melhor pensar no fracasso das armas de destruição em massa com uma espinha na pele rosada da administração.

O homem que nos deu a Operation Iraqi Freedom (Operação Liberdade no Iraque), a Freedom Agenda (Agenda da Liberdade), as USA Freedom Corps (Unidades para a Liberdade dos EUA) e a New Freedom Comision on Mental Health (Nova Comissão de Liberdade para a Saúde Mental) degradou um dos mais profundos conceitos no vocabulário nacional fazendo que fique difícil ouvi-lo sendo usado sem lembrar a frase de Janis Joplin sobre como a liberdade é apenas uma outra palavra para nada mais a perder.

Há muitas maneiras de abordar esse negócio de discurso de despedida. Ronald Reagan começou com amigos vencedores, então desviou para uma advertência contra o governo inchado e um pedido para que criassem uma nova geração de patriotas que soubessem "quem Jimmy Doolittle foi". O de Bill Clinton soou muito como uma oferta para um terceiro mandato.

Mas, o que Bush poderia possivelmente ter dito ao país que poderia mudar a opinião de qualquer pessoa sobre os últimos oito anos? "Meus amigos americanos, antes de eu deixá-los na próxima semana quero que saibam que...

A) Embora as coisas tenham dado muito errado, me conforto ao perceber que Dick Cheney esteve realmente no controle desde o começo. Honestamente, eu nunca conheci metade das pessoas no Gabinete.

B) Laura e eu percebemos que no todo, a aposentadoria em uma mansão no Texas é totalmente inapropriada. Então saímos para começar uma nova vida como missionários em uma pequena estação de resgate no deserto de Gobi...

C) Surpresa! Tudo isso foi na verdade um sonho ruim. Na verdade ainda é novembro de 2000 e amanhã Al Gore vai ser eleito presidente.

Do contrário, a melhor abordagem possível para um discurso de adeus poderia ser Bush seguir seu pai e não fazer nenhum.
http://ee.jb.com.br/reader/clipatexto.asp?pg=jornaldobrasil_117648/104547 16/01/2009

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