terça-feira, 27 de dezembro de 2011

'Chaplin pode parecer péssimo na TV'

David Robinson lança no Brasil biografia
sobre o cineasta britânico e diz que comédias
funcionam melhor com plateias grandes
Pesquisador do cinema mudo conheceu
o comediante em 1952, durante a estreia
de "Luzes da Ribalta"
Autor do livro "Chaplin - Uma Biografia Definitiva" (1985), que acaba de sair no Brasil, o escritor inglês David Robinson, 81, é considerado um dos maiores estudiosos e pesquisadores da história do cinema mudo.
Além de Chaplin, Robinson escreveu uma obra importante sobre o ator e diretor Buster Keaton e colabora em diversos festivais que mantêm vivo o fascínio pelos primórdios do cinema.
Ele falou com exclusividade à Folha.

Folha - O senhor teve contato pessoal com Chaplin?
David Robinson - Diria que vi Charles Chaplin (1889-1977) umas seis vezes e me encontrei com ele, provavelmente, duas. A primeira, foi na estreia de "Luzes da Ribalta", em 1952. Eu era um jovem e pobre estudante de cinema, mas consegui juntar o dinheiro necessário para comprar um ingresso e alugar um terno para a ocasião.
Era excitante ver uma lenda que me acompanhou por toda a juventude, em carne e osso, e acompanhado de sua linda mulher, Oona, que tinha 20 e poucos anos.
Depois disso, eu o entrevistei para os lançamentos de "Um Rei em Nova York" (1957), "A Condessa de Hong Kong" (1967) e para o relançamento de "Tempos Modernos" (1936).
Finalmente, os Chaplins gostaram muito de uma crítica que escrevi sobre "Luzes da Ribalta" e me procuraram. Acabei como convidado para a festa de família que celebrava sua condecoração pela rainha Elizabeth 2ª e depois para estar com ele no último dia de sua carreira no cinema, quando chegou ao estúdio para supervisionar a gravação da música de um filme seu antigo, "Casamento ou Luxo" ("A Woman of Paris", de 1923).
Essas ocasiões, em que pude conversar e conhecê-lo de uma maneira mais íntima e tranquila, infelizmente, aconteceram tarde demais. Percebi que sua mente e suas reações ainda estavam alertas, mas ele tinha muita dificuldade de se comunicar.
Ele foi, no entanto, muito gentil e charmoso. E, mesmo que tenha falado pouco, pude perceber que estava na presença de um ser humano extraordinário e mítico.

Como o senhor sente que as novas gerações reagem a filmes da era do cinema mudo?
Eu dirijo o Festival de Cinema Mudo Pordenone (Il Giornate Del Cinema Muto) e, todo ano, atraímos mais e mais jovens. Nas sessões que promovemos, eles são, sem dúvida, os mais entusiasmados. Acredito que boa parte deles responderia da mesma forma, uma vez que descubram os filmes mudos.
Também trabalho com o Bristol Slapstick Festival, e todo ano nós lotamos um cinema de 1.500 lugares, com um público formado, em sua maioria, por jovens e pessoas que nunca viram um filme mudo com orquestra. A reação é sempre de êxtase.

Com a proliferação de "home theaters" e TV a cabo, assistir a filmes tem se tornado uma experiência mais solitária. No entanto, os filmes de gênios como Chaplin e Keaton foram feitos para serem vistos com uma multidão, numa tela grande. A maneira como as pessoas assistem aos filmes, hoje, pode mudar a reação que elas têm sobre eles?
Sim. A tela pequena e a tela grande oferecem experiências diferentes. Certamente, os filmes mudos -repletos de emoção, seja humor ou sentimento- foram feitos para o cinema e as comédias, em especial, funcionam melhor com uma plateia grande.
Especialmente no caso de Chaplin. Mesmo um de seus filmes sonoros, "Luzes da Ribalta", pode parecer péssimo numa tela de TV, enquanto no cinema, com a reação de uma plateia, que é como os filmes foram originalmente concebidos, é uma obra-prima.

O senhor acredita que existam filmes do início do cinema que ainda não foram devidamente estudados?
Todo ano, no Festival Pordenone, frequentemente surpreendemos nosso público -que é muito bem informado sobre o assunto- com filmes ótimos que eles não conheciam e de que nunca tinham ouvido falar.
Atualmente, temos aprendido que o cinema soviético foi muito mais rico e variado do que acreditávamos. Nos últimos dois anos, temos exibido o trabalho de um diretor chamado Lev Push, cujos filmes fascinantes, feitos na Geórgia, simplesmente desapareceram depois que ele virou alvo de perseguição política de Stálin.

Qual sua opinião sobre a indústria do cinema hoje?
É uma pergunta difícil. A hegemonia de Hollywood só cresce a cada dia, em detrimento dos cinemas locais.
E cada vez menos filmes hollywoodianos me interessam. Sinto como se estivesse vendo lindos produtos, mas, frequentemente, são produtos sem inspiração.

Raio-x: David Robinson

VIDA
Nasceu em Lincolnshire, na Inglaterra, em 6 de agosto de 1930, e é considerado hoje um dos maiores pesquisadores e críticos de cinema mudo do mundo

PRINCIPAIS OBRAS
Entre seus livros, estão "Chaplin - Uma Biografia Definitiva" (Novo Século), "Hollywood in the Twenties" e "Buster Keaton" (ainda sem tradução no Brasil)

EM FESTIVAIS
Fez parte do júri do Festival de Berlim, em 1973, e é diretor do Festival Giornate Del Cinema Muto, que acontece todo mês de outubro em Pordenone, Itália

Livro justifica presunção do título brasileiro

CRÍTICO DA FOLHA

O título em português do livro de David Robinson -"Chaplin - Uma Biografia Definitiva"- pode soar um pouco presunçoso. Mas qualquer um que ler o tijolo de quase 800 páginas termina duvidando que exista algo que ficou de fora dessa biografia de um dos artistas mais importantes do século 20.
É, certamente, uma leitura indispensável não só para fãs de Charles Chaplin, mas para qualquer um que tenha interesse em conhecer um pouco mais sobre a história dos primórdios do cinema.
Lançada originalmente em 1985, o livro foi revisado em duas edições posteriores, publicadas em 1992 e 2001. É esta última versão que chega ao Brasil.
Para o pesquisador inglês, não surgiram grandes revelações sobre a vida e obra do criador de Carlitos após a publicação da última versão de sua obra.
"Sei que um grande pesquisador, Barry Anthony, está preparando um livro sobre a carreira de Chaplin em teatros musicais e acho que ele descobriu coisas novas sobre as carreiras bem modestas da mãe de Chaplin e de sua tia Kate. Isso é algo que me interessa muito."
(AB)
CHAPLIN - UMA BIOGRAFIA DEFINITIVA
AUTOR David Robinson
EDITORA Novo Século
TRADUÇÃO Andrea Mariz
QUANTO R$ 79,90 (792 págs.)

DO BLOG:
Veja em Youtube - Chaplin (1992) Trailer


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Reportagem por ANDRÉ BARCINSKI CRÍTICO DA FOLHA
Fonte: Folha on line, 27/12/2011
Imagens da Intenet

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