sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Presépio que Deus colocou

Enrique Monasterio*

No princípio Deus quis colocar um presépio, e criou o universo para enfeitar a manjedoura.
Primeiro inventou o tempo, e dividiu-o em meses, em semanas e em dias. Os dias estavam formados por milhões de anos, que são como instantes para Deus.
E começou seu trabalho.
Fez o céu, e encheu-o de estrelas e de pássaros.
Fez a luz, e logo o sol (assim conta a Bíblia, ainda que pareça estranho), e acendeu uma lâmpada branca na noite para que se visse bem a cara de Jesus e não se enganassem os anjos da Noite feliz.
Fez as montanhas, tão autênticas que pareciam de rolha, e as coroou de águias e de neve.
Fez mares e oceanos de papel de prata, e grandes desertos de areia dourada para os camelos dos Reis Magos.
Depois chamou a menor de todas as estrelas (tinha apenas 6 milhões de hipergigawatts), e levou-a até a outra ponta do universo. Ali, com muito cuidado, deu-lhe um empurrãozinho com o dedo, com a força justa para que, milhares de séculos mais tarde, iluminasse sobre as praias da Arábia à vista dos Magos do Oriente.
Tudo isto não foi muito difícil para Yahweh. Com o seu olhar coloriu todas as espécies de flores que havia criado, e atapetou de musgo as margens dos rios. Também fez crescer as árvores, que, ao espreguiçar-se, agitaram o ar e formaram a brisa e os vendavais. Agora dizem que é o vento quem move as árvores e não ao contrário, mas isto teria que demonstrá-lo.
Do vento nasceram as dunas e a primeira música do campo.
Logo Deus fez uma pausa, e pensou onde colocar seu presépio. E decidiu que em Belém. Imaginou as figuras: o boi, a mula, as lavadeiras, os pastores... E, como não tinha pressa, lhes deu uma estirpe: pais, avós, bisavós... Centenas de vidas para criar cada vida; centenas de amores para conseguir o gesto, o tom de voz, a mão estendida na postura exata do presépio de Deus.
Pensou em sua Mãe: toda a eternidade sonhou com Ela. E, desejando suas carícias, foi desenhando nos antepassados de Maria como esboços dessa flor que havia de brotar a seu tempo.
Igual a um artista que persegue tenazmente a pincelada perfeita, Deus pintou milhares de sorrisos em outros tantos lábios. E ensaiou em outros olhos o olhar limpíssimo que teria sua Mãe. Até que um dia nasceu a Virgem, sua Filha predileta, sua Esposa Imaculada, sua obra mestra. E a colocou no presépio junto à manjedoura, com Jesus, que, por ser só de Maria, era seu retrato vivo.
E viu Deus tudo o que havia feito. E tudo era muito bom; mais ainda, estupendo. E tanto gostou que decidiu transmitir diretamente o nascimento de seu Filho a todos os dezembros da história, e a todos os corações que tivessem lugar para um presépio. Assim inventou o Natal.
O Natal não é um aniversário, nem uma recordação. Muito menos só um sentimento. É o dia em que Deus coloca um presépio em cada alma. Somente pede-nos que lhe reservemos um canto limpo; que lavemos as orelhas para ouvir a canção dos anjos na Noite feliz; que tiremos a sujeira acumulada, acudindo ao estupendo detergente da Penitência; que abramos as janelas e olhemos o Céu se passarem de novo os Magos; que são verdade, que existem, e vem seguindo a estrela de então, caminho do mesmo portal.
Ainda que talvez só vejamos um casal jovem de imigrantes que acabam de chegar à cidade. Não trazem o burrico, porque a espécie está em perigo de extinção, mas uma moto desvencilhada, que sabe Deus como ainda segue funcionando. Não encontrarão lugar nos hotéis, e ela deverá dar a luz no Metrô. Difícil será para a estrela entrar ali embaixo e situar-se na estação sem permissão da polícia municipal.
Se passarem por tua porta, não lhes digas que tens a casa cheia de hóspedes. Eles se conformam com o estábulo de teu coração. Abre-o de par em par, e, como é Natal, disponha-te a brincar de bonecas com Maria. Deixa-me que te acompanhe: emprestar-te-ei a rolha das montanhas, meu castelo de Herodes, um burrico com a orelha rasgada, a prata para o rio e um racimo de anjos, que nos ensinarão canções de manjedoura para o Menino do presépio.
Com a prece e a bênção copiosa do Céu, um Santo Natal de nosso Senhor JESUS CRISTO e um Abençoado 2012.

MAIS

Natal Dig...wmv
http://www.youtube.com/watch?v=nOpEH3T-kJY

Natal de CORDEL
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* Monasterio, Enrique. El Belén que puso Dios. Madrid, Ediciones Palabra, 200410, 152 págs.

Tradução do espanhol: Mons. Inácio José Schuster
Imagem da Internet

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