segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Não é preciso mais se envergonhar por bajular o chefe

Lucy Kellaway*
Burocrata britânico, Matthew é inteligente e respeitável. Não o conheço, mas sim um amigo seu. Esse contato me enviou uma mensagem curta que Matthew acaba de colocar no Facebook onde ele diz: "Meu chefe. Um homem de princípios e bom senso". A mensagem está vinculada a um vídeo no YouTube que mostra o chefe sendo entrevistado. A postagem aparentemente não é irônica, e sim um exemplo simples e moderno de bajulação on-line.

Se Matthew fosse americano, eu nem teria dado atenção. Nos Estados Unidos, o que é conhecido como "bigging up" ocorre naturalmente. Mas Matthew é um inglês típico, tido como um bom camarada e, desse modo, sua postagem é muito importante. Algo está acontecendo nas redes sociais. As regras da política nos escritórios estão mudando, e não sei se estou gostando.

Todos sabemos há muito tempo que o Facebook pode acabar com carreiras. Se você colocar coisas ruins sobre sua companhia na internet, pode ser demitido. Mas, agora, estamos tendo que absorver uma outra verdade mais preocupante: postar coisas bajuladoras no Facebook pode ajudá-lo muito.

Portanto, qual é a nova etiqueta para a bajulação cibernética? O que é aceitável e o que é descarado? A resposta é que ninguém tem a menor ideia. Estamos estabelecendo essa etiqueta na medida em que seguimos com a vida.

Antigamente, as possibilidades para puxar o saco eram limitadas. Você podia fazer isso pessoalmente ou por meio de um memorando. Também era possível elogiar seu chefe a terceiros, caso achasse que eles iriam transmitir o recado. Mas não importava a maneira como você fazia, aquilo estava confinado ao ambiente do escritório.

Agora, essa divisão entre a vida profissional e a vida pessoal terminou. A bajulação transcendeu as paredes do local de trabalho e está por aí, à vista de todo mundo. De fato, há tantas oportunidades para se bajular colegas mais graduados pela internet que a única decisão que as pessoas precisam tomar é como achar a melhor maneira para fazer isso.

Uma bom jeito de começar é postar comentários favoráveis nos blogs das empresas, ou no YouTube. Por outro lado, há também o botão "curtiu" no Facebook. Há ainda a possibilidade de se escrever coisas edificantes sobre os superiores no LinkedIn. Um advogado da City de Londres que conheço tem um perfil que inclui comentários variados de seus subordinados atestando o quanto ele é um líder visionário e colega excelente.

Acima de tudo, as pessoas elogiam umas às outras no Twitter. E essa parece ser a principal função do site: trata-se de um grupo de apoio eletrônico grande e instantâneo. Você tuita para alguém e essa pessoa retribui.

Se você quiser praticar bem a bajulação on-line, precisa ter em mente de que se trata de um trabalho de período integral. Conheço uma mulher que era escritora profissional, mas agora dedica a maior parte de seu tempo bajulando colegas escritores na internet, tuitando e postando comentários elogiosos no Facebook. Há uma recompensa aqui. Recentemente, ela tuitou um artigo que escreveu para um jornal, acrescentando a seguinte instrução para seus seguidores: "por favor, tuite de volta e comente."

Pelas regras antigas, não há nada mais humilhante do que isso. Mas no mundo novo não parece ser. Pessoas perfeitamente decentes de todos os tipos fazem isso. Colegas razoáveis meus possuem seus BlackBerrys para que possam dar um "alô" toda vez que alguém os menciona no Twitter. Eles também fazem outra coisa que eu acho muito baixa: retuitar comentários positivos que outros fizeram sobre eles.

Dia desses, um leitor me escreveu perguntando sobre as novas políticas dos locais de trabalho em relação à internet. O que ele deveria fazer com os colegas que o ficavam convidando para ingressar no LinkedIn? Seria algo danoso para ele estar conectado a tantas pessoas que ele não conhece bem?

Não soube responder, uma vez que nem sei direito do que trata esse site. Portanto, fui me aconselhar com uma conhecida que leva uma vida intensa de conectividade cibernética. Ela disse que não há problema em estar conectado com o pessoal menos graduado, contanto que você escreva em seu perfil que é um grande orientador e mentor, explicando assim a presença de tantas pessoas relativamente sem importância em seu clube. Ter essas pessoas ali é, em todo caso, uma boa política de investimento: elas vão se sentir agradecidas também e vão reforçar as fileiras de bajuladores on-line.

Quanto mais você pensa a respeito, mais verá o quanto o novo sistema é desprezível. Puxar saco sempre traz resultado, só que agora a coisa funciona melhor do que antes, pois os chefes ficam o tempo todo averiguando se são mencionados nas redes sociais.

No passado havia uma desvantagem na bajulação: ela fazia seus colegas se sentirem mal. A diferença com a internet é que seus colegas provavelmente estão fazendo a mesma coisa e assim você pode bajular o quanto quiser que eles não ficarão incomodados.
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*Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira
Fonte: Valor Econômico on line, 19/12/2011
Imagem da Internet

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