sábado, 24 de dezembro de 2011

A partícula de Deus

José Luiz Lopes Alves*

Seja qual for o credo, quando se observa a evolução humana pela seleção natural ou pela criação, ou por ambos (para quem consegue achar isto possível), é fácil perceber um dos maiores exemplos de variabilidade.
Examinemos os limites inferior e superior desses processos. Coloquemos, por exemplo, de um lado pessoas conhecidas, como Gengis Khan, Hitler, o carrasco do Tim Lopes, o atirador do Realengo e outros. No limite superior, coloquemos pessoas como São Francisco de Assis, Gandhi, Madre Teresa, Chico Xavier e outros. Apesar de todos possuírem um DNA quase igual, são indivíduos com personalidades muito diferentes. Todos nós, seres comuns, nos encontramos dentro desses limites, alguns mais próximos do limite superior ou inferior e alguns mais próximos do centro dessa enorme escala. A variabilidade gira em torno de uma média. A média da evolução do ser humano, como ser humano, seja por meio da seleção natural ou da criação. A média continua evoluindo. Todo o processo evolui. Sabemos muito sobre o extremo inferior, onde mais tempo esteve, por exemplo, Adolf Hitler. Sabemos que esses indivíduos possuem uma característica especial: a ausência de remorso. Não sentem absolutamente nada com relação à vida humana.
Ao mesmo tempo, sabemos muito pouco sobre o extremo superior. Sabemos que há uma natureza doadora por excelência nos indivíduos semelhantes a Gandhi. São pessoas que, se ainda não são santas, estão no caminho da santidade. São pessoas com dons especiais. Um exemplo típico e bem conhecido é a Madre Teresa. Certa vez, perguntaram ao fotógrafo que a acompanhava o que ele sentia quando chegava perto dela. Ele disse que sentia medo: “Enquanto eu olhava para ela, ela não olhava para mim, ela olhava dentro de mim”.
É possível conhecer um pouco do jeito de ser de pessoas no extremo superior da evolução, quando nos lembramos do episódio em que Madre Teresa recolheu uma mulher que estava numa sarjeta, morrendo. Estava com mau cheiro e coberta de vermes. As pessoas passavam ao largo para não ver a cena dramática da mulher moribunda. Madre Teresa levou a mulher para um abrigo, deu-lhe banho e comida e deitou-a numa cama. Pegou na mão da mulher e perguntou como ela estava se sentido. A mulher disse apenas obrigada, e morreu em seguida.
Madre Teresa, quando contou esta história, se surpreendeu com a reação da mulher. Disse que em seu lugar jamais diria obrigado, mas que estava com fome, ou algo parecido. Esta é a primeira questão fundamental que trazemos à reflexão do leitor. Indivíduos no limite superior da grande variabilidade humana, em particular os santos, não se dão conta do que fazem. Não têm noção do bem que praticam. Apenas fazem. Naturalmente, sem esforço. Doam como o mirto no vale, na visão de Gibran. Não sentem pena nem sentem dor. Mas o que diferencia os indivíduos menos evoluídos dos mais evoluídos é, na verdade, mais do que simplesmente a falta de remorso e a doação inconsciente, respectivamente. Estamos falando de uma evolução do espírito. No meio da escala, em volta da média, encontramos os nem muito bons e os nem muito maus. Este grupo se caracteriza por indivíduos que passam a vida procurando Deus. Procuram por meio de rituais, nas igrejas, nos templos, em experiências místicas e inclusive em equipamentos de alta sofisticação, como é o acelerador de partículas que procura no momento identificar a “partícula de Deus”.
Os santos e tantos outros que estão mais acima na cadeia da espiritualidade já encontraram Deus. Tolstoi lembrou bem isto quando escreveu Deus está dentro de vós! Quem o procura ainda não evoluiu o suficiente.
Só o tempo fará isto, contando com o livre-arbítrio. A primeira interface que aprendemos para falar com Deus, desde crianças, é a oração. Mas a evolução nos permite perceber sua existência sem orações, sem ritos ou experimentos. Pode ser uma bênção oportuna para a época de Natal deixar de esperar milagres científicos e apenas descobrir Deus no seu interior.
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*Engenheiro
Fonte: ZH on line, 24/12/2011
Imagem da Internet

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