Nizan Guanaes*
A "Pessoa do Ano" no Brasil foi
o trabalhador, não o manifestante;
e a "Palavra do Ano"
foi "trabalho"
A revista "Time" elegeu como "Pessoa do Ano" o manifestante que sonhou e realizou as revoluções pelo mundo em 2011.
De fato, foi um ano de revoluções, que acabou com as mulheres egípcias na praça Tahrir, no Cairo, lutando bravamente por seus direitos: uma revolução dentro de uma revolução. (Aliás, se as mulheres liderassem as revoluções, elas seriam muito mais eficientes e muito menos sangrentas.)
Já "occupy" (ocupe) é a palavra favorita na famosa eleição da "Palavra do Ano" da American Dialect Society. Em 2010, ela escolheu a palavra "app". Em 2009, "tweet" foi a "Palavra do Ano" e "google", a "Palavra da Década". Curioso como são todas palavras entendidas em qualquer lugar do mundo, palavras da nova língua global.
Os movimentos de ocupação foram um dos fenômenos mais visíveis desse novo mundo no qual o novo Brasil emergiu: começou com protestos de jovens desempregados na Espanha e, quando chegou a Nova York, com o "Occupy Wall Street", virou um movimento global, espalhado por centenas de cidades do mundo, mundo, pequeno mundo.
As novas tecnologias de comunicação hoje são muito mais revolucionárias do que o "Livro Vermelho" de Mao. E são instantâneas, de impacto imediato.
A capacidade de comunicar é a base de nossa existência coletiva. Quando ela evolui, tudo evolui. Pela primeira vez na história da humanidade todos temos a capacidade de nos comunicar com todos o tempo todo, de qualquer lugar.
"As novas tecnologias de comunicação hoje
são muito mais revolucionárias do que
o "Livro Vermelho" de Mao.
E são instantâneas,
de impacto imediato."
O poder dessa comunicação total é total. Vai mudar tudo, está mudando. Olhe para si e veja como sua vida mudou de uns anos para cá. Então sonhe, prepare-se, isso é só o começo.
Mesmo sem nenhum distanciamento histórico, é fácil ver como 2011 foi um ano de mudanças profundas.
Ficou claro que há um descolamento possível, mesmo parcial, das economias ditas emergentes das economias mais desenvolvidas. E que esse nosso crescimento sustentável está forçando um redimensionamento do nosso poder global: econômico e por consequência político.
Brasil, China, Índia e demais emergidos teremos cada vez mais voz e projeção no mundo. O pedido de socorro financeiro da Europa para a China foi um marco desse caminho inverso do mundo. Outro: os EUA estão chamando suas tropas para casa para cortar gastos militares. O cenário global, como tudo, ficará cada vez mais democrático.
Aqui no Brasil, nossa revolução é mais suave, mais brasileira. Depois do crescimento de 7,5% do PIB em 2010, pousamos suavemente neste ano, mas um bom ano visto daqui de onde estou, e meu setor é termômetro.
O número do ano que mais gostei foi o último do desemprego, divulgado na semana passada: 5,2% em novembro, o menor nível da série do IBGE. Um contraste absoluto com a situação de desemprego no hemisfério Norte.
Esse dado significa que nunca na história deste país tanta gente esteve trabalhando num mês de novembro. Por isso, a "Pessoa do Ano" no Brasil foi o trabalhador, não o manifestante. E a "Palavra do Ano" no Brasil foi "trabalho".
Outro dado do jornal que nos anima: o salário mínimo vai ter reajuste real de 7,5% em 2012, indo para R$ 622. Ou seja, a base da pirâmide, nossa maior e melhor base de crescimento, terá reforço na veia.
Essa base é a base de nossa revolução: a emergência das pessoas. Porque as pessoas sonham grande e correm atrás dos seus sonhos. E materializar sonhos é a forma mais gostosa de inovar.
Como Steve Jobs.
Steve Jobs é a síntese de inovação, a síntese do sonho grande e o compromisso com a vida, da compreensão da humanidade e a compreensão da tecnologia.
Esta época de fim de ano foi feita para descansar, fazer um pequeno balanço do que passou e, mais do que tudo, pensar o futuro, sonhar o futuro.
O Brasil nunca nos deu tantas oportunidades. O mundo nunca nos deu tantas oportunidades. A tecnologia nunca nos deu tantas oportunidades.
A revolução continua.
Ocupe sua vida.
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*NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.
Fonte: Folha on line, 27/12/2011
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