Mirian Goldenberg*
Após uma separação, é muito comum que os casais –mesmo os mais
apaixonados e felizes– se transformem em "inimigos mortais", como disse
uma atriz de 53 anos.
"Meu casamento durou 29 anos. Era aquele casamento que todos achavam
perfeito: fazíamos tudo juntos, conversávamos muito, viajávamos todos os
anos para o exterior. O típico casal modelo que provocava inveja em
todo mundo. Só que eu não me sentia mais feliz e decidi me separar. Ele
nunca me perdoou por isso".
Ela disse que o divórcio revelou a verdadeira face do ex-marido: um homem medíocre, mesquinho e ressentido.
"Durante muito tempo tentei ser amiga dele. Mas ele preferiu me ignorar,
destruir a nossa amizade. Tive um problema de saúde muito sério e ele
nem telefonou para saber como eu estava. Ele faz questão de fazer uma
pose de superioridade, mas é apenas um cara covarde, patético e
desprezível."
Também encontrei exemplos de separações que transformaram "sapos em príncipes", como conta uma psicóloga de 42 anos.
"Meu marido me sacaneou muito durante todo o casamento, transava com
prostitutas, chegava bêbado de madrugada, vivia cheio de dívidas. Aos
trancos e barrancos, nosso casamento durou 15 anos. Nos últimos anos nem
transávamos mais, cada um tinha a própria vida".
Mas tudo mudou com o divórcio.
"Ele fez questão de se tornar o meu melhor amigo. Ele não foi um bom
marido, mas se tornou o melhor ex-marido do mundo. Ele sempre me liga
para saber como estou, fica preocupado quando tenho algum problema, está
disponível quando preciso de apoio, aprendeu a me escutar com atenção.
Só ele consegue me acalmar quando entro em pânico por causa da crise do
país. Fiz uma cirurgia e ele ficou o tempo todo no hospital, cuidando de
mim. Ele poderia dar um curso: 'Como aprender a ser um ex-marido'".
A sensação de que não conhecemos as pessoas com quem compartilhamos a
vida fica mais evidente após uma separação. Podemos nos surpreender com o
egoísmo, a mesquinharia e a estupidez de alguém com quem tivemos,
durante muitos anos, uma relação de muita intimidade, cumplicidade e
amor. Mas o contrário, mesmo sendo mais raro, também pode acontecer. Não
é verdade?
P.S. Em breve a resposta masculina: "Como aprender a ser uma ex-esposa".
---------------
*È antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É
autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'.
Escreve às terças, a cada 15 dias.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/miriangoldenberg/2016/05/1771098-como-aprender-a-ser-um-ex-marido.shtml
Imagem da Internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário