sexta-feira, 27 de maio de 2016

De karl Marx a papa Francisco.


“A marginalização do pensamento de Marx
é também responsável pelo enfraquecimento
das forças democráticas.” ( Beppe Vacca)
(...)
“Além do projeto neoconservador das últimas décadas, a outra força global que parece ter assimilado muito profundamente o pensamento marxista e gramsciano parece ser a Igreja Católica do papa Francisco. “A liderança da Igreja tem continuado a incorporar inteligências e saberes, encontrando formas e lugares onde remexê-los, para o desenvolvimento de uma extraordinária doutrina social, sem nenhuma pretensão de invadir campos alheios, mas fazendo corretamente seu trabalho de instituição autenticamente global”, afirma o pensador italiano durante a conversa com Carta Capital.

A presença, o pensamento e a ação de Francisco, em particular, demonstram que a forma mentis da elite da Igreja pode sair do limite eurocêntrico. Além disso,  o papa argentino imprimiu uma extraordinária aceleração à reforma do catolicismo, começada no Concílio Vaticano II, abandonada e depois retomada por Ratzinger, mas agora muito mais atenta, do ponto de vista filosófico e teológico, à tendência de declínio da hegemonizada modernidade ocidental e preocupada também com a inaceitável fratura entre ciência e fé. “Essa consciência permite à elite intelectual da Igreja Católica metabolizar a cultura moderna e apropriar-se dela, assim como utiliza o marxismo de maneira impressionante.”

Graças a esse método, a Igreja, “trabalha para redefinir potencialidades da primazia católica no mundo. É fundamental colaborar com esse processo”. A razão dessa identificação é clara: a incipiente revolução feminina, a extraordinária continuidade das encíclicas e a pastoral de Francisco constituem uma clara expressão de hegemonia no mundo contemporâneo, a única alternativa ao poder dominante. “Não há no mundo pensamento tão forte como esse, a não ser o da expressão da violência, econômica ou militar”, conclui nosso interlocutor – o filósofo e historiador Beppe Vacca, destacado presidente do Instituto Gramsci, em Roma.” 
( Excerto do artigo: De Karl Marx a papa Francisco. Por Claudio Bernabucci, de Roma. Revista Carta Capital impressa, 25/05/2016, pág.52 e 53)
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