Emílio Hideyuki Moriguchi é médico, professor universitário e pesquisador. Possui graduação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutorado em Geriatria pela Tokai University School of Medicine, do Japão. Com pós-doutorado em Metabolismo de Lipoproteínas e Doenças Ateroscleróticas pela Wake Forest University School of Medicine, dos EUA, ele conversou com o Correio do Povo sobre qualidade de vida na velhice.
Qual a importância de envelhecer com qualidade de vida?
É a coisa mais fundamental para envelhecer. Não adianta envelhecer doente, mal, sem qualidade de vida, esse é o fator mais importante do envelhecimento: poder envelhecer bem, saudável e feliz.
Quais os hábitos que precisam ser repensados quando se fala em qualidade de vida e longevidade?
Quando falamos em hábitos de vida que precisam ser pensados para envelhecer bem, não há só a questão de alimentação saudável e atividade física, que todos sabem, também precisamos reforçar a importância de repouso adequado, tempo de sono adequado, lazer, que também são muito importantes. Muitas vezes nos esquecemos do lazer, que seria o sentir-se bem fora do trabalho, com a família e com os amigos. Além disso, também tem a questão do estilo de vida social, a saúde social, que é manter o papel do idoso ou da idosa na família e entre os amigos, e também a questão espiritual. Todos nós, independente da religião, temos valores nos quais acreditamos, então é importante dar espaço para cultivar a espiritualidade. O estilo de vida saudável para envelhecer bem é tudo. Alimentar-se bem, realizar atividades físicas adequadas, repouso, lazer, saúde social e a saúde espiritual, que é a questão da nossa mente, da nossa alma, que nos leva a acreditar e ter valores para podermos levar adiante as coisas quando, principalmente na velhice, elas estão difíceis.
Como o estilo de vida está relacionado com esse envelhecimento de qualidade?
O estilo de vida é uma coisa que a gente cultiva, vai formando desde criança, adolescente, juventude, vida adulta. Nosso estilo de vida determina como vivemos e hábitos saudáveis são fundamentais para um envelhecimento com qualidade de vida.
Quais as principais mudanças que devem ser promovidas em nível individual para que as pessoas consigam conquistar a tão esperada qualidade de vida, mesmo com o passar dos anos?
Fazemos mudanças quando as coisas não estão bem, então, as coisas que estão boas devem ser mantidas e em todos os aspectos de hábitos de vida. As mudanças devem ser promovidas onde pode ser melhorado. Se a dieta não é saudável, procurar opções mais saudáveis. Se a pessoa não está fazendo atividades físicas, está levando uma vida sedentária, procurar se exercitar adequadamente, porque cada um tem seu nível de atividade física. Não adianta uma pessoa sedentária sair correndo sem estar preparada. Esses hábitos devem ser graduais e, se possível, feitos após uma avaliação médica para identificar o quanto a pessoa pode fazer de esforço. As questões de repouso e lazer, revisando se o tempo de sono é suficiente e se tem tempo de convivência e lazer para acalentar a alma. O lazer não é luxo, é necessidade e faz parte de um estilo de vida saudável. Sobre a saúde social também, o papel dentro da família ou dos amigos. E, por fim, dar espaço para a espiritualidade dentro do que as pessoas já cultivaram ao longo da vida.
Qual o melhor caminho para buscar qualidade de vida a longo prazo?
Temos que querer envelhecer bem, essa é a primeira coisa. Esse é o primeiro passo. É uma decisão. E, a partir disso, tentar vivenciar as coisas certas que estão sendo feitas e tentar modificar, principalmente, em termos de sedentarismo e de repouso adequado, para que possamos realmente buscar uma qualidade a longo prazo e envelhecer bem.
A pandemia intensificou a discussão sobre um envelhecimento com qualidade? Por quê?
Acho que a pandemia tornou mais evidente essa discussão, pois agora temos mais tempo para ficar em casa, conversar, pensar. Antes da pandemia saíamos muito e talvez não houvesse tempo para refletir sobre algumas coisas e nem para dialogar tanto. Então, isso tornou mais evidente a importância de envelhecer melhor e com qualidade de vida, principalmente porque os idosos ficaram bastante isolados e protegidos por conta da pandemia e, ficando mais tempo em casa, eles próprios refletiram sobre seu envelhecimento. Isso trouxe uma conscientização maior através de mais diálogo. A pandemia trouxe ainda mais o medo da morte, então essa questão de refletir sobre esses assuntos fez com que a questão da qualidade de vida, de ser feliz nesse processo, viesse à tona.
Quais os impactos de um envelhecimento com qualidade do ponto de vista da saúde pública?
Certamente, do ponto de vista da saúde pública, o que todos nós queremos, em todos os países, é que as pessoas possam envelhecer com saúde e qualidade de vida, para ficarem menos doentes e usarem menos o sistema de saúde em termos de assistência e até de intervenções. Porque o que custa muito para a sociedade em termos não somente de sofrimento, mas também em custos financeiros, é um idoso que fica doente, que tem que ser internado ou receber intervenções avançadas. Então, se conseguirmos trabalhar com um envelhecimento com saúde e qualidade de vida, certamente, do ponto de vista da saúde pública, nós teremos uma sociedade melhor, mais alegre, mais feliz e com menos custo para o sistema de saúde.
O debate sobre as comorbidades nunca esteve tão em alta. É possível evitar ou reverter esses quadros de saúde?
Comorbidades são doenças como hipertensão, colesterol alto, depressão, outras doenças que podem estar relacionadas e que são mais frequentes com a questão do envelhecimento. Elas podem surgir à medida que envelhecemos por conta do tempo e dos fatores de risco e, ainda, de um estilo de vida nem sempre saudável. As doenças crônicas, como pressão alta, diabete e outras que podem complicar a nossa vida, podem surgir. É possível prevenir através de hábitos de vida saudáveis, o que certamente diminui o risco dessas doenças. Quem fica doente tem menos qualidade de vida, fica menos feliz e a palavra que mais ouvimos no serviço do Sistema Único de Saúde (SUS) são idosos que chegam doentes e dizem “doutor, faz alguma coisa porque está sendo um castigo ficar velho”. Ficar velho não é castigo, mas sim as doenças. Velhice não é doença, não é isso que reduz a qualidade de vida, mas sim as doenças que podem surgir para pessoas que não se cuidam, que não praticam um estilo de vida saudável: velhice não é doença, envelhecer bem é o que todos nós queremos.
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