segunda-feira, 26 de julho de 2021

O que são metaversos. E como Zuckerberg quer construir um

 

Cena do filme "Jogador Nº 1" (2018), dirigido por Steven Spielberg 

Foto: DivulgaçãoCena do filme "Jogador Nº 1" (2018), dirigido por Steven Spielberg

Conceito vindo da ficção científica tem feito brilhar os olhos da indústria tecnológica com promessas de mundos novos e fantásticos

Uma segunda vida, virtual, onde você pode ser o que quiser, participar de competições, encontrar amigos, fazer negócios, achar um amor. Essa é a proposta básica de metaversos, plataformas digitais que misturam realidade virtual e/ou aumentada, redes sociais e a internet no geral.

Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, deu uma entrevista publicada no sábado (24) em um podcast do site The Verge dizendo que está trabalhando para desenvolver seu próprio metaverso. Otimistas veem esse tipo de simulação como um divisor de águas para a civilização. Céticos e críticos veem a ideia como algo tecnicamente impossível e mais uma forma dos bilionários ficarem ainda mais ricos.

Neste texto, o Nexo explica o que são metaversos, os planos de Zuckerberg e outras iniciativas, e como o assunto divide opiniões.

Direto da ficção científica

Se a ideia de uma realidade virtual onde as pessoas passam a maior parte de seus tempos aparenta ser uma ideia vinda da ficção científica, é porque ela de fato é.

O termo metaverso foi criado em 1992 pelo escritor americano Neal Stephenson no livro “Nevasca”. No romance, o metaverso é uma realidade virtual onde as pessoas se encontram, conversam, trabalham e vivem a maior parte do tempo.

O conceito foi revisitado à exaustão no gênero, de diferentes formas, mas com uma estrutura básica similar à estabelecida por Stephenson. Em “Matrix” (1999), os indivíduos não sabiam que estavam dentro de uma simulação e viviam, na realidade, em um mundo apocalíptico. Já em “Jogador nº 1” (2018), estar no metaverso Oasis era uma decisão consciente, divertida e abraçada pela população global.

Já houve tentativas de metaversos antes. A mais emblemática foi o “Second Life”, que dominou as manchetes da imprensa nos idos de 2006, mas que nunca decolou. A promessa já existia: um lugar onde você vai passar a maior parte do tempo e viver a sua vida.

Se ainda assim você estiver tendo dificuldades para imaginar visualmente como um metaverso seria no mundo real, veja abaixo esta apresentação da empresa Adobe, feita em 2019, para falar de realidade virtual e realidade aumentada. Uma demonstração do universo digital aparece por volta dos dois minutos:

Os planos de Zuckerberg

Zuckerberg dá pistas de um possível metaverso do Facebook desde 2014, quando o conglomerado comprou a Oculus, empresa responsável pelo desenvolvimento de óculos de realidade virtual.

A entrevista do executivo no podcast do The Verge no sábado (24) falou pela primeira vez de forma mais concreta para explicar os planos da empresa, que seguem sem data para acontecer.

“Você pode encarar o metaverso como a materialização da internet, onde você não está só vendo o conteúdo, você está no conteúdo. E você está presente com outras pessoas como se estivessem em outro lugar, tendo experiências que você não pode ter em um app ou em um site, como dançar ou fazer alguns tipos de exercícios físicos”

Mark Zuckerberg em entrevista ao site The Verge

“Muita gente pensa no metaverso e logo faz a associação com realidade virtual – que eu acho que será parte importante disso. Mas não é só isso. Vai ser algo acessível por várias plataformas, realidade virtual [uma simulação completa, vista por meio de um óculos especial], realidade aumentada [quando elementos 3D aparecem no mundo real, por meio de modelos mostrados na tela ou hologramas], mas também pelo computador e pelo celular”, disse Zuckerberg.

Os metaversos, segundo o conceito criado por Stephenson, trazem características próprias, normas sociais específicas, uma economia particular e limitações impostas por seus desenvolvedores. Tem cara de um jogo online, mas não é só isso, de acordo com Zuckerberg.

“Acho que o entretenimento vai ser uma grande parte da coisa, mas acho que não é só um jogo. Vai ser um ambiente onde estaremos juntos, o que provavelmente vai se assemelhar com o ambiente híbrido que vemos nas redes sociais hoje, mas com você materializado dentro dele”, afirmou.

O executivo não deu detalhes sobre como está o desenvolvimento, como a tecnologia vai funcionar e quando ela será lançada. O Metaverso do Facebook é uma extensão natural do jogo “Facebook Horizon”, iniciativa da empresa lançada de forma limitada em 2020 – apenas para convidados – que traz um mundo virtual acessado pelos capacetes da Oculus.

O Facebook de Mark Zuckerberg não é a única instituição de grande porte a trabalhar em um metaverso. Em maio de 2021, o governo da Coreia do Sul anunciou planos para construir sua própria realidade digital.

A iniciativa, que também tem poucos detalhes públicos, é uma parceria entre o Ministério Sul-Coreano de Ciência e Tecnologia e empresas como a provedora de internet Naver e a montadora de carros Hyundai.

A primeira parte do plano, que já está em execução, envolve a discussão dos parceiros do projeto para estabelecer regras de como administrar o futuro metaverso e como garantir que ele será benéfico para a população do país.

Um grande salto?

A criação de um metaverso robusto, bem estruturado e amplamente usado divide a opinião de pessoas ligadas à indústria tecnológica.

“No metaverso, você e seus amigos vão mudar suas aparências e ir de lugares a lugares, tendo experiências diferentes, mas ainda sim conectados socialmente uns com os outros”, disse ao jornal The New York Times Tim Sweeney, diretor do estúdio Epic Games, responsável por “Fortnite”, um dos jogos mais populares da atualidade.

“O metaverso é o sucessor natural da internet móvel”, disse o analista e investidor de risco Matthew Ball em janeiro de 2020. “Não vamos ter uma ruptura clara de ‘antes do metaverso’ e ‘depois do metaverso’. Essas coisas vão surgir com o passar do tempo e logo estarão integradas.”

Já os céticos e críticos se dividem entre aqueles que acham que a tecnologia necessária para um metaverso funcionar da forma que foi planejado está décadas adiante e os que dizem que a novidade vai ser apenas mais uma forma de enriquecer um pequeno grupo de pessoas.

“Tudo depende de quem vai construir o metaverso”, disse à Forbes Frederic Descamps, CEO do estúdio Manticore Games.

“Até mesmo no filme ‘Jogador Nº 1’, quem construiu o metaverso ali? Tudo vai envolver o ato de criação disso. As marcas devem encarar isso com responsabilidade e ética para não tornar o mundo uma grande propaganda. Isso é de suma importância”

Frederic Descamps desenvolvedor de games, em entrevista à revista Forbes

“Mark Zuckerberg diz que quer que o metaverso seja um sistema aberto e colaborativo, liderado por muitas empresas e pessoas. Mas a história do Facebook em comprar concorrentes e diminuir a competição não me traz confiança. Mesmo que esse espaço seja colaborativo, eu me preocupo com a governança dele. As empresas de tecnologia não costumam gostar de regulação externa”, escreveu o colunista Thomas Macaulay no site The Next Web nesta segunda-feira (26).

“As pessoas ficam atraídas por grandes ideias, e não há ideia maior do que criar um metaverso com tudo que os seres humanos desejam. É um complexo de deus”, escreveu o colunista Darshan Shankar, do site Big Screen, em 2018. 

Fonte:  https://www.nexojornal.com.br/expresso/2021/07/26/O-que-s%C3%A3o-metaversos.-E-como-Zuckerberg-quer-construir-um?utm_medium=Email&utm_campaign=NLDurmaComEssa&utm_source=nexoassinantes

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