Inventor prevê futuro da indústria
Pai do celular diz que aparelho móvel virá
embutido no corpo e
fará exames médicos
Joana Duarte
No dia três de abril de 1973, na Rua 56, esquina com a Avenida Lexington, em Nova York, Martin Cooper realizou a primeira ligação através de um celular, com um aparelho que pesava aproximadamente 1 quilo. Trinta e seis anos depois, em entrevista concedida ao JB, o inventor do telefone portátil devaneia sobre o dia em que os aparelhos poderão ser embutidos no corpo humano e carregados através da energia produzida pelo próprio organismo do usuário. Cooper prevê ainda que o aparelho pós-moderno, com sua tecnologia futurista, realizará exames de saúde periodicamente no corpo do portador, enviando análises diretamente aos especialistas. Check-up, nunca mais.
A primeira ligação feita de um celular foi para quem?
- Na época, eu trabalhava na Motorola, uma pequena empresa em Chicago e tínhamos uma concorrente, a AT&T, que era a maior empresa do mundo. A AT&T disse que tinha inventado o celular, que na verdade era o telefone de carro. Nós achávamos a idéia terrível, porque ter o celular preso no carro era tão ruim quanto tê-lo preso em casa. As pessoas queriam liberdade e o mundo estava pronto para ter um telefone portátil. Quando finalizamos o celular, a primeira ligação que fiz foi para o Joel Engel, meu rival no Departamento de celular da AT&T. Eu disse: "Joel estou te ligando de um verdadeiro celular. O primeiro telefone portátil". Eu acho que ele não gostou muito. O telefone era enorme, pesava cerca de 1 quilo, e a bateria só durava 20 minutos, mas isso não era um problema pois só era possível segurá-lo por segundos.
O que acha do iPhone?
Para mim o iPhone é um aparelho experimental. Tem muitos recursos, alguns muito interessantes, como a tela sensível ao toque. Mas se você pensar na indústria de celular como um todo, 3 bilhões de pessoas usam celular, e numa estimativa otimista, 12 milhões devem usar o iPhone. A questão real é como os celulares podem melhorar a vida das pessoas. Enquanto esses aparelhos não solucionarem problemas críticos, serão apenas gadgets. Eu aposto que os usuários do iPhone usam apenas uma pequena parcela dos recursos do telefone.
Como o senhor vê a indústria do celular hoje?
Nossa indústria é muito nova, ainda está tentando descobrir como fazer mais do que apenas oferecer comunicação em movimento para as pessoas. Até hoje, essa foi a única contribuição: liberdade para comunicar-se em qualquer lugar. De forma geral, estamos fornecendo só comunicação de voz e sms. Todo mundo continua falando sobre o próximo grande aplicativo, isso não existe, o que importa é aquilo que faz as pessoas viverem melhor, ter mais serviços e obter educação. Ainda estamos pensando no meio de criar tecnologias interessantes, mas a questão-chave é melhorar a vida das pessoas.
O que devemos esperar no futuro?
Hoje, o maior problema com o celular é mantê-lo carregado, e se você esquecer disso, a bateria acaba e você perde a comunicação. Por outro lado, o corpo humano está gerando energia o tempo todo, é uma enorme fonte de energia, então porque não colocar o telefone dentro do corpo e ter o aparelho carregado? Outra coisa importante que vai acontecer no futuro está relacionada ao cuidado da saúde. Nos EUA, o custo com a saúde é exacerbado, e é cada vez mais alto. Alguma coisa precisa ser feita para tornar isso mais efetivo e econômico. Então, usar a telefonia móvel para baixar este custo seria um grande benefício. Vamos começar a ver aparelhos embutidos no corpo, que medem todos os tipos de funções, como pressão sanguínea, batimentos cardíacos e temperatura. Quando você estiver doente, ao invés de marcar uma consulta com o médico, enviará o resultado da análise feita pelo celular. O computador fará o diagnóstico com seu médico e você receberá os resultados. A invenção de um telefone embutido no corpo será inevitável.
PERFIL
*Martin Cooper
Formado em engenharia no Instituto de Tecnlogia do Illinois, Martin Cooper, de 80 anos, começou a trabalhar na Motorola em 1954, onde supervisionou as primeiras vendas do celular. Atualmente, é presidente da ArrayComm, empresa que desenvolve "antenas inteligentes".
(Entrevista de Joana Duarte para o JB, segunda-feira, 02/02/2009)
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