MANCHETES COMO A DESTACADA ONTEM na primeira página do JB, sobre a prisão de jovens de classe média envolvidos no tráfico de drogas, vêm se tornando cada vez mais frequentes. Ainda assim, mexem com o cidadão comum, que se pergunta o porquê da opção errada conscientemente escolhida por rapazes (e moças) bem-nascidos e educados nos melhores colégios da cidade. Diante da vida profissional quase garantida somada a um futuro promissor, preferem estes jovens o descaminho das drogas não o do consumo puro e simples (que já seria tortuoso), mas o da traficância e do ganho de dinheiro fácil. O fim da história, conforme se percebe na leitura do noticiário, é a perda da liberdade (quando não, a da própria vida).
Na mais recente operação da Polícia Federal, deflagrada quarta-feira, 300 homens da instituição cumpriram 53 mandados de prisão por todo o país. Só no Rio, foram utilizados 22 agentes e presas 44 pessoas. Além dos números envolvidas ao longo dos 10 meses de investigação, foram apreendidos 112.010 comprimidos de ecstasy, 115.399 micropontos de LSD, 7,2 quilos de cocaína, 22,7 quilos de haxixe e 2.962 frascos de lança-perfume o que mais impressiona é o perfil da quadrilha: jovens de classe média alta, moradores da Zona Sul carioca, com idade média de 26 anos. Agora detidos, terão de responder judicialmente por tráfico de drogas, associação para o tráfico e tráfico internacional, cujas penas, somadas, chegam a 30 anos.
Um triste fim para um grupo de adultos recém-formados que, diante de uma série de possibilidades que a vida lhes descortinava, optou pelo crime como método mais rápido para realizar os sonhos de consumo. Em conversa telefônica gravada pelos investigadores, com autorização judicial, um dos criminosos define a filosofia que norteava a gangue: "Para manter a vida que eu gosto de ter, eu preciso fazer isso". Não precisava. Mas assim o quis.
Já é incômoda a adesão, ao tráfico, de crianças e adolescentes que vivem em morros dominados por quadrilhas. Credita-se esse envolvimento, em grande parte, à mão pesada dos bandidos sobre os jovens das favelas e à ausência de perspectivas. São muitos os casos, portanto, em que não há saída. Não há opção. O mesmo não se pode dizer dos jovens de classe média flagrados esta semana. Se a ganância desmedida e a certeza do lucro fácil falaram mais alto, a ilusão da impunidade gritou ainda mais forte na tomada de decisão de cada integrante da quadrilha. Com milhares de crimes sem castigo prosperando no país, o bando supunha que jamais seria alcançado pela Justiça. Pagou caro pela aposta errada, e, caso a lei seja cumprida à risca, os condenados passarão quase tantos anos na cadeia quanto os que já viveram em liberdade.
Antes do momento crítico, a família deveria ter sido mais presente. Parece cômodo para os pais deixar os filhos saírem quando querem, a hora que querem, com quem querem. Mas o relaxamento dos responsáveis tem um preço. Está sendo criada uma geração que não aceita o "não" como resposta, que não enxerga limites, que não respeita leis, deveres ou mesmo outras pessoas. Há de se quebrar este ciclo, o quanto antes. E a educação doméstica pode ser um bom começo quando se pretende restaurar valores e lições imortais. Trata-se de um motivo adicional para estimular ações complementares em casa, em cada família. Os pais devem acompanhar a conduta dos filhos. O diálogo franco e firme ainda é o melhor antídoto contra a imersão em terrenos indesejáveis.
(Editorial, JB, 13/02/2009) http://ee.jb.com.br/reader/zomm.asp?pg=jornaldobrasil_117676/106504
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