sábado, 1 de janeiro de 2011

Shimon Peres - Entrevista

Presidente de Israel.

Entrevista concedida à Revista 30 DIAS
O senhor esperava que o presidente Obama recebesse o Nobel da Paz? No discurso de aceitação do prêmio, na Casa Branca, Obama falou da guerra “justa”. O senhor acredita que exista uma guerra “justa”?
O pensamento judaico sobre as guerras é muito simples. Se alguém vem para matar você, tenta matá-lo antes que ele o mate. Essa é a posição dos nossos sábios no Talmude babilônico, e eles repetem essa regra quatro vezes em passagens diferentes. Fora esse caso, nenhum de nós tem o direito de matar. Esse é um dos Mandamentos, o sexto [segundo a tradição judaica, ndr]. E na obediência a essa norma não pode haver nenhuma negociação.

Pelo que diz respeito ao Nobel, creio que as pessoas tenham-se perguntando: o prêmio é um reconhecimento por resultados alcançados ou um convite a obtê-los, um encorajamento? Era cedo demais para dizer que Obama já tivesse alcançado alguma coisa, mas o que ele queria alcançar parecia realmente merecedor de apoio. Esse, para mim, é o verdadeiro significado da premiação. E considero também que com seus discursos ele tenha dado uma nova energia à Europa, à comunidade internacional e ao próprio mundo islâmico. Isso também é uma mudança. Assim, creio que tenha merecido o prêmio.

Foi David Bem-Gurion quem disse que “em Israel quem não crê nos milagres não é realista”. Se estivesse vivo hoje, diria a mesma coisa?
Ele afirmou algo muito pragmático, ou seja, que todos os especialistas são o que são graças a algo que já aconteceu. Ninguém é especialista do que poderia acontecer. Assim, a expressão “milagre” significa que podem acontecer coisas que você não pensava que pudessem ocorrer. Isso depende de seus esforços, de sua prontidão a sacrificar-se: essa era a visão dele... Ele era essencialmente um filósofo – um homem com uma vontade forte, com um carisma e uma capacidade de direção excepcionais. É célebre seu pensamento sobre Israel: “Nosso futuro depende de estarmos na posição justa e da nossa força. Mas estar na posição justa vem antes”. Ele queria a paz, a igualdade, investiu muito no estabelecimento de uma relação entre Israel e seus vizinhos árabes: estava pronto a pagar o preço mais alto. Quando as Nações Unidas decidiram pela divisão de Israel, deram-nos um pequeno pedaço de terra que tinha mais fronteiras que espaço. Todos criticaram o fato, mas ele o aceitou.
Eu não o conhecia, li sobre ele, e quando tinha 16 ou 17 anos me convenci do que ele dizia. Ele se levantava contra o comunismo com uma força incrível; diante das tendências de extrema esquerda, ele dizia: “Não precisamos de Karl Marx, nem de Lenin, nem de Trotsky. Nós temos os nossos profetas”. Não queria que nos chamássemos Partido Socialista: “Se tivermos de ter um nome, deveria ser Partido da Bíblia”. Queria retornar aos conceitos fundamentais para os quais os profetas da tradição judaica tinham chamado a atenção, ressaltava o fato de que eles falavam o hebraico, a língua das origens, a língua que realmente importa.
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Reportagem por GIOVANNI CUBEDDU
Fonte: Entrevista completa na Revista 30dias nº10-2010, p.16/22
Foto da Internet

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