Karl Popper, um dos filósofos mais influentes do século passado, apontou para o fato de que, para ser validada, uma teoria científica deve necessariamente ser confrontada, desafiada, falseada. Dizia que, do contrário, a teoria poderia se tornar dogma – e qualquer dogma, para Popper, seria terrível para a ciência. É curioso notar como o raciocínio de Popper vai ao encontro de um texto publicado pelo jornal britânico Guardian sábado passado. A matéria repercute uma pesquisa realizada pela revista eletrônica Edge, que faz, todo ano, uma pergunta para centenas de especialistas de áreas distintas com o objetivo de colher tendências. A pergunta de 2011 é: “Qual conceito científico poderia aprimorar a ferramenta cognitiva de uma pessoa?” Artistas, cientistas e filósofos responderam a questão. Surpreendentemente, muitos deles destacaram a relevância dos erros, incertezas e dúvidas para a ciência e ressaltaram a importância de esses aspectos inerentes ao empreendimento científico serem melhor divulgados ao público não especializado.
A CH On-line procurou cientistas brasileiros para saber o que eles pensam sobre a questão levantada pela Edge e sobre as respostas apuradas pela revista até o momento.
“É realmente fundamental desmistificar o trabalho do cientista. A questão principal é que, ao pesquisar, você lida necessariamente com o desconhecido, então, é claro que há erros e dúvidas, é isso que nos impulsiona”, diz o físico Caio Lewenkopf, da Universidade Federal Fluminense (UFF).
“Existem matérias que são intrinsecamente complexas, como, por exemplo, os modelos utilizados para mensurar as mudanças climáticas. Temos inúmeros indicadores de várias décadas e alguns cientistas divergem sobre essa questão”, completa Lewenkopf.
O físico cita justamente um dos pontos colocados no texto do Guardian: assuntos controversos como mudança climática seriam menos polêmicos na esfera social caso fosse divulgado, com mais clareza, que a natureza da ciência comporta a dúvida.
Osvaldo Frota Jr., físico e doutor em história e filosofia da ciência e membro do Departamento de Letras da Universidade de São Paulo (USP), faz coro. Para ele, mesmo os objetivistas, aqueles que tendem a não relativizar muito a ciência e a enxergam de modo positivista, sabem que a matéria que estudam é feita de dúvida. “Mesmo quem não é um relativista ou, na antropologia e sociologia, pós-moderno, sabe reconhecer que a ciência é calcada em incertezas”, comenta Frota Jr. “
A conversa com um cientista social toca na mesma tecla, embora haja um estranhamento do teor da matéria do Guardian. “Dizer que a ciência é falível, no ponto de vista da filosofia da ciência, é uma trivialidade. Mas não tenho certeza se, de fato, a sociedade acredita que ela é infalível”, afirma Renan Springer de Freitas, sociólogo que estuda temas relacionados à ciência na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Freitas afirma que sua visão de ciência é objetivista. Ou seja, ele acredita que a ciência traz consigo uma verdade. Uma verdade, no entanto, que pode – e deve – ser questionada. “A ciência tem o privilégio do debate, da possibilidade de discordância. Isso, no entanto, não a coloca em xeque. Muito pelo contrário”, defende o sociólogo.
(Ciência Hoje)
Nota: Mas é preciso admitir que existem dogmas científicos blindados. Tente confrontar e desafiar a teoria da macroevolução em sala de aula, por exemplo. Você corre o risco de ser massacrado, mesmo usando bons argumentos científicos. Parafraseando a matéria acima, “assuntos controversos como a teoria da evolução seriam menos polêmicos na esfera social caso fosse divulgado, com mais clareza, que a natureza da ciência comporta a dúvida”. Aliás, como as teorias da macroevolução e da “evolução” da informação genética complexa e específica podem ser falseadas a la Popper? Não podem. Assim como a criação também não pode. Quando o assunto é a mudança climática, acham que faz bem ressaltar a falibilidade dos métodos de aferição (talvez para justificar as “falhas” e poder reafirmar a tese). Deveriam assumir a mesma postura humilde quanto aos aspectos nebulosos da teoria da evolução e permitir a discussão ampla de suas insuficiências. Todos ganhariam com isso, inclusive os cientistas que poderiam ampliar o horizonte de suas pesquisas para além dos limites do naturalismo filosófico engessante.[MB]
A CH On-line procurou cientistas brasileiros para saber o que eles pensam sobre a questão levantada pela Edge e sobre as respostas apuradas pela revista até o momento.
“É realmente fundamental desmistificar o trabalho do cientista. A questão principal é que, ao pesquisar, você lida necessariamente com o desconhecido, então, é claro que há erros e dúvidas, é isso que nos impulsiona”, diz o físico Caio Lewenkopf, da Universidade Federal Fluminense (UFF).
“Existem matérias que são intrinsecamente complexas, como, por exemplo, os modelos utilizados para mensurar as mudanças climáticas. Temos inúmeros indicadores de várias décadas e alguns cientistas divergem sobre essa questão”, completa Lewenkopf.
O físico cita justamente um dos pontos colocados no texto do Guardian: assuntos controversos como mudança climática seriam menos polêmicos na esfera social caso fosse divulgado, com mais clareza, que a natureza da ciência comporta a dúvida.
Osvaldo Frota Jr., físico e doutor em história e filosofia da ciência e membro do Departamento de Letras da Universidade de São Paulo (USP), faz coro. Para ele, mesmo os objetivistas, aqueles que tendem a não relativizar muito a ciência e a enxergam de modo positivista, sabem que a matéria que estudam é feita de dúvida. “Mesmo quem não é um relativista ou, na antropologia e sociologia, pós-moderno, sabe reconhecer que a ciência é calcada em incertezas”, comenta Frota Jr. “
A conversa com um cientista social toca na mesma tecla, embora haja um estranhamento do teor da matéria do Guardian. “Dizer que a ciência é falível, no ponto de vista da filosofia da ciência, é uma trivialidade. Mas não tenho certeza se, de fato, a sociedade acredita que ela é infalível”, afirma Renan Springer de Freitas, sociólogo que estuda temas relacionados à ciência na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Freitas afirma que sua visão de ciência é objetivista. Ou seja, ele acredita que a ciência traz consigo uma verdade. Uma verdade, no entanto, que pode – e deve – ser questionada. “A ciência tem o privilégio do debate, da possibilidade de discordância. Isso, no entanto, não a coloca em xeque. Muito pelo contrário”, defende o sociólogo.
(Ciência Hoje)
Nota: Mas é preciso admitir que existem dogmas científicos blindados. Tente confrontar e desafiar a teoria da macroevolução em sala de aula, por exemplo. Você corre o risco de ser massacrado, mesmo usando bons argumentos científicos. Parafraseando a matéria acima, “assuntos controversos como a teoria da evolução seriam menos polêmicos na esfera social caso fosse divulgado, com mais clareza, que a natureza da ciência comporta a dúvida”. Aliás, como as teorias da macroevolução e da “evolução” da informação genética complexa e específica podem ser falseadas a la Popper? Não podem. Assim como a criação também não pode. Quando o assunto é a mudança climática, acham que faz bem ressaltar a falibilidade dos métodos de aferição (talvez para justificar as “falhas” e poder reafirmar a tese). Deveriam assumir a mesma postura humilde quanto aos aspectos nebulosos da teoria da evolução e permitir a discussão ampla de suas insuficiências. Todos ganhariam com isso, inclusive os cientistas que poderiam ampliar o horizonte de suas pesquisas para além dos limites do naturalismo filosófico engessante.[MB]
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Fonte: http: //www.criacionismo.com.br/2011/01/21
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